De acordo com um estudo recente do Programa Mundial de Alimentos (WFP, na sigla em inglês), o número de pessoas que enfrentam insegurança alimentar aguda em todo o mundo mais que dobrou desde 2019 — são 345 milhões de pessoas (em 82 países).
Antes da pandemia, esse número era de 135 milhões (em 53 países), conforme Corinne Fleischer, diretora regional da WFP. Ela prevê ainda que esse número continue subindo ao longo do ano, conforme explicou à Reuters.
Os fatores que contribuem para essa catástrofe não se limitam, porém, à pandemia. A pesquisa aponta também para a guerra na Ucrânia que gerou crises de distribuição de grãos, alta no petróleo e as mudanças climáticas.
“O mundo simplesmente não pode permitir isso”
Ao citar os motivos responsáveis por acelerar a fome em todo o mundo, Corinne relacionou também o alto crescimento de deslocamentos. “Vemos agora dez vezes mais deslocamentos em todo o mundo por causa das mudanças climáticas e dos conflitos e, claro, eles estão interligados”, explicou.
“Então, estamos realmente preocupados com o efeito agravante do Covid, das mudanças climáticas e da guerra na Ucrânia. O mundo simplesmente não pode permitir isso”, disse com preocupação.
Aumento de custos e falta de recursos
Conforme notícias do G1, para países exportadores de petróleo como o Iraque, que se beneficiaram do aumento dos preços do petróleo após o início da guerra na Ucrânia, a segurança alimentar está em risco.
O Iraque precisa de cerca de 5,2 milhões de toneladas de trigo, mas produziu apenas 2,3 milhões. O restante dependia das importações, mas elas ficaram muito caras. Secas severas e crises recorrentes de água estão colocando em risco a subsistência de pequenos proprietários em todo o Iraque.
No Oriente Médio e no norte da África, o impacto da crise na Ucrânia teve repercussões massivas, disse Corinne, destacando tanto a dependência de importação da região quanto sua proximidade com o Mar Negro.
“O Iêmen importa 90% de suas necessidades alimentares. E eles tiraram cerca de 30% do Mar Negro”, ela explicou ao citar que o WFP apoia 13 milhões dos 16 milhões de pessoas que precisam de assistência alimentar, mas essa assistência cobre apenas metade das necessidades diárias de uma pessoa por falta de fundos.
Os custos aumentaram em média 45% desde que a Covid-19 e os doadores ocidentais enfrentaram enormes desafios econômicos com a guerra na Ucrânia. Na Nigéria, o custo da farinha de trigo subiu 200% e o custo do açúcar disparou 150%. Esses são só alguns exemplos.
Extrema falta de alimentos
Conforme a Portas Abertas, só na Somália e no Sudão, mais de um quarto de milhão de pessoas enfrentam o que as Nações Unidas classificam como uma “extrema falta de alimentos”.
Com a inflação em alta de todos os tempos, o Sri Lanka está enfrentando um nível de fome de 30% em todo o país. Em Burkina Faso, o extremismo islâmico deslocou milhões, levando à falta de agricultura e recursos.
Na Coreia do Norte, o Covid e a fome dispararam o custo do arroz, onde duas libras agora equivalem a um mês inteiro de salário. Conforme a organização, a situação é terrível para todos, mas vale ressaltar que os cristãos são os primeiros a serem atingidos.
‘Os cristãos são os últimos a receber comida’
Em países onde há perseguição religiosa, vale lembrar que a escassez de alimentos chega primeiro na mesa dos cristãos. “Onde a perseguição é alta, os crentes são marginalizados. Quando o alimento é distribuído, os cristãos geralmente são os últimos a recebê-lo”, explicou a Portas Abertas.
Além disso, milhões de crentes deslocados não podem pagar a pouca comida que existe. “O que é mais doloroso, a fé muitas vezes fica em segundo plano quando a comida é escassa”, disse a organização.
“Os crentes perseguidos não podem se encontrar, evangelizar, adorar ou servir uns aos outros se estiverem muito fracos e famintos. Neste momento, é a comida em primeiro lugar”, disse um colaborador da Open Doors em Burkina Faso.
Existe alguma solução?
Existe esperança para alguns, enquanto a Igreja trabalha para oferecer segurança, abrigo, alimentação e apoio médico. Isso acontece em várias regiões.
“Muitos estão desesperados, especialmente agora com a crise econômica e a falta de luz no fim do túnel, mas nossos esforços aumentaram a resiliência dos cristãos”, disse um parceiro da Portas Abertas que supervisiona o trabalho no Oriente Médio e na África. “Continuamos sendo uma Igreja e uma família”, continuou.
“Apesar de todas as dificuldades que podemos enfrentar, nos apegamos ao Senhor”, disse um cristão perseguido.
Em pregação recente, o pastor Lamartine Posella fez uma observação sobre os tempos de crise que a humanidade está vivendo. Ao falar sobre o fim dos tempos, ele mostra que as profecias estão sendo cumpridas: “A Igreja precisa se preparar”.
Sobre a recente crise alimentar, há uma relação com a profecia do cavalo preto (Ap 6.5), que representa a fome sobre a Terra. O pastor lembra sobre a destruição de colheitas e o alto preço dos alimentos citado na profecia: “Uma medida de trigo por um denário”.
“Haverá um colapso da economia, escassez de alimentos, inflação, fome”, lembrou ao destacar que, mesmo em meio a tudo isso, "o papel da Igreja é falar que Jesus é o Senhor e Salvador. A Igreja está aqui para fazer essa obra”, concluiu Lamartine.