O regime socialista da Nicarágua sentenciou 11 líderes cristãos a penas de 12 a 15 anos de prisão, além de impor multas totalizando US$ 880 milhões, por terem organizado encontros de oração em locais públicos. Eles também foram proibidos de fazer contato com seus familiares e advogados.
Os católicos nicaraguenses têm sido alvos de perseguição por Daniel Ortega, presidente do país e um dos líderes da Frente Sandinista de Libertação Nacional, um grupo guerrilheiro de esquerda que assumiu o controle em 1979, acumulando mais de três décadas no poder. Sua esposa, Rosario Murillo, ocupa o cargo de vice-presidente da Nicarágua.
A sentença, divulgada em 19 de março, foi atribuída a "falsas acusações de lavagem de dinheiro", de acordo com uma declaração da ADF International, uma organização que se dedica à defesa judicial da liberdade religiosa e que assumiu a defesa dos 11 cidadãos nicaraguenses. Este caso já foi levado à Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH).
A ADF International pediu à CIDH garantias de que a Nicarágua proteja a saúde, a vida e a integridade dos 11 acusados durante o curso do processo.
Evangelistas e pastores
Os 11 acusados, que deverão pagar US$ 80 milhões cada, são um casal, um evangelista e oito pastores ligados ao grupo Mountain Gateway (Porta da Montanha), fundado no Texas (EUA) e que atua na Nicarágua desde 2015, com a permissão do regime do país.
Um deles é um homem que mora em uma casa de pau-a-pique, sem eletricidade e que cozinha a sua comida com lenha.
Quatro senadores dos EUA, os republicanos Rick Scott, Ted Cruz, Katie Britt e Tommy Tuberville, solicitaram ao governo Biden para "implementar sanções fortes e específicas depois das repetidas e crescentes violações da liberdade religiosa na Nicarágua”.
O congressista Robert Aderholt, também republicano, redigiu uma carta ao embaixador da Nicarágua nos EUA, assinada por 58 parlamentares, na qual expressam:
"Foi a perseguição religiosa que resultou em sua detenção, e são as flagrantes violações dos direitos humanos que os mantêm encarcerados; esses pastores devem ser libertados imediatamente".
Governo versus Mountain Gateway
Em 2023, com o apoio do governo da Nicarágua, a Mountain Gateway realizou oito grandes "campanhas evangelísticas" conhecidas como "Cruzadas de Boas Novas Nicarágua 2023", atraindo milhares de pessoas.
A última ocorreu em 11 de novembro de 2023, em Manágua, com a participação de mais de 170 mil pessoas, enquanto outras dez estavam planejadas para 2024.
Kristina Hjelkrem, assessora jurídica da ADF Internacional encarregada do caso, informou à ACI Prensa que foi em 11 de novembro que começou "a perseguição", seguida pelo cancelamento do estatuto jurídico e pelo confisco de quase 5 milhões de dólares em propriedades e bens da organização.
A perseguição teve fim entre 18 e 20 de dezembro, quando os 11 líderes acusados de lavagem de dinheiro foram detidos e presos.
A especialista em direito internacional expressou surpresa pelo fato de as campanhas do grupo cristão terem sido realizadas em coordenação com o regime, o que "lhes deu a oportunidade de pregar ao ar livre em eventos massivos, algo que já não era permitido à Igreja Católica".
Depois de mencionar que o governo da Nicarágua fechou entre 200 e 300 igrejas protestantes, Hjelkrem informou que esses eventos se tornaram um ponto de encontro para aqueles que desejavam orar em espaços públicos, pois "as pessoas não tinham para onde ir".
Mobilizações
Ela acrescentou que esses eventos mobilizaram "tantas pessoas que o governo foi colocado em alerta e decidiu encerrar o Mountain Gateway porque o viu como um movimento social, embora saibamos que ele é profundamente religioso e exclusivamente religioso".
Esses eventos, acrescentou ela, mobilizaram "tantas pessoas que o governo foi colocado em alerta e decidiu acabar com o Mountain Gateway porque o viu como um movimento social, embora saibamos que ele é profundamente religioso e apenas religioso".
Jon Britton Hancock, fundador e presidente da Mountain Gateway, disse à ACI Prensa que os eventos foram “puramente religiosos. Não temos motivação política nem estamos envolvidos em política, nem na Nicarágua nem em nenhum dos países onde trabalhamos.”
“O que acreditamos sobre o nosso trabalho é que não somos embaixadores de nenhum país, mas sim embaixadores do Reino dos Céus e é por isso que nos preocupamos com o bem de todas as pessoas”, disse.
A advogada da ADF Internacional também declarou que o governo da Nicarágua “não gosta que alguém tenha essa capacidade de movimentar as pessoas, não gosta de nenhum tipo de liderança”.
Sobre a acusação de lavagem de dinheiro, Hjelkrem disse que o regime de Ortega “tinha pessoas que vinham auditar as contas todos os meses. Não houve um único dólar que veio dos seus doadores nos EUA, e que entrou na Nicarágua, que não fosse explicado em documentos oficiais”.
A perseguição aos cristãos na Nicarágua
Em 17 de janeiro de 2024, a Mountain Gateway foi informada de que o procurador-geral da Nicarágua estava avançando com a apresentação de acusações contra três cidadãos norte-americanos associados à organização cristã, alegando lavagem de dinheiro e crime organizado, uma acusação que o grupo nega veementemente.
Os acusados são Jon Britton Hancock, seu filho Jacob e sua nora Kathy. Eles não podem deixar os EUA porque a Nicarágua emitiu um alerta à Interpol, solicitando sua extradição caso sejam encontrados em qualquer um dos países onde o aviso foi recebido.
“Temos emoções diferentes: estamos tristes, chateados e muito preocupados com o nosso povo na prisão, com a falta de liberdade. Esta situação é terrível”, disse Britton à ACI Prensa.
Após comentar que está em Washington D.C. em busca de ajuda e de alguma forma de solução diplomática, o fundador da Mountain Gateway condenou a perseguição religiosa na Nicarágua, incluindo também a dirigida contra a Igreja.
"É horrível! Acho que a perseguição governamental a qualquer grupo não é boa. Vimos o governo perseguir os católicos e os seus padres; também aos pastores evangélicos. Não está certo e condenamos isso enfaticamente”, disse o líder cristão.