Uma pesquisa apontou que países em que o cristianismo conta com o apoio do governo, o número de cristãos tende a diminuir. E, por outro lado, a fé cristã se espalha com mais sucesso em países com compromissos legais com a pluralidade religiosa e países que discriminam e perseguem os crentes.
O estudo, publicado em abril deste ano na revista Sociology of Religion da Universidade de Oxford, mostrou que existe uma relação direta entre o crescimento do cristianismo com o apoio dado a ele pelo Estado.
Os pesquisadores Nilay Saiya e Stuti Manchanda analisaram uma amostra de 166 países.
Os países onde a população cristã está em declínio mais rapidamente, possuem governos com apoio oficial ou apoio alto ao cristianismo: República Tcheca, Bulgária, Letônia, Estônia, Moldávia, Sérvia, Alemanha, Lituânia e Hungria. A Albânia entra na lista como exceção, por não possuir apoio estatal.
A Hungria, por exemplo, é uma nação oficialmente cristã, porém apresenta uma diminuição da fé. Apesar da maioria dos húngaros se identificarem como católicos, apenas 12% frequentam cultos religiosos regularmente e apenas 14% descrevem a religião como “muito importante” em suas vidas.
Saiya e Manchanda analisam que este fenômeno pode ser explicado devido ao cristianismo ser mais considerado como uma identidade nacional do que uma crença em Jesus nesses países "oficialmente cristãos” e até mesmo nos EUA.
Paradoxalmente, os pesquisadores descobriram que o “o favoritismo estatal da religião a suprime”. Enquanto em sociedades pluralistas, o cristianismo desvinculado com a política, floresce mais.
Os países onde a população cristã está em crescente aumento, possuem governos que apoiam pouco e não possuem nenhum apoio ao cristianismo: Malawi, Uganda, Ruanda, Madagascar, Libéria, República Democrática do Congo e Angola. Com exceção da Tanzânia, Zâmbia e Quênia.
A fé cristã expandiu nos países asiáticos nos últimos anos, onde não há “religião oficial”.
“Em contraste com a Europa, o cristianismo nos países asiáticos não tem estado em posição de receber tratamento preferencial do Estado, e essa realidade resultou em taxas de crescimento cristãs impressionantes. A fé cristã tem realmente se beneficiado por não estar institucionalmente ligada ao Estado, alimentando seu crescimento e vitalidade”, afirma a pesquisa.
Os pesquisadores dão o exemplo da Coreia do Sul, que em apenas um século deixou de ser um país sem cristianismo para se tornar um país onde cerca de um terço da população é cristã. Hoje, é a segunda nação que mais envia missionários ao mundo, ficando atrás somente dos EUA.
“Como a Coreia do Sul não é um país cristão, o cristianismo não tem nenhuma relação especial com o estado. Na verdade, o cristianismo na Coréia sofreu a perseguição brutal do domínio colonial japonês, onde igrejas foram fechadas à força e suas propriedades confiscadas. Na verdade, a igreja persistiu durante a pobreza, guerra, ditadura e crises nacionais ao longo da história coreana”, explicam.
Desde a Segunda Guerra Mundial, o cristianismo na Coreia do Sul cresce exponencialmente, com milhares de igrejas sendo construídas e seminários produzindo milhares de graduados todos os anos.
Assim como aconteceu com a Igreja Primitiva registrado em Atos, o cristianismo floresce em países em que cristãos enfrentam discriminação e perseguição.
Como por exemplo, o Afeganistão, classificado como o 8º país que mais persegue cristãos. Apesar de enfrentar perseguição extrema, com proibição legal da conversão à fé cristã e prisões por frequentar igrejas secretas e por portar literatura cristã, estima-se que pode haver pelo menos 1 milhão de crentes no país.
Fora do Oriente Médio, o país que mais persegue crentes é a China. Apesar dos esforços do ditador Xi Jinping para frear o cristianismo, a igreja continua crescendo no país.
“Quando os comunistas assumiram o poder em 1949, havia um milhão de protestantes vivendo na China, em comparação com 58 milhões em 2010 e provavelmente cerca de 100 milhões em 2019. Apesar dos esforços do governo para suprimir, não acho que isso vá impedir o crescimento do cristianismo na China. Todas as evidências que coletei mostram que é inegável; já está acontecendo”, analisou Fenggang Yang, sociólogo religioso da Universidade Purdue.