Após travar uma "batalha geral" de três anos contra a Igreja de Deus Todo-Poderoso (CAG, sigla em inglês), o Partido Comunista Chinês (PCC) deu início a outra "dura campanha" com o propósito de "erradicar completamente" a denominação.
As autoridades locais receberam a responsabilidade de conduzir investigações detalhadas como parte dos preparativos para efetuar prisões coordenadas a membros e líderes da CAG.
Desde o início da "batalha geral" contra a denominação, em setembro de 2020, com o objetivo de "destruição completa" da Igreja de Deus Todo-Poderoso, o número de membros presos ultrapassou 10.000 durante três anos consecutivos, acompanhado por um aumento de membros condenados.
Estatísticas aproximadas indicam que o número de membros do CAG condenados em 2023 foi o dobro do registrado em 2020.
Agora, a nova empreitada do PCC é um reconhecimento de que, após três anos de repressão, a GAC ainda existe "de forma organizada e considerável" nas áreas urbanas e rurais. Ela também tem um número indeterminado de seguidores não rastreáveis, incluindo muitos "membros não registrados", que mantém contato direto com suas comunidades religiosas no exterior, segundo mostra um documento examinado pelo Bitter Winter.
'Erradicação completa'
Citando o grande número de membros da GAC e sua resiliência, que o PCC considera uma grande ameaça à segurança política do regime comunista, o partido exigiu o início de uma "dura batalha de três anos" contra a Igreja, para a "erradicação completa" da denominação.
Em 2024, o primeiro ano da "dura batalha" de três anos do PCC, os departamentos de polícia, comitês político-jurídicos e órgãos governamentais em toda a China emitiram documentos exigindo uma investigação abrangente, realizada em fases e no estilo de uma rede de arrasto, dos membros do CAG em suas respectivas áreas.
Segundo informa o Bitter Winter, o objetivo é realizar uma identificação completa dos membros, estrutura e atividades da Igreja de Deus Todo-Poderoso, em preparação para futuras detenções.
Investigações
Fazem parte dos métodos de investigação aa triagem de grandes conjuntos de dados (big data), oferecimento de recompensas por relatórios, pesquisas porta a porta, coleta de informações e visitas domiciliares sistemáticas.
Para fins de investigação, o partido exige a plena utilização do projeto Skynet (sistema de vigilância em massa implementado na China) e de outras instalações de observação.
Além disso, a reunião e combinadas com as extensas bases de dados da polícia para identificar indivíduos com padrões de movimento semelhantes, locais de entrada e saída coincidentes ou contatos telefônicos com membros da CAG já identificados como suspeitos.
Todas as informações serão registradas no sistema de gestão de informações do Ministério da Segurança Pública para monitoramento a longo prazo.
Membros estrangeiros da CAG também estão sob investigação; qualquer pessoa que apareça em vídeos produzidos pela igreja será registrada em um banco de dados e, ao retornar à China, estará sujeita a detenção e julgamento.
Identificação dos cristãos
Os governos locais estão realizando treinamentos para funcionários das aldeias, agentes da polícia, trabalhadores da rede, membros da Federação das Mulheres do PCC, líderes comunitários e outros responsáveis pelas unidades, a fim de capacitá-los a identificar os seguidores da CAG.
Isso envolve o reconhecimento dos livros lidos pelos membros do Igreja, os métodos e padrões de suas reuniões, além do vocabulário que usam no cotidiano, hábitos de vida, métodos de comunicação e formas de se dirigirem uns aos outros.
Por exemplo, são considerados alvos principais de investigação os indivíduos que não publicam dísticos, que são pequenos cartazes ou banners com mensagens escritas, frequentemente utilizados em ocasiões especiais ou festivas, como no Festival da Primavera e ainda aqueles que mantêm leitores de MP5 em suas casas.
O Bitter Winter recebeu cópias de diversos avisos de recompensa para denunciantes e formulários de pesquisa distribuídos em escolas e locais de trabalho, solicitando ao público que fornecesse informações sobre suspeitos de serem membros da CAG nas proximidades.
"Agora há câmeras de vigilância por toda parte, além do risco de ser denunciado e inspecionado a qualquer momento; está muito difícil!" disse um membro da CAG ao Bitter Winter, mencionando que já faz algum tempo que eles só podem se encontrar em grupos de dois ou três. No entanto, com as novas políticas em vigor, sua situação está prestes a se tornar ainda mais difícil.