Cristão que escapou da China diz que era eletrocutado e torturado em campo de detenção

Ovalbek Turdakun é o primeiro cristão detido nos campos a falar publicamente sobre sua experiência.

Fonte: Guiame, com informações de AxiosAtualizado: quarta-feira, 13 de abril de 2022 às 14:52
Ovalbek Turdakun foi mantido por 10 meses em um campo de detenção em Xinjiang. (Foto: IPVM).
Ovalbek Turdakun foi mantido por 10 meses em um campo de detenção em Xinjiang. (Foto: IPVM).

O chinês cristão Ovalbek Turdakun escapou da China, junto com a esposa e a filha, e chegou aos Estados Unidos na sexta-feira (8), para dar seu depoimento sobre os horrores cometidos pelo Partido Comunista Chinês em campos de detenção em Xinjiang.

“Estou muito feliz por chegar em segurança com minha família na América. Para nós, isso significa finalmente realizar uma esperança de longa data. Primeiro, sou grato ao nosso Deus. Também sou grato ao governo dos EUA e aos amigos que nos ajudaram o tempo todo”, disse Ovalbek, ao desembarcar no Aeroporto Internacional de Dulles.

De acordo com o jornal Axios, Turdakun é um quirguiz, uma das minorias étnicas alvo de detenção, junto com os uigures, azaques, quirguizes, tadjiques e hui, povos que vivem em Xinjiang. 

Desde 2016, a China tem construído complexos de prisões e campos de detenção, os maiores desde os campos nazistas na 2ª Guerra Mundial, para deter opositores políticos e minorias religiosas.

O governo chinês alega que os campos servem para desradicalizar extremistas islâmicos, porém, há relatos de que pessoas sem religião e um pequeno número de cristãos também foram presos.

É o caso de Ovalbek, um seguidor de Jesus que foi detido em fevereiro de 2018 por autoridades chinesas no condado de Ulugqat, no sudoeste de Xinjiang. Ele relatou que foi submetido a diversos interrogatórios no campo de detenção, em que os guardas o seguravam com tanta força que cortaram a circulação em seus braços e pernas. 

Ovalbek foi questionado repetidamente sobre sua lealdade à China, devido ao seu casamento com uma mulher quirguiz. O cristão ainda disse que ele e outros prisioneiros foram amarrados em cadeiras de tigre (usados ​​na China para torturar durante interrogatórios) por horas e foram torturados com choques elétricos quando adormeciam ou tentavam se ajeitar na cadeira. 

O chinês também relatou que os detentos receberam injeções, como se fossem vacinas, mas tempo depois eles ficaram doentes, apresentando incapacidade de levantar os braços, perda de audição e vazamento de fluidos de seus ouvidos. Ovalbek afirmou que perdeu o movimento das pernas durante meses e precisou ser carregado por outros prisioneiros.

Em novembro de 2018, o cristão foi libertado do campo de detenção, porém foi mantido em prisão domiciliar por cerca de um ano. Em dezembro de 2019, Ovalbek fugiu com a família para o Quirguistão a pé. 

Políticos americanos, ativistas de direitos humanos e advogados internacionais trabalharam durante meses para trazer o cristão perseguido e sua família aos EUA. Ovalbek Turdakun é o primeiro crente detido nos campos a falar publicamente sobre sua experiência e será uma testemunha importante para comprovar a repressão do governo chinês em Xinjiang. 

Seu depoimento será apresentado no Tribunal Penal Internacional (TPI) por advogados de direitos humanos para provar que a China cometeu crimes contra a humanidade nos campos em Xinjiang. 

Maior campanha de detenção desde os campos nazistas

A descoberta do novo complexo de prisões e campos de detenção na China refletem o que pesquisadores, funcionários da ONU e governos ocidentais há muito tempo alertam: a campanha de detenção da China em Xinjiang é a maior, perseguindo uma minoria religiosa, desde os campos nazistas durante a Segunda Guerra Mundial.

Em 2020, o governo dos EUA relatou um aumento significativo da perseguição religiosa na China. De acordo com a National Review, o PCC “emitiu regras cobrindo todos os aspectos da vida religiosa, desde a formação de grupos até as atividades diárias envolvendo adoração e oração, todas as quais precisam ser aprovadas pelo governo comunista”.

"Estamos passando de um estado policial para um estado de encarceramento em massa. Centenas de milhares de pessoas desapareceram da população. É a criminalização do comportamento normal”, disse o antropólogo Darren Byler, da Universidade do Colorado, que estuda o povo uigur, à Voice Of America.

Em julho, durante a Cúpula Internacional de Liberdade Religiosa nos EUA, uma sobrevivente uigur dos campos de detenção na China relatou o terror vivido na prisão e denunciou estupros sistemáticos cometidos pelos guardas contra as mulheres uigur detidas.

Conforme a Cúpula Internacional de Liberdade Religiosa, cerca de 1 a 3 milhões de uigures e outros turcos muçulmanos estão detidos em campos de concentração na China, sujeitos a trabalhos forçados e a esterilização forçada. E mesmo os uigures que não são enviados a campos de concentração, enfrentam vigilância extrema do governo chinês.

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