Guerra civil e perseguição religiosa afligem 2 milhões de cristãos no Sudão

Com 90% da população muçulmana, Sudão tem sido governado por regime que restringe severamente a liberdade religiosa e persegue minorias.

Fonte: Guiame, com informações da Associação Evangélica em África e PremierAtualizado: quinta-feira, 27 de novembro de 2025 às 17:18
Cristão sudanês em oração. (Foto: Portas Abertas)
Cristão sudanês em oração. (Foto: Portas Abertas)

A guerra civil no Sudão já tirou a vida de cerca de 150 mil pessoas e forçou metade da população a deixar suas casas, mas continua praticamente ignorada pela mídia internacional.

A face mais brutal da violência ficou evidente nas últimas semanas, quando El Fasher foi tomada por uma das facções após 18 meses de cerco.

Imagens de satélite revelaram pilhas de corpos espalhados pela cidade e os restos de prédios incendiados.

Rafat Samir, presidente do Conselho da Comunidade Evangélica Sudanesa, detalha o impacto sobre os 2 milhões de cristãos do país e indica como os crentes ao redor do mundo podem interceder em oração.

Samir descreveu o Sudão como um país que já foi reconhecido como o maior da África, caracterizado por uma rica diversidade cultural e étnica, com múltiplas línguas, tradições e tons de pele.

No entanto, destacou que décadas de rígido domínio islâmico acabaram por sufocar essa diversidade e impor severas restrições à liberdade religiosa, especialmente para os cristãos.

Silêncio da mídia internacional

Enquanto outros conflitos dominam os holofotes da mídia internacional, a devastadora guerra civil no Sudão segue quase esquecida.

Em meio a uma crise que ameaça milhões de vidas, surge um apelo urgente à comunidade internacional e aos cristãos: levantar oração, demonstrar solidariedade e exercer pressão por paz.

Um campo de refugiados nas montanhas Nuba, Sudão. (Foto: Portas Abertas)

Desde abril de 2023, o confronto entre as Forças Armadas do Sudão (SAF) e a milícia paramilitar Rapid Support Forces (RSF mergulhou o país em uma crise humanitária sem precedentes.

A RSF integra a força de segurança criada pelo ex-presidente Omar al-Bashir, deposto em 2019. Ela é remanescente da milícia Janjaweed, um grupo paramilitar que atuou em Darfur e foi acusado de cometer genocídio.

Agora, os dois grupos armados e seus respectivos generais travam uma disputa pelo poder. Ambos são fortemente islâmicos e almejam governar o país para controlar sua riqueza mineral.

O líder de um grupo disse que poderia apertar a mão do diabo. Em outras palavras, qualquer um dos lados fará qualquer coisa para promover o Islã e a lei islâmica Sharia. Isso explica em parte por que a luta tem sido tão brutal.

Maior deslocamento global

Os combatentes de ambos os lados avançam pelo país como gafanhotos, deixando destruição por onde passam.

“A morte está em toda parte. Enterrei corpos diante da minha porta, e há sangue espalhado por todos os cantos”, diz um sobrevivente.

O Sudão tem o maior deslocamento interno do mundo atualmente. (Foto: Portas Abertas)

Mais de 15 milhões de pessoas já foram obrigadas a abandonar seus lares, produzindo o maior deslocamento interno do mundo atualmente.

Cerca de 6 milhões fugiram do país. A maioria agora vive com ajuda. Não têm onde viver e não têm emprego. Os combates destruíram o país.

Um depoimento diz: “A vida tem sido indescritível para civis como eu. Levaram-me a casa, o meu carro, o meu trabalho, o meu dinheiro. Agora não tenho nada.”

O impacto vai muito além da perda de moradia: o conflito interrompeu a produção agrícola pelo segundo ciclo consecutivo, desencadeando uma fome generalizada.

Especialistas alertam que centenas de milhares de pessoas podem morrer de inanição se a ajuda urgente não chegar a tempo.

Comunidades cristãs sob fogo cruzado

Os cristãos representam cerca de seis por cento da população do Sudão, mas é difícil saber o número exato.

“Eu nasci em uma família cristã, mas em meus documentos oficiais, fui registrado como muçulmano. O governo quer tornar toda a população muçulmana”, diz o entrevistado

Para ele, se os islâmicos tiverem sucesso, a vida dos cristãos será pior do que nunca.

“Mas ainda acreditamos que Deus nos colocou aqui por uma razão. Temos algo para fazer. Sabemos que Deus transformará essa maldição em uma bênção final para a nossa nação.”

País muçulmano, Sudão tem cerca de 2 milhões de cristãos. (Foto: Portas Abertas)

Para a Igreja sudanesa, historicamente fragilizada, o cenário é ainda mais dramático. A milícia RSF tem ocupado templos, transformando igrejas em quartéis improvisados e expondo cristãos ao risco de bombardeios das forças da SAF.

Organizações como a Christian Solidarity Worldwide (CSW) e a Portas Abertas alertam que as comunidades cristãs enfrentam perseguição sistemática, incluindo violência, prisões arbitrárias, restrições ao culto e às conversões, além de discriminação no acesso à ajuda humanitária.

Em um incidente recente, um pastor presbiteriano e quatro membros foram detidos em Cartum Norte durante um funeral, sob acusação de “ilegalidade”. Muitos temem que isso sinalize uma onda mais ampla de perseguição religiosa.

Apesar da dimensão da tragédia, que inclui deslocamento em massa, fome, destruição de igrejas e violações de direitos humanos, a guerra no Sudão segue fora dos holofotes da mídia global e das prioridades diplomáticas. Para muitos, o país tornou-se “a crise esquecida”.

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