Desde a virada do milênio, a hostilidade aos judeus tem aumentado globalmente. “Até recentemente, a maioria dos judeus americanos se sentia bastante imune a isso, mas não é o caso agora”, disse o professor e pesquisador Alvin Rosenfeld, diretor do Centro para o Estudo do Antissemitismo Contemporâneo da Universidade de Indiana, nos EUA.
Ele disse que desde quando fundou o programa de Estudos Judaicos, há cerca de 50 anos, percebeu o aumento da hostilidade antijudaica. Em dezembro, ele visitou o escritório do The Times of Israel, em Jerusalém, para uma ampla entrevista sobre as razões por trás do ódio aos judeus.
Ao citar os ataques brutais contra judeus em oração em diferentes sinagogas, nos EUA, Rosenfeld admitiu que as coisas não são tão hospitaleiras e acolhedoras quanto antes.
Ao ser questionado sobre a origem dessa violência, ele explicou que varia muito. “Está vindo da esquerda, está vindo da direita. Está vindo de certos segmentos militantes dentro das comunidades islâmicas”, citou.
“Também vem de certos segmentos muito agressivos dentro das comunidades negras, em certos sindicatos. Alguns campi não são mais tão acolhedores quanto no passado. Portanto, não há uma causa em particular. Mas quando somamos tudo isso, o que temos é um grau de hostilidade contínua, que parece estar aumentando”, observou.
‘Aumento desenfreado do ódio aos judeus’
Rosenfeld compartilha uma preocupação do falecido Elie Wiesel — escritor judeu que recebeu o Nobel da Paz de 1986 e que foi sobrevivente dos campos de concentração nazistas.
Wiesel dizia ter falhado em sua missão: “Eu pensei, todos nós pensamos, que quanto mais as pessoas soubessem sobre a perseguição e o assassinato em massa dos judeus, mais relutantes ficariam em falar hostilmente contra os judeus na esfera pública. Mas estávamos errados”, lamentou em seus últimos dias de vida.
“Para minha sorte, fui amigo de Elie Wiesel por cerca de quatro décadas. Quando o vi pela última vez, pouco antes de morrer, ele estava muito abatido”, lembrou ao citar que o escritor destacou o aumento desenfreado do ódio aos judeus.
Wiesel dedicou a vida para resgatar a memória do Holocausto, escrevendo 57 livros e ainda defendeu outros grupos vítimas das perseguições.
‘Uso recreativo do antissemitismo’
Para o professor que estuda o antissemitismo há décadas, é muito difícil entender como o tema pode ter apelo no mundo. “Não só tem apelo nos dias de hoje, como também há um certo ‘uso recreativo’ do antissemitismo, virou entretenimento”, refletiu Rosenfeld ao lembrar que já viu pessoas rindo dessa realidade.
Durante sua conversa com o The Times of Israel, ele foi lembrado sobre o quanto o mundo ficou mais aberto ao “anti-tudo”. É mais fácil e aceitável ser uma pessoa má, rude ou odiosa em público?
“A resposta à pergunta é sim, sim, sim. Boa parte disso se deve às redes sociais. Muitas pessoas passam muitas horas por dia sintonizadas em vários sites de mídia social em que não há qualquer tipo de restrição. Você pode dizer o que quiser sobre qualquer pessoa que queira atacar”, respondeu o professor.
“É um momento desagradável e perigoso em minha opinião. Se não houver restrições razoáveis, haverá explosões de ódio contra os judeus e vários outros grupos”, continuou.
‘Está piorando’
“Só Deus sabe o que vem pela frente. Não vai ser bom. Já não está bom e parece que está piorando”, alertou o professor que acredita não haver uma boa saída para um final feliz.
A hostilidade dirigida contra Israel é constante em certos bairros dos EUA e, conforme explica Rosenfeld: “A América está agora nas garras de um tipo muito polarizado de pensamento e ação. Há muita tensão entre os grupos”.
“A política de identidade agora ocupa o centro do palco e isso envolve raça, classe e gênero. E os judeus simplesmente não figuram nessas categorias. Na verdade, nos tornamos piores do que marginalizados. Às vezes, somos acusados de sermos os maus na história”, refletiu.
Na impossibilidade de encontrar uma solução definitiva, o professor fala em pelo menos amenizar a realidade existente. “Como professor, eu diria que a resposta está na educação. A educação vai ser importante, mas por si só não é suficiente”, afirmou.
Rosenfeld acredita que ajudaria muito se a liderança de forma geral se manifestasse: “A liderança política, cultural, religiosa e educacional. Estamos vendo um pouco disso, mas não o suficiente”.
“Mais trabalho precisa ser feito nas relações inter-religiosas, inter-raciais e intercomunitárias. Se avançarmos em alguma dessas áreas, isso ajudará. Mas, será que vai acabar com o ódio aos judeus? Não”, ele mesmo respondeu ao concluir.