Uma imagem religiosa fez duas vizinhas pararem na justiça. Brincadeiras à parte, não foi bem a imagem, claro, que causou a picuinha toda. A culpa toda é da natural intolerância, que vive com a gente diariamente, ocupando espaços que deveriam ser da pluralidade, da democracia. A intolerância, uma praga que dever ser combatida, não eliminada. Assim como a pobreza, querer eliminar todas ou algumas misérias humanas, perdão pela sinceridade, é impossível. E quem fala o contrário, perdão novamente, é um charlatão espiritual ou político.
Só nos resta então tolerar, tolerar os intolerantes mesmo que eles não tolerem a Cristo. Buscando em Cristo, seria dar a outra face.
Eis a manchete da notícia: “Mulher terá que indenizar vizinha por imagem cristã no hall do prédio”, publicada no jornal Brasil Sem Medo. Eis o endereço, para quem quiser ler os detalhes: https://brasilsemmedo.com/mulher-e-condenada-a-indenizar-vizinha-por-deixar-imagem-de-nossa-senhora-exposta/.
Vamos ao caso, às picuinhas de intolerantes e mimados que fazem de nosso dia-a-dia um caos de sentimentalismo e ódio uns pelos outros.
Uma condômina não gostou da atitude de outra moradora, que colocou imagem de Nossa Senhora de Fátima no hall do condomínio. Entrou com ação judicial e a juíza condenou a moradora e o condomínio a pagarem indenização no valor de R$ 8 mil. Segundo o que se lê da notícia, o fundamento para a ação judicial foi que a condômina se sentiu “incomodada”. Segundo ainda a sentença, as regras do condomínio não permitem objetos pessoas em área de uso comum. A defesa da moradora condenada a indenizar, diz que a vizinha “incomodada” queria apenas dinheiro e a juíza ignorou um abaixo assinado com 31 assinaturas dos 32 apartamentos.
Não podemos falar muita coisa sobre o caso, pois não sabemos muita coisa sobre ele, por isso apenas especulamos, refletimos sobre ele. E neste momento em que pensamos, o pensamento vai diretamente para quem? Vai para Cristo, o nosso fim-último de todas as coisas, o modelo a quem devemos imitar sempre.
Aquele que, num caso como esse, sem qualquer vaidade pessoal, aconselharia (ele nunca manda) a tolerar, tolerar e tolerar, também diz que devemos imitá-lo em tudo, inclusive evitando julgamentos precipitados.
Muitas vezes existe, dentro ou fora de nós, alguma coisa que nos atrai e em nós influi. Muitos buscam secretamente a si mesmos em suas ações, e não o percebem. Parecem até gozar de boa paz, enquanto as coisas correm à medida de seus desejos; mas, se de outra sorte sucede, logo se inquietam e entristecem. Da discrepância de pareceres e opiniões freqüentemente nascem discórdias entre amigos e vizinhos, entre religiosos e pessoas piedosas. (Tomás de Kempis, em Imitação de Cristo).
Estamos em pleno regime democrático. Democracia significa pluralidade em vários aspectos, desde vida privada até o falatório público da internet. Tolerância também faz parte da democracia. Tolerar quer dizer aceitar, conviver com as diferenças, sejam elas quais forem. E parece que as coisas práticas não são aquilo que a Constituição prega. A vida como ela é, Nelson Rodrigues, nos ensina que não se muda a natureza, a realidade das coisas, nem a longo prazo. Enfim, tolerar é isso, viver com as diferenças, dificuldades, problemas, crenças alheias.
Não podemos ignorar uma realidade oposta. Existem sim intolerantes religiosos, os chamados “fundamentalistas”. E até no meio cristão. Mas isso não justifica que as ações sociais por mais tolerância e igualdade acabem revolucionando a sociedade, fazendo dela um nada para, com os seus escombros, construir tudo de novo começando do zero. É, infelizmente, o que querem os tais defensores da “tolerância” e da pluralidade democrática, que de pluralistas não têm absolutamente nada. São egoístas arrogantes que só pensam em si, não entendem nada de civilização que deve ser preservada e seus valores, entre os quais o legado cristão.
Não confio num mundo melhor. Por mais que essa turba jacobina (e aqui entra a Agenda 2030) queira transformar a sociedade, isso jamais acontecerá se os próprios “tolerantes” praticarem intolerância. É uma moeda de troca, uma lei natural. Ora, não julgueis para não ser julgado, não sedes intolerantes para não sofreres, na própria carne, com a intolerância alheia.
Por Sergio Renato de Mello, defensor público de Santa Catarina, colunista do Jornal da Cidade Online e Instituto Burke Conservador, autor de obras jurídicas, cristão membro da Igreja Universal do Reino de Deus.
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