Já alguns dias tenho visto o Brasil alardear a campanha lançada pelo Governo Bolsonaro, "Eu Escolhi Esperar ", campanha essa que tem como foco principal a preservação sexual dos jovens e adolescentes.
Para os que desconhecem a origem dessa campanha, ela vem do Ministério dos pastores Nelson Junior e Ângela Cristina, que já militam por essa bandeira desde 1998.
Pensar nessa campanha a nível cristão é mais fácil, haja vista, que a maioria dos evangélicos são "conservadores", e os fundamentos desta campanha está calcada na Bíblia. Com certeza, surte um efeito rápido, haja vista que os jovens que frequentam as Igrejas estão imbuídos na crença de "fazer a vontade de Deus".
Portanto, uma campanha dentro do seio cristão, para desafiar os jovens a preservarem-se sexualmente e buscarem a integridade emocional é mais fácil.
O maior desafio do Governo não será fazer a campanha "Eu Escolhi Esperar", mas como ganhar a confiança dos jovens brasileiros que nunca foram motivados a se preservarem sexualmente e tornar isso uma prática.
A campanha da "abstinência sexual" implantada nos EUA só logrou êxito, quando veio acompanhada de outras políticas públicas. Da mesma forma deve ser no Brasil, caso contrário, corre-se o risco de ser apenas uma campanha populista.
Na minha opinião, a campanha "Eu Escolhi Esperar" precisa vir acompanhada de um tripé de políticas públicas: a) Preservação sexual, b) combate à pornografia e c) combate ao abuso sexual intrafamiliar.
O Brasil sempre foi conhecido como o país do Carnaval e o país do comércio sexual.
É uma realidade, infelizmente.
Falar de "Eu Escolhi Esperar" para meninas que ficam nas ruas, nos cais dos portos em todo país ou falar em "Eu Escolhi Esperar" para meninas que são trocadas por dinheiro nas regiões ribeirinhas no Norte e Nordeste do Brasil parece que não será o suficiente, se a campanha não vier acompanhada de ações de combate a esse tipo de crime, feito pela Polícia Federal e pelo Exército no patrulhamento dessas regiões e prisão dos aliciadores de menores.
Nas grandes cidades, temos filmes nos cinemas, nos "Netflixs" e outros canais de entretenimento, onde a pornografia rola solta sem nenhuma fiscalização. Sem falarmos também das livrarias que vendem livros do tipo "50 tons de cinzas" sem nenhum controle. Ou, ainda, muito pior são os "bailes funks" nas periferias das cidades onde rola solto o sexo infanto-juvenil.
Pergunto: Como fazer campanha "Eu Escolhi Esperar" para essa Juventude "ubernóide" sem enfrentarmos a pornografia?
Peço desculpa ao caro leitor, mas permita-me colocar o dedo um pouco mais na ferida e falar o que está acontecendo dentro das casas das famílias brasileiras.
Em 06/02/2019, foi publicado no site do terceiro setor que "51% das crianças abusadas sexualmente no Brasil têm de 1 a 5 anos. Cerca de 69,2% dos casos de violência sexual contra crianças ocorreram em casa e 33,7% tiveram caráter de repetição".
Ainda em 30/09/2019 a Folha de São Paulo publicou um levantamento inédito com dados do Ministério da Saúde. Foi verificado que "42% das crianças e adolescentes que sofrem abuso sexual são vítimas recorrentes; 72% das pessoas estupradas são menores e 18% têm até 5 anos”.
Apesar do SLOGAN da Campanha "EU ESCOLHI ESPERAR", que é uma bênção para os CONSERVADORES, entretanto para a grande maioria da população brasileira a melhor campanha seria "EU ESCOLHI RESPEITAR".
"EU ESCOLHI RESPEITAR o meu corpo, e o corpo do outro".
"EU ESCOLHI RESPEITAR as fases de idade de cada ser humano, sabendo que para cada fase existem descobertas que só podem ocorrer com a capacidade cognitiva de cada idade".
"EU ESCOLHI RESPEITAR o próximo, mesmo que esse próximo sejam pessoas que estão debaixo de minha autoridade, e que, por estarem desta forma, merecem o melhor do meu respeito, da minha compreensão, e da minha proteção".
Somente quando a SOCIEDADE BRASILEIRA entender que o melhor caminho é o RESPEITO, então poderemos partir para a fase número 2; "EU ESCOLHI ESPERAR".
As novas gerações ao serem respeitadas, com certeza, serão motivadas a ouvirem o nosso conselho: ESPERE!
Por Patrícia Regina Alonso, mãe, advogada há 20 anos, teóloga, musicista formada pelo Conservatório Musical Ernesto Nazareth. Foi capelã do Hospital das Clínicas de São Paulo. É membro da ADVEC. Escritora do Livro “Alienação Parental o Lado obscuro da Justiça Brasileira” e colaborou no livro “A invisibilidade de crianças e mulheres vítimas da perversidade da Lei da Alienação Parental”.
* O conteúdo do texto acima é de colaboração voluntária, seu teor é de total responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a opinião do Portal Guiame.
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