O Cordeiro – a figura central da Páscoa

Não há tempo melhor para celebrar nossa libertação do Egito — uma figura do mundo e do pecado — simbolizando a passagem para a vida eterna herdada por tal sacrifício.

Fonte: Guiame, Getúlio CidadeAtualizado: quinta-feira, 6 de abril de 2023 às 18:44
(Foto: David Griffiths/Unsplash)
(Foto: David Griffiths/Unsplash)

A Páscoa foi estabelecida por Deus imediatamente antes da saída do povo de Israel do Egito e, por essa razão, o mês de Nisan (que equivale a março/abril do calendário gregoriano) é conhecido como o “tempo de nossa redenção”. No dia 10 de Nisan, cada família deveria tomar um cordeiro e o levar para casa, onde ficaria até o dia 14 à tarde, quando deveria ser morto (Êxodo 12:3,6). 

Seu sangue era espargido sobre as ombreiras e sobre a viga da porta de entrada como um sinal de proteção contra o anjo da morte; e sua carne era comida por toda a família. Para ser imolado, o cordeiro não poderia possuir nenhum defeito físico, o que o invalidaria para o sacrifício. A despeito de se ter um cordeiro para cada lar, havia ainda um cordeiro especial que era sacrificado por toda a congregação de Israel também no mesmo horário, na tarde do dia 14 de Nisan.  

O cordeiro pascoal tornou-se não somente o símbolo da Páscoa, mas a razão de ser dessa Festa, pois sem o cordeiro, não haveria libertação do Egito. Sem seu sangue, todos os primogênitos teriam sido atingidos igualmente pelo juízo divino e não sobraria ninguém para contar a história do Êxodo. 

O Cordeiro de Deus 

A figura do cordeiro pascoal permaneceu em cena durante todas as celebrações de Páscoa, através dos séculos, até a chegada do Messias de Israel no século I. Foram cerca de 1.300 anos de celebrações, ano após ano, na data designada de 14 de Nisan, como se fosse um ensaio para a grande Festa da Páscoa, aquela em que se cumpriria no verdadeiro Cordeiro de Deus que viria ao mundo dar sua vida pela humanidade. Na verdade, antes mesmo do primeiro cordeiro pascoal ser imolado na noite que precedeu o Êxodo, o Cordeiro de Deus já havia sido morto “desde a fundação do mundo”, segundo Apocalipse 13:8, tal é o mistério divino para o plano de redenção da humanidade.  

Yeshua é o antítipo perfeito do cordeiro pascoal. Assim como este deveria ser levado para a casa de cada família no dia 10 de Nisan, Yeshua entrou em Jerusalém (sua cidade) e no Templo (sua casa) exatamente no dia 10 de Nisan. Assim como o sacerdote inspecionava o cordeiro antes de imolá-lo, a fim de verificar que não possuía nenhum defeito físico e estava apto para o sacrifício, Yeshua também foi inspecionado pela máxima autoridade dos homens presente em Jerusalém naqueles dias, quando Pôncio Pilatos disse: “Vejam, eu o estou trazendo a vocês, para que saibam que não acho nele motivo algum de acusação" João 19:4. O Cordeiro de Deus fora inspecionado pela autoridade dos homens e achado sem falta, apto para o sacrifício.

A carne do cordeiro pascoal devia ser assada ao fogo e comida por toda a família. Além disso, nenhum osso seu podia ser quebrado. O fogo é um símbolo do juízo de Deus que recaiu sobre Yeshua ao sofrer em nosso lugar a culpa de todos nossos pecados. Mesmo após toda a tortura e crucificação, nenhum osso seu foi quebrado. Yeshua se identificou como sendo esse Cordeiro Pascoal ao ordenar que sua carne fosse comida e seu sangue fosse bebido, conforme Mateus 26:26-28. Aqui se destaca a diferença entre o sangue do cordeiro pascoal, capaz de livrar temporariamente do anjo da morte, e o sangue do Cordeiro de Deus que é bebido para nos livrar da morte eterna, estando para sempre sobre as ombreiras e sobre a viga da entrada de nossos corações. Ele é Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo (João 1:29). 

O Sacrifício Perfeito

O cordeiro pascoal imolado diante de toda a assembleia de Israel era sacrificado no dia 14 de Nisan, à hora do sacrifício vespertino que era às três horas da tarde. Yeshua, como a figura perfeita do Cordeiro de Deus, foi crucificado no mesmo dia 14 de Nisan, expirando também às três horas da tarde, como relatam os Evangelhos. 

Após aplicar o corte fatal ao cordeiro pascoal que se encontrava amarrado às pontas do altar no Templo, o sumo sacerdote exclamava: Nishlam! que significa: “Está consumado!”, indicando que o cordeiro fora morto e o sacrifício fora executado conforme as ordenanças, e aceito por Deus. Não muito distante dali, fora dos muros de Jerusalém, amarrado à cruz, o altar do sacrifício de Deus, Yeshua disse a mesma expressão: Nishlam!, indicando que toda a obra redentora fora cumprida, expirando em seguida. O sacrifício fora perfeito e havia sido aceito pelo Pai.

Embora a Páscoa se cumpra integralmente em Yeshua, a figura irretocável do Cordeiro Pascoal, essa é uma Festa que será celebrada para sempre, conforme seu “estatuto perpétuo” dado por Deus em Êxodo 12:14. Todos os judeus a celebram ano após ano. Para os cristãos, ela tem um simbolismo ainda maior, pois aponta para o perfeito sacrifício que tira o pecado do mundo. Não há tempo melhor para celebrar nossa libertação do Egito — uma figura do mundo e do pecado — simbolizando a passagem para a vida eterna herdada por tal sacrifício. Conforme nos exortou Paulo: “Cristo, nosso cordeiro pascoal, foi sacrificado. Por isso, celebremos a festa”, referindo-se à Páscoa (1Co. 5:7-8).

Que nessa Páscoa, possamos ter uma revelação maior do Cordeiro de Deus e proclamar juntamente com os anjos as mesmas palavras de adoração àquele que derramou seu sangue para nos salvar: “Digno é o Cordeiro, que foi morto, de receber poder, riqueza, sabedoria, força, honra, glória e louvor!" Apocalipse 5:12. 

Getúlio Cidade é escritor, tradutor e hebraísta, autor do livro A Oliveira Natural: As Raízes Judaicas do Cristianismo e do blog www.aoliveiranatural.com.br

* O conteúdo do texto acima é de total responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a opinião do Portal Guiame.

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