“O Jesus que não exige mudança é o que mais está sendo pregado hoje”, alerta autor

Em entrevista ao Guiame, o teólogo e pastor Matheus Alves falou sobre os falsos filtros que distorcem a imagem de Jesus no meio cristão hoje.

Fonte: Guiame, Cássia KiefferAtualizado: quarta-feira, 7 de maio de 2025 às 19:27
Matheus Alves. (Foto: Guiame).
Matheus Alves. (Foto: Guiame).

O teólogo Matheus Alves, pastor da Igreja Batista da Lagoinha em Belo Horizonte, está alertando sobre os perigos dos filtros que têm distorcido a imagem de Jesus no meio cristão no Brasil.

Em seu novo livro “Jesus sem filtro: Desmascarando as bobagens que dizem por aí sobre o Filho de Deus”, Matheus aborda como o Evangelho tem sido distorcido nos dias atuais.

Em entrevista ao Guiame, o autor falou como a Igreja brasileira pode combater os falsos ensinos a respeito de Cristo.

 “O Evangelho tem sido pregado pela metade. O Jesus das Escrituras é graça, é amor, é o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo, mas também é o justo juiz, o Leão da tribo de Judá. O Jesus que as Escrituras apontam não é apenas o Jesus que perdoa pecados, mas é também o que exige santidade”, destacou Matheus.

“Jesus que não exige mudança é o que está sendo pregado”

Para o pastor, o principal filtro que precisa ser tirado da imagem de Cristo é o “Jesus de boa” e liberal.

“É o Jesus que não condena, que não exige santidade. O Jesus que não colocou regras em seus ensinamentos, que não exige transformação de vida”, explicou.

“O Jesus que não exige mudança é o que mais está sendo pregado hoje. Esse filtro precisa ser retirado. Vida cristã é transformação e mudança. Paulo dizia: ‘Aquele que peca, não peque mais. Aquele que roubava, não roube mais. Aquele que mentia, não minta mais’”, enfatizou.

O “Jesus influencer”

O autor disse que há também o “Jesus Influencer”, que está interessado apenas em conquistar seguidores, sem se preocupar com a transformação das pessoas.

“Esse é um filtro a ser removido, porque Jesus não está preocupado com números, mas com seguidores transformados. Ele quer discípulos transformados”, comentou Matheus.

“O filtro do Jesus que procura ser aclamado e aceito o tempo todo não é verdadeiro. Jesus aceita todo mundo, mas para ser discípulo tem que ser do jeito dEle. Ele aceita todos, mas não aceita tudo”.

O teólogo lembrou que Cristo nunca mudou sua mensagem para agradar o público, como na passagem bíblica de João 6.

“Quando Jesus pregou um sermão difícil e a multidão foi embora, Ele não mudou a pregação. Ele virou para os discípulos e disse: ‘Vocês também não querem ir?’ E Pedro respondeu: ‘Para quem iremos nós? Só tu tens as palavras de vida eterna’”, disse.

Números não refletem verdadeiras conversões

Ele lamentou que muitas igrejas no país usam a quantidade de membros e batismos como um indicativo de que a denominação está prosperando espiritualmente.

“Mas será que esses números refletem uma pregação genuína? Será que, passando pelo crivo do novo nascimento, essas pessoas realmente nasceram de novo? Houve conversão? Jesus está preocupado com convertidos, não apenas convencidos”, refletiu.

Outro falso filtro citado pelo autor é o “Jesus, destruidor de igreja e religião”, seguido por pessoas que acreditam que o Senhor não se importa com o hábito de congregar.

“Há quem ache que a Igreja está completamente corrompida. Eu acredito que há corrupção sim, mas não completamente. Existem falsos pastores e mestres, mas também há verdadeiros.  Ainda assim, há pessoas que se tornaram completamente avessas à igreja institucional por causa dos maus exemplos. Tudo o que é organizacional causa repulsa”, observou.

E continuou: “A Bíblia é clara: congregar continua sendo bíblico. O que significa ser Igreja? Significa estar juntos. Comunhão, partir do pão, doutrina dos apóstolos, isso é Atos 2. Jesus declarou em Mateus 16 que edificaria a sua Igreja sobre a pedra angular — Ele mesmo. Então, é claro que Ele se importa com a congregação. Ele quer que estejamos juntos, unidos em comunhão”.

A religiosidade nos faz obedecer para obter recompensas

Matheus ainda mencionou o “Jesus religioso”, onde Cristo é apenas um exemplo moral a ser seguido. Ele revelou que este foi o filtro que precisou remover de sua própria caminhada de fé.

“Eu vim de um berço cristão, eu frequentei igreja minha vida inteira. Mas eu era um ímpio religioso. Eu estava na igreja, mas não conhecia a Cristo verdadeiramente. Só nasci de novo em 2014. Foi quando saí da prática do pecado”, contou.

Segundo o pastor, essa imagem deturpada de Jesus faz com que muitos cristãos foquem mais nas suas próprias boas obras do que na obra redentora de Cristo.

“Achamos que precisamos fazer e cumprir, mas fazemos com a motivação errada, com o objetivo de obter alguma bênção. A religiosidade nos faz obedecer para obter recompensas, não por amor”, afirmou.

“Quando entendemos quem é Jesus de verdade, a gente tira esse filtro do legalismo, e encontramos um Jesus que não é só um exemplo, mas o nosso Senhor. Jesus não é só um bom exemplo ou um homem que veio à Terra para dar lições de moral. Ele é o Deus Todo-Poderoso, o Alfa e o Ômega, o Princípio e o Fim. Somos propriedade dEle”.

Geração que não conhecer o Jesus verdadeiro

De acordo com Matheus, há o risco de termos uma geração que nunca conheceu o verdadeiro Jesus, já que muitas igrejas não pregam a necessidade de arrependimento.

“O Evangelho está se diluindo com a modernização das igrejas. Ele não tem sido pregado como deveria. Vemos cultos cheios, pessoas indo à frente para aceitar Jesus entre aspas. Mas qual é o apelo? ‘Venha para Jesus que sua vida vai mudar’, ‘Venha que Ele vai abrir portas para você’. Isso não é apelo”, relatou.

“Hoje, o Evangelho atrai muitos, mas atrai interesseiros. Pessoas doentes querendo cura, desempregados querendo emprego, solteiros querendo casamento. A verdadeira mensagem é: você é pecador, está indo para o inferno, e só há uma saída: Jesus Cristo”, defendeu ele.

“Inchaço” evangélico

O crescimento dos evangélicos no Brasil não está ocorrendo de forma saudável, conforme Matheus.

“A massa está crescendo, mas com fermento ruim. A Igreja brasileira não está crescendo — está inchando. E isso é um perigo. Inchar nem sempre significa crescimento saudável”, pontuou.

O teólogo criticou as igrejas que se tornaram um centro de entretenimento e que não promovem o ensino das Escrituras com estudo bíblico e escola dominical.

“O domingo, que poderia ser o momento de doutrinar a igreja, acaba sendo preenchido com mensagens motivacionais. Parece que alguns pastores não querem que a igreja seja doutrinada. Eles querem que a igreja sobreviva na próxima semana. O pensamento é: ‘Deixa eu dar uma pílula pra essa pessoa aguentar mais uma semana e voltar no domingo que vem’. Mas não é assim. A igreja precisa ser doutrinada”, comentou.

Crescimento saudável

Citando o exemplo da Igreja primitiva, Matheus afirmou que é possível uma igreja crescer em número e profundidade.

“A Igreja de Atos, mesmo não sendo perfeita, é um modelo. Ela crescia de 120 para 3 mil, de 3 mil para 5 mil. O que a Igreja precisa fazer para rever isso? Precisa voltar a priorizar o estudo da Palavra. Se não valorizarmos a pregação do Evangelho e o estudo das Escrituras, continuaremos com igrejas superficiais”, analisou ele.

O discipulado também é uma ferramenta para o crescimento saudável e para que novos convertidos conheçam o Jesus verdadeiro. 

“Muitas pessoas vão à igreja, mas não são discipuladas, não são acompanhadas. Algumas porque não querem. Mas outras, porque realmente falta essa visão na igreja”, disse Matheus.

“Precisamos de encontros semanais fora do culto de domingo. Precisamos nos importar com cada pessoa que está sentada na nossa igreja. Em muitas igrejas há células, pequenos grupos, onde há cuidado mútuo. Discipulado é se reunir com o intuito de aprender a Palavra e colocar em prática os ensinamentos. Caso contrário, vira só um grupo social”, concluiu o pastor.

Mais do Guiame

O Guiame utiliza cookies e outras tecnologias semelhantes para melhorar a sua experiência acordo com a nossa Politica de privacidade e, ao continuar navegando você concorda com essas condições