Os “pais de pet e de planta” estão por todos os lados. Veganos que chamam de assassinos qualquer pessoa que coma um churrasco no fim de semana têm sido cada vez mais comuns. Quem já não ouviu a frase: “Eu amo mais os animais do que os seres humanos”? Há quem diga, no puro suco da pós-modernidade, que se identifica como um animal (literalmente) — os curiosos therians. Por outro lado, alguns que têm, aparentemente, a cabeça mais no lugar, apenas nutrem um carinho especial pelos animais.
Diante desse cenário “animalesco”, a pergunta que este texto tenta responder — ou pelo menos levantar para reflexão — é: qual a relação sadia e biblicamente correta dos seres humanos com os animais?
Vamos por partes. É preciso, primeiramente, estabelecer algumas coisas.
Em primeiro lugar, os animais, assim como os seres humanos e todo o universo, são parte da criação de Deus. Para ser mais exato, aprendemos no texto de Gênesis, quando a criação é narrada, que, quando os seres humanos foram criados, a terra já estava habitada por animais — sejam eles os que vivem no fundo dos mares, os que voam ou os que rastejam.
Estabelecemos, portanto, que ambos, seres humanos e animais, são criação de Deus. No entanto, apesar de biologicamente também sermos classificados como um tipo de animal, o relato bíblico é claro ao estabelecer uma distinção entre humanos e animais: somente o ser humano foi criado à imagem e semelhança de Deus (Gênesis 1:26).
Dessa forma, ao nos relacionarmos com os animais, precisamos ter em mente que não estamos lidando de igual para igual. No mesmo versículo de Gênesis, é estabelecida uma ordem por parte de Deus, em que o ser humano deveria dominar sobre os peixes, o gado e os répteis, isto é, sobre todos os animais. Quando, portanto, a ordem criacional é pervertida, fazendo com que os animais assumam o controle emocional, temporal e relacional das pessoas, temos um desajuste do que Deus estabeleceu em Sua Palavra.
Outro ponto importante a se considerar é que os animais, apesar de também terem sido afetados pela queda, não possuem juízo moral nem cometem pecados. Sim, Satanás usou uma serpente na história da queda humana, mas seria ingenuidade pensar que havia maldade intrínseca na serpente, especialmente quando a própria Bíblia manda que sejamos prudentes como ela. O que se percebe são animais classificados como puros e impuros dentro de um contexto de dietas alimentares e cerimônias sagradas, mas não há juízo moral intrínseco nos animais. Comparações com falsos mestres, como no caso dos lobos, demonstram muito mais características de seres humanos que agem como predadores do que qualquer maldade nos próprios lobos.
Para exemplos práticos, na história de Abraão e Isaque, Deus substitui o sacrifício de um menino — algo comum na antiguidade — pelo de um animal. Por conta dos pecados dos seres humanos, animais eram sacrificados no templo. Deus, portanto, coloca a salvação humana como mais importante que a vida dos animais.
Por não possuírem juízo moral ou pecado, os animais não são o foco do ponto central da revelação bíblica, isto é, a encarnação de Cristo, Sua vida, morte e ressurreição. Jesus veio à terra para morrer por pessoas, não por animais. É evidente que toda a criação sofre por causa dos nossos pecados. Nossa maldade prejudicou toda a criação, inclusive os animais. Mas o sacrifício foi feito justamente em favor dos vilões da história — nós, os seres humanos.
Deus demonstra, em Sua Palavra, que tem cuidado com os animais, mas ainda mais com os seres humanos. Veja o que diz Mateus 6:26:
"Observai as aves do céu: não semeiam, não colhem, nem ajuntam em celeiros; e vosso Pai celestial as alimenta. Não valeis vós muito mais do que elas?"
Há quem diga que prefere fazer o bem aos animais, pois, diferentemente das pessoas, eles “não fazem mal a ninguém”. Mas essa não é a lógica do Criador. A lógica do Criador é: se Ele cuida até dos animais, cuidará muito mais dos seres humanos.
Logo, quem entendeu que "O justo atenta para a vida dos seus animais, mas o coração dos ímpios é cruel" (Provérbios 12:10), também saberá que:
- “O justo se importa com os direitos dos pobres, mas o ímpio não se interessa por isso" (Provérbios 29:7),
- “Ao justo nasce luz nas trevas; ele é benigno, misericordioso e justo. Bem irá ao homem que se compadece e empresta; disporá as suas coisas com juízo" (Salmo 112:4-5),
- "A religião pura e imaculada para com Deus, o Pai, é esta: visitar os órfãos e as viúvas nas suas tribulações e guardar-se da corrupção do mundo" (Tiago 1:27),
e tantos outros versículos que falam sobre a relação dos humanos para com outros humanos.
Dessa forma, não há pecado algum em ter pets — assim como não há pecado em comer um churrasco no fim de semana ou ter animais para o trabalho. Evidentemente, tudo isso deve excluir qualquer tipo de maus-tratos, pois isso contraria a atitude do justo.
Alguém poderia dizer que o homem que cuida do seu animal não o usa para trabalho nem o abate para alimentação. Isso, porém, contraria a cultura do mundo antigo, onde não era comum ter animais domesticados no sentido atual (como pets), mas sim para alimentação e trabalho.
Por fim, sem a intenção de esgotar o assunto, temos hoje uma nova demanda com a qual a igreja precisa lidar: os therians. A relação que a Bíblia estabelece com os animais é que, com o pecado, passamos a viver como animais, guiados apenas por instintos. Romanos 1 é a prova disso.
Quem nasceu de novo, ao contrário de viver por instintos, vive pela Palavra de Deus, sendo redimido e dignificado — não se tornando um animal, mas uma nova criatura. Maiores reflexões éticas podem ser tratadas em outras publicações.
Em uma cultura onde se mata bebês e se chama pets de filhos, precisamos lembrar de algumas verdades:
seres humanos no ventre são mais importantes que tartarugas.
Tiago Kieffer (@proftiagokieffer) é membro da Assembleia de Deus Matriz em Porto Alegre. Graduado em História pela Universidade La Salle. Mestre em História pela Unisinos. Pós-graduado em História do Cristianismo e do Pensamento Cristão pela Faculdade Batista do Rio de Janeiro. Doutor em Teologia pela Faculdades EST. Professor de História da Igreja, História do Pentecostalismo e Teologia Pentecostal. Já lecionou em instituições como Seminário Teológico de Gramado, Faculdade Batista do Rio de Janeiro (Seminário Batista do Sul), Instituto Bíblico Esperança, entre outros. Esposo da Cássia Kieffer.
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