Tiago Kieffer é membro da Assembleia de Deus Matriz em Porto Alegre. Graduado em História pela Universidade La Salle. Mestre em História pela Unisinos. Pós Graduado em História do Cristianismo e do Pensamento Cristão pela Faculdade Bat

Tiago Kieffer

Os &ldquo;pais de pet e de planta&rdquo; est&atilde;o por todos os lados. Veganos que chamam de assassinos qualquer pessoa que coma um churrasco no fim de semana t&ecirc;m sido cada vez mais comuns. Quem j&aacute; n&atilde;o ouviu a frase: &ldquo;Eu amo mais os animais do que os seres humanos&rdquo;? H&aacute; quem diga, no puro suco da p&oacute;s-modernidade, que se identifica como um animal (literalmente) &mdash; os curiosos therians. Por outro lado, alguns que t&ecirc;m, aparentemente, a cabe&ccedil;a mais no lugar, apenas nutrem um carinho especial pelos animais.
Diante desse cen&aacute;rio &ldquo;animalesco&rdquo;, a pergunta que este texto tenta responder &mdash; ou pelo menos levantar para reflex&atilde;o &mdash; &eacute;: qual a rela&ccedil;&atilde;o sadia e biblicamente correta dos seres humanos com os animais?
Vamos por partes. &Eacute; preciso, primeiramente, estabelecer algumas coisas.
Em primeiro lugar, os animais, assim como os seres humanos e todo o universo, s&atilde;o parte da cria&ccedil;&atilde;o de Deus. Para ser mais exato, aprendemos no texto de G&ecirc;nesis, quando a cria&ccedil;&atilde;o &eacute; narrada, que, quando os seres humanos foram criados, a terra j&aacute; estava habitada por animais &mdash; sejam eles os que vivem no fundo dos mares, os que voam ou os que rastejam.
Estabelecemos, portanto, que ambos, seres humanos e animais, s&atilde;o cria&ccedil;&atilde;o de Deus. No entanto, apesar de biologicamente tamb&eacute;m sermos classificados como um tipo de animal, o relato b&iacute;blico &eacute; claro ao estabelecer uma distin&ccedil;&atilde;o entre humanos e animais: somente o ser humano foi criado &agrave; imagem e semelhan&ccedil;a de Deus (G&ecirc;nesis 1:26).
Dessa forma, ao nos relacionarmos com os animais, precisamos ter em mente que n&atilde;o estamos lidando de igual para igual. No mesmo vers&iacute;culo de G&ecirc;nesis, &eacute; estabelecida uma ordem por parte de Deus, em que o ser humano deveria dominar sobre os peixes, o gado e os r&eacute;pteis, isto &eacute;, sobre todos os animais. Quando, portanto, a ordem criacional &eacute; pervertida, fazendo com que os animais assumam o controle emocional, temporal e relacional das pessoas, temos um desajuste do que Deus estabeleceu em Sua Palavra.
Outro ponto importante a se considerar &eacute; que os animais, apesar de tamb&eacute;m terem sido afetados pela queda, n&atilde;o possuem ju&iacute;zo moral nem cometem pecados. Sim, Satan&aacute;s usou uma serpente na hist&oacute;ria da queda humana, mas seria ingenuidade pensar que havia maldade intr&iacute;nseca na serpente, especialmente quando a pr&oacute;pria B&iacute;blia manda que sejamos prudentes como ela. O que se percebe s&atilde;o animais classificados como puros e impuros dentro de um contexto de dietas alimentares e cerim&ocirc;nias sagradas, mas n&atilde;o h&aacute; ju&iacute;zo moral intr&iacute;nseco nos animais. Compara&ccedil;&otilde;es com falsos mestres, como no caso dos lobos, demonstram muito mais caracter&iacute;sticas de seres humanos que agem como predadores do que qualquer maldade nos pr&oacute;prios lobos.
Para exemplos pr&aacute;ticos, na hist&oacute;ria de Abra&atilde;o e Isaque, Deus substitui o sacrif&iacute;cio de um menino &mdash; algo comum na antiguidade &mdash; pelo de um animal. Por conta dos pecados dos seres humanos, animais eram sacrificados no templo. Deus, portanto, coloca a salva&ccedil;&atilde;o humana como mais importante que a vida dos animais.
Por n&atilde;o possu&iacute;rem ju&iacute;zo moral ou pecado, os animais n&atilde;o s&atilde;o o foco do ponto central da revela&ccedil;&atilde;o b&iacute;blica, isto &eacute;, a encarna&ccedil;&atilde;o de Cristo, Sua vida, morte e ressurrei&ccedil;&atilde;o. Jesus veio &agrave; terra para morrer por pessoas, n&atilde;o por animais. &Eacute; evidente que toda a cria&ccedil;&atilde;o sofre por causa dos nossos pecados. Nossa maldade prejudicou toda a cria&ccedil;&atilde;o, inclusive os animais. Mas o sacrif&iacute;cio foi feito justamente em favor dos vil&otilde;es da hist&oacute;ria &mdash; n&oacute;s, os seres humanos.
Deus demonstra, em Sua Palavra, que tem cuidado com os animais, mas ainda mais com os seres humanos. Veja o que diz Mateus 6:26:
"Observai as aves do c&eacute;u: n&atilde;o semeiam, n&atilde;o colhem, nem ajuntam em celeiros; e vosso Pai celestial as alimenta. N&atilde;o valeis v&oacute;s muito mais do que elas?"
H&aacute; quem diga que prefere fazer o bem aos animais, pois, diferentemente das pessoas, eles &ldquo;n&atilde;o fazem mal a ningu&eacute;m&rdquo;. Mas essa n&atilde;o &eacute; a l&oacute;gica do Criador. A l&oacute;gica do Criador &eacute;: se Ele cuida at&eacute; dos animais, cuidar&aacute; muito mais dos seres humanos.
Logo, quem entendeu que "O justo atenta para a vida dos seus animais, mas o cora&ccedil;&atilde;o dos &iacute;mpios &eacute; cruel" (Prov&eacute;rbios 12:10), tamb&eacute;m saber&aacute; que:
- &ldquo;O justo se importa com os direitos dos pobres, mas o &iacute;mpio n&atilde;o se interessa por isso" (Prov&eacute;rbios 29:7),
- &ldquo;Ao justo nasce luz nas trevas; ele &eacute; benigno, misericordioso e justo. Bem ir&aacute; ao homem que se compadece e empresta; dispor&aacute; as suas coisas com ju&iacute;zo" (Salmo 112:4-5),
- "A religi&atilde;o pura e imaculada para com Deus, o Pai, &eacute; esta: visitar os &oacute;rf&atilde;os e as vi&uacute;vas nas suas tribula&ccedil;&otilde;es e guardar-se da corrup&ccedil;&atilde;o do mundo" (Tiago 1:27),
e tantos outros vers&iacute;culos que falam sobre a rela&ccedil;&atilde;o dos humanos para com outros humanos.
Dessa forma, n&atilde;o h&aacute; pecado algum em ter pets &mdash; assim como n&atilde;o h&aacute; pecado em comer um churrasco no fim de semana ou ter animais para o trabalho. Evidentemente, tudo isso deve excluir qualquer tipo de maus-tratos, pois isso contraria a atitude do justo.
Algu&eacute;m poderia dizer que o homem que cuida do seu animal n&atilde;o o usa para trabalho nem o abate para alimenta&ccedil;&atilde;o. Isso, por&eacute;m, contraria a cultura do mundo antigo, onde n&atilde;o era comum ter animais domesticados no sentido atual (como pets), mas sim para alimenta&ccedil;&atilde;o e trabalho.
Por fim, sem a inten&ccedil;&atilde;o de esgotar o assunto, temos hoje uma nova demanda com a qual a igreja precisa lidar: os therians. A rela&ccedil;&atilde;o que a B&iacute;blia estabelece com os animais &eacute; que, com o pecado, passamos a viver como animais, guiados apenas por instintos. Romanos 1 &eacute; a prova disso.
Quem nasceu de novo, ao contr&aacute;rio de viver por instintos, vive pela Palavra de Deus, sendo redimido e dignificado &mdash; n&atilde;o se tornando um animal, mas uma nova criatura. Maiores reflex&otilde;es &eacute;ticas podem ser tratadas em outras publica&ccedil;&otilde;es.
Em uma cultura onde se mata beb&ecirc;s e se chama pets de filhos, precisamos lembrar de algumas verdades: seres humanos no ventre s&atilde;o mais importantes que tartarugas.
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Tiago Kieffer (@proftiagokieffer) &eacute; membro da Assembleia de Deus Matriz em Porto Alegre. Graduado em Hist&oacute;ria pela Universidade La Salle. Mestre em Hist&oacute;ria pela Unisinos. P&oacute;s-graduado em Hist&oacute;ria do Cristianismo e do Pensamento Crist&atilde;o pela Faculdade Batista do Rio de Janeiro. Doutor em Teologia pela Faculdades EST. Professor de Hist&oacute;ria da Igreja, Hist&oacute;ria do Pentecostalismo e Teologia Pentecostal. J&aacute; lecionou em institui&ccedil;&otilde;es como Semin&aacute;rio Teol&oacute;gico de Gramado, Faculdade Batista do Rio de Janeiro (Semin&aacute;rio Batista do Sul), Instituto B&iacute;blico Esperan&ccedil;a, entre outros. Esposo da&nbsp;C&aacute;ssia&nbsp;Kieffer.
* O conte&uacute;do do texto acima &eacute; uma colabora&ccedil;&atilde;o volunt&aacute;ria, de total responsabilidade do autor e n&atilde;o reflete necessariamente a opini&atilde;o do Portal Guiame.

Tiago Kieffer

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