Em Manipur, na Índia, onde acontece uma explosão de protestos por conta dos conflitos que ocorrem desde maio, entre a comunidade meitei e a tribo kuki, duas cristãs foram abusadas sexualmente e obrigadas a desfilar nuas enquanto eram filmadas.
O caso é tratado como sequestro, estupro coletivo e homicídio, já que o pai e o irmão de uma delas foram mortos ao tentar protegê-las.
As imagens das mulheres sendo humilhadas ganharam repercussão nacional gerando revolta na Índia. No vídeo de 26 segundos, que foi gravado em maio, mas que só viralizou agora, as duas aparecem cercadas por um grupo de homens violentos que seguram pedaços de madeira nas mãos.
As cristãs foram arrastadas para um terreno descampado, chorando e tentando se cobrir: “Fomos forçadas a nos despir e a desfilar ou então eles teriam nos matado”, explicaram a um grupo de ativistas que prestam socorro às vítimas.
Welcome to India 🇮🇳 It's not just Muslims that feel the effects of Hindutva brutality but it affects all minorities including Christians. These Christian women were snatched from police custody, paraded naked, and gang raped by the Hindutva mob. Thier homes burnt and men killed. pic.twitter.com/oQEkCmn0WL
— muslim daily (@muslimdaily_) July 20, 2023
‘Os culpados não serão poupados’
De acordo com notícias do DW, na quinta-feira (20), a Suprema Corte da Índia e o primeiro-ministro Narendra Modi condenaram os crimes, chamando-os de “profundamente preocupantes e vergonhosos”.
As palavras de Modi, no entanto, vieram após meses de silêncio. Em uma recente visita à França para as comemorações do dia nacional, o Parlamento Europeu instou Modi a proteger as minorias da Índia e tomar medidas para conter a violência em Manipur.
Depois de ser pressionado, Modi se pronunciou: “Os culpados não serão poupados. O que aconteceu com as ‘filhas de Manipur’ nunca pode ser perdoado”, disse aos repórteres.
Sem se referir diretamente à violência, ele pediu aos chefes dos governos estaduais que garantam a segurança das mulheres e disse que o incidente era “vergonhoso para qualquer nação civilizada”.
“Meu coração está cheio de dor e raiva”, ele acrescentou.
O incidente ocorreu um dia depois de confrontos violentos entre a maioria hindu meitei e a minoria cristã kuki-zo, duas comunidades na região de Manipur lideradas pelo partido nacionalista hindu Bharatiya Janata.
Depoimento de uma das vítimas
Notícias do The Telegraph especificam que a jovem de 21 anos relatou ter sido vítima de um estupro coletivo, enquanto a de 42 anos disse ter sido molestada e agredida pelos homens.
A denúncia diz que a multidão de até 1.000 homens, alguns dos quais armados, sequestrou três mulheres no total.
A vítima de 21 anos disse à mídia local: “A polícia estava lá com a multidão que estava atacando nossa aldeia. Alguns policiais nos pegaram perto de casa e nos levaram um pouco para longe da aldeia. Depois eles nos deixaram na estrada com a multidão. Nós fomos entregues a eles pela polícia”.
Violência contra cristãos em Manipur
A violência étnica e religiosa no estado do nordeste já matou pelo menos 120 pessoas, a maioria kuki. Os partidos da oposição já acusaram Modi de optar por permanecer em silêncio sobre a violência.
Em um relatório ao tribunal em junho, o grupo da sociedade civil Manipur Tribal Forum (MTF) destacou quantos atos horríveis de violência, incluindo estupro e decapitação, não foram investigados pelas autoridades estaduais.
No caso do estupro das cristãs, a polícia prendeu um homem meitei, de 32 anos, Khuirem Herodas, acusado pelo crime. O ministro-chefe de Manipur, N. Biren Singh, que também é um meitei, promete uma investigação completa e ação rigorosa contra todos os perpetradores, com a possibilidade de pena capital sendo considerada.
A DW informou ainda que as mulheres locais atiraram pedras e queimaram algumas partes da casa do principal acusado. “Pedimos às mulheres que protestem pacificamente, pois há um intenso mal-estar. Entendemos sua raiva”, tentou apaziguar Singh.
“Garantiremos que ações rigorosas sejam tomadas contra todos os perpetradores, inclusive considerando a possibilidade de pena de morte”, concluiu.