Brasil está em relatório dos EUA sobre violação de direitos humanos e liberdade religiosa

O Relatório de 2024 sobre Práticas de Direitos Humanos trata de temas relacionados à liberdade de expressão, repressão política, censura judicial e antissemitismo.

Fonte: Guiame, com informações da BBC e State.govAtualizado: quarta-feira, 13 de agosto de 2025 às 13:39
No caso brasileiro, o relatório aponta uma deterioração da liberdade de expressão. (Foto: Pexels/Murilo Fonseca)
No caso brasileiro, o relatório aponta uma deterioração da liberdade de expressão. (Foto: Pexels/Murilo Fonseca)

O Departamento de Estado dos EUA divulgou seu relatório anual nesta terça-feira (12), com críticas contundentes a diversos países – inclusive da América Latina – por violações sistemáticas aos direitos humanos, à liberdade de expressão e à liberdade religiosa.

O Relatório de 2024 sobre Práticas de Direitos Humanos identificou 16 países como responsáveis por violações sistemáticas, flagrantes e contínuas da liberdade religiosa.

Entre os citados sobre este tópico estão China, Irã, Coreia do Norte, Rússia, Nicarágua, Arábia Saudita, Eritreia, Paquistão e Mianmar.

Alguns desses países são classificados como “Países de Preocupação Particular” no relatório da Comissão dos EUA sobre Liberdade Religiosa Internacional (USCIRF), publicado em março de 2025.

A USCIRF destaca que, nesses contextos, a repressão religiosa não é apenas uma questão de fé, mas uma ferramenta de controle político e social.

Violações

O Relatório de 2024 sobre Práticas de Direitos Humanos analisou diversas formas de violação à liberdade religiosa, incluindo leis de blasfêmia que criminalizam opiniões divergentes, perseguição sistemática a comunidades de fé – como cristãos, judeus e outras minorias religiosas – e controle estatal sobre práticas de culto, como censura de literatura sagrada, fechamento de templos e vigilância de líderes religiosos.

O relatório destaca que esses casos revelam como a liberdade religiosa, quando suprimida, compromete não apenas os direitos individuais, mas também a estabilidade democrática e a convivência plural nas sociedades envolvidas.

América Latina

Embora o Brasil tenha sido citado principalmente por restrições à liberdade de expressão e atuação judicial controversa, o documento também chama atenção para casos graves em Cuba, Nicarágua e Venezuela, onde líderes religiosos enfrentam perseguição direta por parte do Estado.

A liberdade religiosa, considerada um direito humano fundamental pela Declaração Universal dos Direitos Humanos (Artigo 18), aparece como um dos eixos centrais do relatório.

Em Cuba, o governo é acusado de monitorar e restringir atividades religiosas não registradas, além de intimidar líderes que se posicionam contra o regime.

Na Nicarágua, o cerco à Igreja Católica se intensificou, com prisões arbitrárias de padres e fechamento de instituições religiosas.

Já na Venezuela, há denúncias de censura e cooptação de lideranças religiosas por interesses políticos.

Liberdade de expressão no Brasil

No caso brasileiro, o relatório aponta uma deterioração da liberdade de expressão e do devido processo legal, especialmente após os protestos de 8 de janeiro de 2023.

A suspensão de perfis em redes sociais, a censura de conteúdos jornalísticos e a prisão prolongada de manifestantes sem acusação formal foram destacados como violações preocupantes.

“A lei proibia a censura judicial com motivação política, mas houve relatos de censura. O governo censurou conteúdo online considerado em violação às ordens do STF, que instruíam as plataformas a remover conteúdo que supostamente disseminasse desinformação relacionada ao sistema eleitoral ou às instituições judiciais ou que menosprezasse autoridades judiciais com ameaças ou assédio online”, anotou o relatório.

Sessão plenária do STF em 05/06/2025. (Foto: Gustavo Moreno/STF)

Um dos pontos mais sensíveis do documento foi a aplicação da Lei Magnitsky Global contra o ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes. A legislação, criada para sancionar indivíduos envolvidos em graves violações de direitos humanos, permite o bloqueio de bens e restrições de visto.

A medida, tomada pela administração Trump, marca uma escalada diplomática e pode ter repercussões em fóruns internacionais e acordos bilaterais.

Antissemitismo em ascensão no Brasil

O relatório dos EUA destaca uma escalada preocupante de atos antissemitas no Brasil em 2024, especialmente após o ataque do Hamas a Israel em outubro de 2023.

Segundo a Confederação Israelita Brasileira (CONIB) e a Federação Israelita de São Paulo (FISESP), foram registrados 886 casos de antissemitismo entre janeiro e maio, quase seis vezes mais que no mesmo período do ano anterior.

“A maioria dos ataques ocorreu em ambientes digitais, como redes sociais e aplicativos de mensagens.”

O documento também menciona a declaração polêmica do presidente Lula, que comparou a ofensiva israelense em Gaza ao Holocausto, gerando forte repúdio da comunidade judaica brasileira.

Em paralelo, o Ministério Público de Santa Catarina realizou a Operação Overlord, que resultou na prisão de quatro indivíduos ligados a grupos neonazistas, acusados de incitação ao ódio e planejamento de atos violentos.

Segundo a CNN Brasil, a operação teve como objetivo combater o antissemitismo e o discurso de ódio, além de impedir o planejamento de atos violentos. Os indivíduos presos supostamente integravam uma banda que se apresentava em eventos neonazistas em diversas regiões.

O relatório lembra que a legislação brasileira prevê pena de dois a cinco anos para quem divulgar símbolos nazistas com fins ideológicos.

Consequências do relatório

As consequências comerciais e políticas do relatório são significativas. Países citados como violadores podem enfrentar sanções econômicas, restrições comerciais e perda de credibilidade internacional.

Empresas e investidores tendem a evitar ambientes onde há instabilidade jurídica e repressão de liberdades civis, o que pode impactar diretamente o desenvolvimento econômico e a cooperação internacional.

Além disso, o relatório serve como base para decisões em processos de imigração e pedidos de asilo nos EUA.

A proteção da liberdade religiosa é vista como um indicador da saúde democrática de uma nação.

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