De acordo com a AFP, quarenta e três países de todos os continentes exigiram nesta quinta-feira (21) que a China “garanta o respeito do Estado de Direito” aos uigures em Xinjiang.
Nessa região autônoma que fica no noroeste da China, há muitos grupos de minorias étnicas como os uigures — povo de origem turcomena que é oficialmente reconhecido pela República Popular da China — mas que não tem seus direitos humanos respeitados. Pequim nega as denúncias feitas ao redor do mundo.
“Instamos a China para que permita o acesso imediato de observadores independentes a Xinjiang, entre eles o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos [Acnudh]”, disse o embaixador francês na ONU, Nicolas de Rivière, em sua intervenção durante uma reunião virtual da terceira comissão da Assembleia Geral da ONU, especializada em direitos humanos.
Preocupação com os uigures
“Estamos particularmente preocupados pela situação na região autônoma uigur de Xinjiang”, ressaltou o diplomata francês, citando relatos críveis da existência de “campos de reeducação política onde mais de 1 milhão de pessoas estão detidas arbitrariamente”.
Em fevereiro deste ano, o Guiame publicou uma matéria mostrando que mulheres estão sofrendo estupro e tortura nos tais “campos de reeducação” pelos líderes comunistas do país.
A declaração do diplomata fala também de tratamento cruel, desumano e degradante, esterilização forçada, violência sexual e de gênero, e separação forçada de crianças, voltadas “desproporcionalmente aos uigures e aos membros de outras minorias”.
Os cristãos chineses, em particular, têm sido perseguidos e ameaçados a enviar seus filhos para campos de reeducação do governo. Uma das formas de pressionar os pais é dizendo que vão retirar a guarda deles sobre seus próprios filhos.
China se defende
O embaixador chinês na ONU, Zhang Jun, interveio rapidamente na reunião para denunciar e rechaçar o que classificou de “acusações infundadas”.
“Xinjiang está desfrutando do desenvolvimento e o povo se emancipa a cada dia e está orgulhoso dos progressos que fez”, afirmou o embaixador. Mais tarde, em uma entrevista coletiva, Zhang afirmou que a China deseja receber uma “amistosa” à região, mas se mostrou contrário a que a comissária da ONU para os Direitos Humanos lidere uma investigação.
O embaixador acusou os Estados Unidos, França e Reino Unido de terem um “histórico terrível em termos de direitos humanos”. Em um comunicado, o governo chinês acusou os Estados Unidos de terem executado uma “limpeza étnica desumana” contra os nativos norte-americanos e acusou a França de ter cometido “crimes contra a humanidade” em suas antigas colônias.
Segundo fontes diplomáticas, a China pressiona a cada ano os membros da ONU para dissuadi-los de assinar a declaração, ameaçando não renovar uma missão de paz em determinado país ou até impedindo a instalação de uma nova embaixada na China.
Há dois anos, a declaração conjunta [que denuncia as atrocidades cometidas pela China] foi assinada por 23 países. Um ano depois, recebeu o apoio de outras 39 nações, das quais se uniram em 2021 Turquia, Essuatíni (antiga Suazilândia, país da África Austral), Portugal e República Tcheca.