Quando a guerra começou na Síria, em 2011, ninguém imaginou que ela se arrastaria por mais de uma década. Quando o povo deu início a protestos pacíficos contra o presidente Bashar al-Assad, isso desencadeou uma guerra civil de grande escala.
Há 11 anos que os sírios enfrentam morte e destruição. De acordo com o BBC News, o conflito deixou quase meio milhão de mortos, arrasou cidades e envolveu outros países estrangeiros. Mais de 200 mil pessoas estão desaparecidas — presume-se que morreram.
As pessoas pediam o fim da corrupção, mais empregos e mais liberdade em todos os sentidos. Em troca, o governo reagiu violentamente e revelou ainda mais sua paranoia ditatorial.
O resultado desse embate foi a pobreza e a fome, muito mais corrupção e a falta de liberdade atingiu um nível ainda mais alarmante. No dia 18 de abril, data em que o país comemora sua independência, o povo não teve motivo para celebrar.
Por que a guerra na Síria não acaba?
Quando as manifestações pró-democracia eclodiram na cidade de Deraa, no sul, inspiradas pela Primavera Árabe, o governo sírio usou força letal a fim de paralisar o povo.
Porém, a exigência dos cidadãos era a renúncia do presidente e eles não desistiram de seu plano. Com a guerra civil em curso, centenas de grupos rebeldes surgiram e potências estrangeiras começaram a tomar partido, como Rússia, EUA, Reino Unido e França. Entre os grupos terroristas envolvidos estão o autodenominado Estado Islâmico (EI) e a Al-Qaeda.
Agora não se trata mais de uma guerra entre o povo e o governo, mas passou a envolver o terrorismo e questões internacionais. As nações envolvidas participam da guerra enviando recursos financeiros, armas e combatentes.
Isso quer dizer que, quanto mais gente envolvida na confusão, maior o caos, já que cada lado possui seus próprios objetivos. No fim das contas, fica difícil entender o motivo original da guerra.
Cidade de Alepo, na Síria, dezembro de 2016. (Foto: Wikimedia Commons)
Numa guerra, as minorias se tornam ainda mais vulneráveis
A realidade da opressão islâmica na Síria desencadeou também as atrocidades e atos de perseguição contra as minorias religiosas, em especial os cristãos.
Os militantes de grupos extremistas islâmicos são, atualmente, as maiores fontes de perseguição no país. Eles operam abertamente no Noroeste da Síria e em toda a região norte, conforme a Portas Abertas.
Nas áreas onde exercem controle, líderes islâmicos seguem uma política de marginalizar os cristãos e outras minorias ou de forçá-los a fugir para outras áreas.
Apesar das dificuldades para manter a fé num país que persegue cristãos e que ainda vive em guerra, há 638 mil pessoas que não negaram o nome de Jesus. Conforme o Índice de Perseguição de Cristãos em Países no Mundo, antes da guerra havia 2,2 milhões de seguidores de Cristo na Síria.
Números alarmantes
Conforme o Observatório Sírio para os Direitos Humanos — grupo de monitoramento com base no Reino Unido e uma rede de fontes na Síria — registrou a morte de 499.657 pessoas ao longo de mais de uma década.
Segundo a ONG, 160.681 vítimas eram civis, entre elas 25 mil crianças ou adolescentes. E se forem considerados os óbitos não identificados, ou seja, não possíveis de confirmar de maneira independente, o número sobe para 610 mil.
O grupo estima que 47 mil civis morreram de tortura em prisões administradas pelo governo e que quase 53 mil mortes relatadas não foram documentadas devido à falta de informações.
Só no mês de fevereiro deste ano, conforme o Centro de Documentação de Violações, 144.956 civis foram mortos. A organização atribui 165.490 dessas mortes às forças do governo sírio e 35.610 às facções da oposição.
Mais da metade dos 22 milhões de habitantes da Síria registrados antes da guerra fugiram de suas casas. Cerca de 6,9 milhões estão deslocados internamente, com mais de 2 milhões vivendo em acampamentos com acesso limitado a serviços básicos.
Outros 6,8 milhões são refugiados ou solicitantes de refúgio no exterior. Os vizinhos Líbano, Jordânia e Turquia, que abrigam 84% deles, têm sofrido para lidar com um dos maiores êxodos da história recente.
Em fevereiro de 2022, 14,6 milhões de pessoas vivendo na Síria precisavam de alguma forma de assistência humanitária, segundo a ONU, incluindo cerca de 5 milhões classificadas como em estado de necessidade extrema ou catastrófica.
Mais de 12 milhões de pessoas estão lutando para encontrar comida suficiente todos os dias — um aumento de 51% desde 2019 — e meio milhão de crianças estão cronicamente desnutridas, conforme reportagem da BBC News.
Crianças que morreram em consequência da guerra na Síria. (Foto: Wikimedia Commons)
Crise humanitária na Síria
Nos últimos dois anos, a crise humanitária foi agravada por uma desaceleração econômica sem precedentes, desencadeada pelas sanções dos EUA, a crise econômica libanesa e a pandemia por Covid-19. Do Oriente Médio, a Síria foi um dos países mais afetados pelo vírus.
A moeda síria perdeu cerca de 80% de seu valor em 2021 e a hiperinflação, que estava perto de 140% no início de 2022, fez com que os preços dos bens básicos disparassem. A taxa de pobreza atingiu 90% — um aumento sem precedentes.
Bairros inteiros e infraestruturas vitais em todo o país também permanecem em ruínas. Grande parte da rica herança cultural da Síria também foi destruída. Todos os locais considerados Patrimônios Mundiais da Unesco foram significativamente danificados.
Quem está no controle do país agora?
O governo de Assad recuperou o controle das maiores cidades da Síria, mas grande parte do país ainda está sob controle de rebeldes, jihadistas e das Forças Democráticas da Síria, sob a liderança dos curdos.
Não houve grandes mudanças nas frentes de batalha por dois anos. Em março de 2020, a Rússia e a Turquia intermediaram um cessar-fogo para interromper uma ofensiva do governo na tentativa de retomar a cidade de Idlib. Desde então, o conflito tem tido um período de relativa baixa atividade militar — mas isso pode mudar a qualquer momento.
Não há como prever o fim da guerra tão cedo, mas os negociadores concordam que é preciso encontrar uma solução política e não bélica. Das nove rodadas de negociações de paz mediadas pela ONU, nenhuma avançou, sendo a última em outubro de 2021.
O presidente Assad não demonstra vontade de negociar com grupos de oposição que insistem que ele deve renunciar como parte de qualquer acordo.
A Rússia, o Irã e a Turquia estabeleceram diálogos paralelos em 2017. Um acordo foi alcançado no ano seguinte para formar um comitê de 150 membros para a criação de uma nova constituição, levando a eleições livres e justas supervisionadas pela ONU.
O enviado especial da ONU, Geir Pedersen, disse que “uma solução militar é uma ilusão” e que uma solução política “é perfeitamente possível” desde que haja vontade por parte das lideranças.