Por que o homem mau prospera e permanece impune?

Esse assunto foi abordado há milênios porque homens de Deus, íntegros e piedosos, também foram afligidos pelo mesmo questionamento.

Fonte: Guiame, Getúlio CidadeAtualizado: quinta-feira, 20 de abril de 2023 às 18:12
(Foto: Unsplash/Bethany Laird)
(Foto: Unsplash/Bethany Laird)

Todo mundo já se fez essa pergunta, de forma aberta ou não. Ela pode levantar outras questões de cunho ético, filosófico e até religioso, o que não é meu objetivo. Tampouco tenho a pretensão de respondê-la de modo peremptório. Apontarei apenas para possíveis respostas nas próprias Escrituras, o firme fundamento da fé cristã.

Sim, esse assunto foi abordado há milênios porque homens de Deus, íntegros e piedosos, também foram afligidos pelo mesmo questionamento. Eles o fizeram de várias formas e lamentos. É uma pergunta legítima e tem sido feita desde que o homem foi colocado na face da Terra.

O maligno Hamã

O livro de Ester conta a história de Purim, na qual o maligno Hamã é um dos atores principais. Ele é alçado à posição de maior proeminência do império persa, abaixo apenas do rei; uma espécie de primeiro-ministro do maior império do mundo à época. Ao ser promovido, usa seu poder único para perseguir os judeus, em especial Mordecai por se recusar a curvar-se perante ele. Não consegue esconder seu ódio e extravasa seus intentos homicidas para exterminar um povo por completo. Enquanto persegue e maquina o mal, parece prosperar ainda mais em honra e poder.

Hamã era o tipo de homem que usa os que estão a sua volta apenas para autopromoção e pisa nos que são inúteis a seus propósitos perversos. Mordecai, embora sendo um homem de fé, certamente foi afetado pela aparente prosperidade e impunidade de Hamã. O fato de Mordecai ter denunciado uma trama para matar o rei, livrando-o de seus potenciais assassinos, e não ter recebido nenhum reconhecimento em troca, somente aumentou essa sensação de injustiça. É lógico pensar que foi tomado por tal sensação, especialmente ao ver Hamã prosperando na corte e com o favor do rei.

No entanto, como sabemos, o fim de Hamã não foi o que ele esperava. Sua soberba chegara ao ponto máximo antes de sua vergonha, conforme diz Salomão: “A soberba precede a ruína, e a altivez do espírito precede a queda” (Provérbios 16:18). A sorte muda do dia para noite quando sua verdadeira face é exposta e termina enforcado na forca que ele mesmo projetou para Mordecai. Seu tempo de aparente prosperidade, perversidade e impunidade chegara ao fim. Deus disse: basta!

Riqueza e honra são passageiras

Jó, em seus questionamentos intermináveis ante o sofrimento, perguntou a Deus: “Por que razão vivem os ímpios, envelhecem e ainda se tornam mais poderosos? [...] O castigo de Deus não está sobre eles” (Jó 21:7,9). Asafe, o salmista, foi acometido do mesmo sentimento ao afirmar: “tive inveja dos soberbos, ao ver a prosperidade dos ímpios”; e “são assim os ímpios; sempre em segurança e as suas riquezas aumentam” (Salmo 73:3,12). Jeremias faz ecoar a pergunta de Jó ao dizer: “Por que prospera o caminho dos ímpios: Por que vivem em paz todos os que procedem perfidamente?” (Jeremias 12:1). Mordecai, no reino persa dominado pela maldade de seu primeiro-ministro, conhecendo essas Escrituras que eram anteriores a ele, deve ter meditado nelas ao pensar na prosperidade de Hamã. Ele se identificou com Jó, Asafe e Jeremias, assim como nós nos identificamos hoje perante tanta injustiça.

Entretanto, o fim do homem mau é terrível, um mergulho na escuridão eterna, longe de Deus e de toda sua luz, seu fim é de pavor e lágrimas. O próprio Asafe parece responder sua pergunta ao dizer: “Certamente, tu os pões em lugares escorregadios; tu os lanças em destruição. Quão repentinamente são destruídos, totalmente consumidos de terrores!” (Salmo 73:18-19). Foi assim com Hamã. Sua riqueza e honra eram passageiras. Toda a fortuna e fama acumuladas não passavam de um castelo de areia próximo às ondas do mar. Foi envergonhado, enforcado e todos seus filhos com ele. Não lhe sobrou nada no final, exposto à miséria humana, ao terror e às trevas perenes.

Bem-aventurados os que temem a Deus

Por mais que os homens maus nos fustiguem e pareçam prosperar, estão condenados não somente ao fracasso, mas a um fim calamitoso como foi o de Hamã. Não devemos olhar para a momentânea prosperidade do ímpio, mas, sim, temer e obedecer a Deus, pois grande recompensa há nisso. Salomão, no auge de sua sabedoria divina, conhecia esse questionamento que aflige a humanidade e escreveu seu parecer inspirado pelo alto: “Ainda que o pecador faça o mal cem vezes, e os dias se lhe prolonguem, sei com certeza que bem sucede aos que temem a Deus, aos que são reverentes diante dele. Mas ao ímpio não irá bem, e ele não prolongará os seus dias; será como a sombra, visto que não teme diante de Deus” (Eclesiastes 8:12-13). Como mostra o destino de Hamã, assim se dará com todo aquele que não teme a Deus e pratica o mal crendo que permanecerá impune.

O fim da história, em especial o destino de Hamã e o destino de Mordecai, me faz lembrar as palavras do profeta Malaquias: "No dia em que eu agir, diz o Senhor dos Exércitos, eles serão o meu tesouro pessoal. Eu terei compaixão deles como um pai tem compaixão do filho que lhe obedece. Então vocês verão novamente a diferença entre o justo e o ímpio, entre os que servem a Deus e os que não o servem" (Malaquias 3:17-18 - NVI).

Getúlio Cidade é escritor, tradutor e hebraísta, autor do livro A Oliveira Natural: As Raízes Judaicas do Cristianismo e do blog www.aoliveiranatural.com.br

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