O número de vítimas que têm seus órgãos extraídos continua crescendo na China. De acordo com o Bitter Winter, os EUA criaram uma lei que impede a “extração forçada de órgãos” para combater o comércio chinês de órgãos de prisioneiros políticos, em especial de uigures, que sofrem perseguição religiosa no país.
Desde 1970, a China já foi denunciada várias vezes. Depois de décadas cometendo o crime e após a condenação internacional, passou a fazer promessas de encerrar a prática em 2013, depois em 2014 e 2015.
Mas a prática continuou e os números foram simplesmente reduzidos para manter as críticas afastadas. A China continuou sua marcha bilionária em direção ao maior programa de transplante de órgãos do mundo, com cerca de 90.000 transplantes por ano e tempos de espera em dias ou semanas.
Denúncias
Em 1990, o exilado uigure Enver Toht, um jovem cirurgião na capital Urumqi, disse que viu três meninos durante um período de seis meses com a reveladora cicatriz em forma de U em seus corpos, indicando roubo de rim.
Em 1995, ele próprio foi obrigado a extrair os órgãos de um prisioneiro vivo no corredor da morte e ordenou que se lembrasse de que “nada havia acontecido naquele dia”.
O médico contou também ao Bitter Winter que a filha de um amigo havia deixado sua aldeia com um grupo de meninas para trabalhar no interior da China, em um verão nos anos 80.
“Eles voltaram seis meses depois e três deles tinham grandes cicatrizes em seus corpos. Eles foram informados de que precisavam de um exame médico para trabalhar na fábrica, mas quando acordaram não faziam ideia do que havia acontecido com eles”, disse.
“Somente quando dois ficaram doentes e posteriormente morreram, os exames revelaram a perda de seus rins. Mas nada foi dito sobre isso”, ele confidenciou.
‘Exames gratuitos a todos’
O assunto voltou à tona em 2016, quando a China anunciou que haveria “exames médicos gratuitos para todos”, exigindo que todos os uigures em Xinjiang se submetessem a tais exames para tipo de sangue, impressões digitais e DNA.
Uigures e ativistas de direitos humanos temem que a coleta de dados esteja sendo usada para atender à demanda de órgãos no país e no exterior. Os temores foram agravados durante o chamado “Tribunal do Povo” da China, em 2019.
Na ocasião, os observadores ouviram ao longo de alguns dias os depoimentos de testemunhas, experiências em primeira mão e pesquisas de especialistas, que os órgãos humanos estavam disponíveis sob demanda e que estavam reservados no aeroporto Kashgar de Xinjiang.
O Tribunal concluiu: “Na China, a extração forçada de órgãos de prisioneiros de consciência tem sido praticada por um período substancial de tempo envolvendo um número muito significativo de vítimas”.
‘Evidências confiáveis dos crimes’
Em 2021, houve um “alarme extremo” que foi registrado por especialistas independentes comissionados pela ONU.
Eles encontraram “evidências confiáveis” de que detidos de minorias étnicas, linguísticas ou religiosas “podem ser submetidos à força a exames de sangue e exames de órgãos, como ultrassom e raios-x, sem seu consentimento informado, enquanto outros prisioneiros não são obrigados a passar por tais exames”.
Os resultados dos exames são registrados em um banco de dados de fontes de órgãos vivos que facilita a alocação de órgãos.
Cristãos estão entre as vítimas
Vale lembrar que entre as minorias religiosas que sofrem com a extração forçada de órgãos estão também os cristãos que foram detidos na China.
“Estamos profundamente preocupados com relatos de tratamento discriminatório de prisioneiros ou detidos com base em sua etnia e religião ou crença”, disseram especialistas em direitos humanos da ONU.
De acordo com as denúncias recebidas, os órgãos mais comuns retirados dos presos seriam corações, rins, fígados, córneas e, menos comumente, partes de fígados.
Essa forma de tráfico de natureza médica supostamente envolve profissionais do setor de saúde, incluindo cirurgiões, anestesistas e outros especialistas médicos.
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