A tensão entre a Rússia, que chegou a mobilizar 100 mil soldados em exercícios de guerra na Crimeia e em outros territórios fronteiriços, e a Ucrânia levou a Aliança Evangélica Russa a propor jejum e oração para a igreja dos dois países no sentido de evitar um confronto militar, que pode ser muito difícil para toda a região.
O diretor da Rede Global de Paz e Reconciliação da Aliança Evangélica Mundial, Johannes Reimer, disse estar convencido de que “a Rússia e a UE deveriam iniciar uma conversa honesta abordando questões de interesse bilateral”.
As últimas tensões entre a Rússia e a Ucrânia são as primeiras desde que a Covid-19 chegou à Europa. O impacto da pandemia na população e a crise econômica (de acordo com o FMI, a Ucrânia teve um crescimento negativo em 2020 de -4,2% e a Rússia -3,1%), adicionam pressão ao conflito.
Da Ucrânia, Ruslan Kukharchuk, jornalista fundador da Associação Novomedia e cristão evangélico, fala da “intensificação da presença militar russa”, que teria causado a morte de pelo menos dez soldados ucranianos em abril.
Ele acha que Putin está tentando “desestabilizar a situação na Ucrânia” e “lembrar a liderança da Rússia na região”. Mas, apesar da situação, “durante as últimas duas semanas, quase todos os evangélicos ucranianos fizeram um apelo público para orar e jejuar pela paz em nossa terra. Os eventos de oração realmente se intensificaram em abril”.
Retirada de tropas
Depois de semanas de tensão devido ao aumento de tropas russas perto da fronteira com a Ucrânia, o ministro da Defesa russo, Sergei Shoigu, ordenou que várias unidades na área voltassem às suas bases.
O presidente ucraniano Volodymyr Zelensky, que antes desafiou o presidente russo Vladimir Putin para se encontrar com ele na zona de conflito, saudou a decisão de "diminuir" as tensões na fronteira.
Por ocasião do aniversário de Israel, Zelensky fez uma saudação especial ao Estado Judeu: “Você é um exemplo de coesão, vitalidade e resiliência quando se trata de amar seu país e a herança de seus ancestrais, o desenvolvimento da terra e seu crescimento. Paz e prosperidade para todo o povo de Israel!”
Para os cristãos evangélicos de ambos os lados da fronteira, a paz sempre foi prioridade.
“Pessoalmente, tenho uma atitude negativa em relação a este conflito”, disse o secretário-geral da Aliança Evangélica Russa, Vitaly Vlasenko, ao site de notícias espanhol Protestante Digital.
“Desejo muito o restabelecimento das relações de amizade entre os povos dos nossos países”, afirma Vlasenko, porque o objetivo é “viver em paz e harmonia”.
“Na minha opinião, devemos fazer todo o possível para diminuir a tensão das partes em conflito, com a diplomacia popular e eclesial. E, se possível, traçar um novo plano para um acordo pacífico”, declarou.
“Oro todos os dias e exorto todos os cristãos da Rússia e da Ucrânia a fazerem isso pela pacificação da situação, e oro pela sabedoria dos políticos que participam do processo de negociação de ambos os lados”, disse Vlasenko.
Reimer, servindo a Aliança Evangélica Mundial e vivendo na Alemanha, sublinha que a única solução sócio-política viável para a União Europeia é a restauração da paz com o gigante da Eurásia.
“A Ucrânia é um estado fronteiriço e é um território canônico da Igreja Ortodoxa. A Rússia nunca desistirá de algum tipo de controle. A UE tenta proteger as suas fronteiras orientais apoiando um Estado fronteiriço”, diz Reimer.
Relações evangélicas e paz
Apesar do forte compromisso com a paz, os cristãos de ambos os lados admitem que as relações entre as igrejas evangélicas foram afetadas pelas contínuas tensões.
“Os evangélicos ucranianos têm e mantêm relacionamentos individuais com irmãos e irmãs russos. Mas a participação pública de pastores e pregadores russos na Ucrânia acontece muito raramente agora. O mesmo aconteceria com os convidados da igreja ucraniana na Rússia”, observa o jornalista Kukharchuk.
Da Rússia, o secretário-geral da Aliança Evangélica Vitaly Vlasenko diz que o objetivo deve ser “encarar este desafio como uma prova que podemos superar buscando o Senhor e mostrando amor, misericórdia e compaixão uns pelos outros”.
“Continuaremos a fazer tentativas para estabelecer laços horizontais entre os povos da Rússia e da Ucrânia, entre as igrejas cristãs e as missões. Deus não tem nacionalidade, somos todos cidadãos do Reino dos Céus. Devemos nos lembrar disso quando estamos em diálogo”, exortou.