Você tem vergonha de ser pentecostal?

Você não precisa escolher entre o fervor espiritual e uma fé intelectual.

Fonte: Guiame, Tiago KiefferAtualizado: terça-feira, 18 de novembro de 2025 às 18:25
(Foto: Pixabay)
(Foto: Pixabay)

Quando eu comecei a estudar teologia, o termo "pentecostal" parecia mais um rótulo imposto do que uma identidade forte.

Nos corredores da academia e em certas leituras que eu fazia, o termo vinha com muitos estereótipos, como o anti-intelectualismo, o emocionalismo e a teologia da prosperidade.

Eu ficava sempre na defensiva, como se precisasse provar que a minha fé não anulava minha capacidade de pensar criticamente. Eu carregava o fardo de ter que me desculpar pela minha própria história espiritual.

Mas chegou um momento em que a chave virou. Deixei de estudar somente a teologia em si e passei a estudar a história do Movimento Pentecostal por meio de suas fontes primárias. Então, a minha percepção mudou.

Fui além dos críticos do movimento e comecei a ler o que os pais do movimento escreviam, para o bem e para o mal.

Eu encontrei algo que deveria ser um marco para a teologia. Nas origens do pentecostalismo, havia muita produção teológica. Somente o movimento pentecostal fez isso a partir de um lugar que reunia pessoas de todas as cores e classes sociais.

Foi na minha tradição, às vezes tratada como meme, que homens como meu avô, que falava "Jesuisi" pode ser usado por Deus. Foi dentro do movimento que inúmeros pastores negros puderam ter espaço.

Também descobri que livros foram escritos, revistas teológicas foram produzidas e que um pensamento robusto e coeso foi construído no meio pentecostal. Era um ambiente social, mas também teológico.

Aos poucos, fui percebendo que a falha não estava na busca pela experiência ou pelo fervor espiritual, que era motivo de deboche de alguns colegas. O problema é que em algum momento nos ensinaram: você precisa escolher entre o fervor e uma fé intelectual.

Alguns de nós aprendemos a teologia esfriaria o crente. A solução que eu encontrei foi nunca deixar a chama do fervor ser apagada para valorizar a razão. Um bom conhecimento alinhado a uma vida devocional é o melhor combustível para acender o fogo espiritual – um fogo que ilumina em vez de cegar.

Hoje, eu tenho uma missão. Não tenho mais vergonha. Compreendo que a caricatura que muitos pintam não representa a riqueza e o potencial do Movimento Pentecostal.

Meu trabalho como teólogo e historiador é ajudar a resgatar a herança pentecostal, rejeitando as distorções e os desvios.

Quero, mesmo que parece ousado demais, equipar uma nova geração para unir o que nunca deveria ter sido separado: um coração que arde de amor por Deus e uma mente que O busca com toda sua força, profundidade e honestidade.

Essa tensão entre a experiência pessoal e a busca por conhecimento é real e, por vezes, solitária. Se você já se sentiu nesse conflito, saiba que não está sozinho. Existe um caminho de integração.

Não deixe de ser pentecostal pela falta de companheiros pentecostais que estudam teologia. O número da resistência tem aumentado. 

 

Tiago Kieffer (@proftiagokieffer) é membro da Assembleia de Deus Matriz em Porto Alegre. Graduado em História pela Universidade La Salle. Mestre em História pela Unisinos. Pós-graduado em História do Cristianismo e do Pensamento Cristão pela Faculdade Batista do Rio de Janeiro. Doutor em Teologia pela Faculdades EST. Professor de História da Igreja, História do Pentecostalismo e Teologia Pentecostal. Já lecionou em instituições como Seminário Teológico de Gramado, Faculdade Batista do Rio de Janeiro (Seminário Batista do Sul), Instituto Bíblico Esperança, entre outros. Esposo da Cássia Kieffer.

* O conteúdo do texto acima é uma colaboração voluntária, de total responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a opinião do Portal Guiame.

Leia o artigo anterior: A defesa da fé é importante, mas será que você conhece a fé que deve defender?

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