O Canadá anunciou sua intenção de reconhecer oficialmente o Estado da Palestina em setembro, alinhando-se à França e ao Reino Unido em meio ao crescente clamor internacional por uma resposta à crise humanitária em Gaza.
A decisão, segundo a CNN, contribui para o crescente isolamento dos EUA em relação a aliados históricos, diante de divergências sobre o posicionamento de Israel e a condução da sua campanha militar.
O presidente Donald Trump criticou duramente a decisão do Canadá, ameaçando atrapalhar as negociações comerciais em andamento com Ottawa.
Na quarta-feira, o primeiro-ministro canadense, Mark Carney, anunciou que o Canadá está "há muito tempo comprometido com uma solução de dois Estados", enfatizando o apoio à criação de um Estado palestino independente "vivendo lado a lado com o Estado de Israel em paz e segurança".
A decisão segue anúncios similares da França, que planeja reconhecer o Estado palestino em setembro, e do Reino Unido, que condicionou esse reconhecimento ao cumprimento de exigências por parte de Israel, incluindo a aceitação de um cessar-fogo em Gaza.
“O Canadá pretende reconhecer o Estado da Palestina na 80ª Assembleia Geral das Nações Unidas”, disse Carney a repórteres, acompanhado pela ministra das Relações Exteriores, Anita Anand.
“Pretendemos fazê-lo porque a Autoridade Palestina se comprometeu a liderar uma reforma tão necessária.”
Negociações comerciais
Na quinta-feira, Trump sinalizou a possibilidade de suspender negociações comerciais com o Canadá, em reação aos planos canadenses de reconhecer oficialmente o Estado palestino.
“Uau! O Canadá acaba de anunciar que apoia a criação de um Estado para a Palestina. Isso tornará muito difícil para nós fecharmos um acordo comercial com eles. Ah, Canadá!!!”, escreveu ele no Truth Social.
As declarações de Trump coincidem com um período crítico nas negociações comerciais entre Canadá e EUA, marcado pela iminente aplicação de um aumento de 35% nas tarifas sobre produtos canadenses, caso os dois países não alcancem um consenso até a próxima quinta-feira, dia 1º de agosto.
Esta é apenas a mais recente escalada em uma dramática guerra comercial intermitente com o parceiro comercial mais próximo dos EUA.
A França recebeu positivamente o anúncio do Canadá, com o Palácio do Eliseu ressaltando que o presidente Emmanuel Macron já abordou o tema em conversas com Mark Carney e espera "trabalhar juntos".
“Continuaremos nossos esforços para encorajar outros a se juntarem a esse movimento na preparação para a Assembleia Geral em setembro”, acrescentou o governo francês em um comunicado.
Conflito em Gaza
Durante o anúncio Carney acrescentou que Mahmoud Abbas, presidente da Autoridade Palestina, assegurou que o governo palestino realizará em 2026 as eleições anteriormente postergadas, com a garantia de que o Hamas "não participará".
“(Abbas) também se comprometeu a não militarizar o estado da Palestina”, acrescentou Carney.
Esse anúncio ocorre em meio à intensificação do foco internacional sobre o conflito em Gaza, agravado pela crise de fome. Segundo Israel, a ajuda humanitária esteve impedida porque o Hamas desvia os alimentos em vez de permitir a distribuição para a população.
“O Canadá sempre apoiará firmemente a existência de Israel como um Estado independente no Oriente Médio, vivendo em paz e segurança”, disse Carney. “Qualquer caminho para uma paz duradoura para Israel também requer um Estado palestino viável e estável, que reconheça o direito inalienável de Israel à segurança.”
O pronunciamento de Carney ocorreu após sua conversa com o primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, sobre a situação em Gaza, diálogo realizado na terça-feira e mencionado pelo premiê britânico durante o anúncio oficial na quarta-feira.
Durante a conversa telefônica, os dois políticos discutiram "o desastre humanitário em rápida deterioração em Gaza, bem como a declaração do Reino Unido sobre o reconhecimento de um estado palestino", de acordo com um comunicado do gabinete de Carney.
‘Recompensa ao Hamas’
O Ministério das Relações Exteriores de Israel rapidamente “rejeitou” a decisão do Canadá em uma postagem no X, chamando-a de “recompensa ao Hamas”.
“A mudança na posição do governo canadense neste momento é uma recompensa para o Hamas e prejudica os esforços para alcançar um cessar-fogo em Gaza e uma estrutura para a libertação dos reféns”, afirmou o Ministério.
“Sejamos claros: Israel não se curvará à campanha distorcida de pressão internacional contra si”, disse o embaixador de Israel no Canadá, Iddo Moed, em uma publicação no X da embaixada.
“Não sacrificaremos nossa própria existência permitindo a imposição de um Estado jihadista em nossa terra natal ancestral que busca nossa aniquilação.”
Israel e EUA já haviam criticado as iniciativas da França e do Reino Unido, alegando que tais medidas favoreceriam o Hamas.
No mês passado, o Canadá somou-se a países como Reino Unido, Noruega, Nova Zelândia e Austrália na aplicação de sanções contra dois ministros considerados de extrema direita do governo Netanyahu.
“Estamos firmemente comprometidos com a solução de dois Estados, que é a única maneira de garantir segurança e dignidade para israelenses e palestinos e assegurar estabilidade de longo prazo na região, mas ela está ameaçada pela violência extremista dos colonos e pela expansão dos assentamentos”, disse uma declaração conjunta dos cinco países.
De acordo com a CNN, na época, o Secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, condenou as sanções como inúteis, dizendo que elas "não promovem os esforços liderados pelos EUA para alcançar um cessar-fogo, trazer todos os reféns para casa e acabar com a guerra".
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