PT quer criar secretaria de assuntos religiosos visando "pequenas igrejas"

Partido conta com pastores aliados e petistas históricos, como Benedita da Silva, para construir apoio de evangélicos ao futuro governo.

Fonte: Guiame, com informações do GloboAtualizado: terça-feira, 8 de novembro de 2022 às 13:45
Existem pelo menos 78,5 mil igrejas evangélicas “diversas”, que não pertencem a nenhuma grande denominação. (Foto: Jackson Samuel Costa/Unsplash)
Existem pelo menos 78,5 mil igrejas evangélicas “diversas”, que não pertencem a nenhuma grande denominação. (Foto: Jackson Samuel Costa/Unsplash)

Igrejas evangélicas de ‘pequeno porte’ estão na mira do futuro governo petista para se tornarem aliadas e parceiras na administração do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Segundo informa O Globo, aliados de Lula defendem que o futuro governo construa canais próprios de diálogo com lideranças evangélicas, segmento que apoiou majoritariamente a candidatura de Jair Bolsonaro (PL).

A proposta foi apresentada por representantes do PT e por pastores que colaboraram com a campanha de Lula. A ideia é criar uma secretaria de assuntos religiosos, vinculada a um ministério voltado para assistência social ou direitos humanos.

Existe ainda a ideia de fomentar uma espécie de federação de igrejas independentes para driblar a dependência de pastores das maiores denominações, diz o jornal carioca.

‘Escola de pastores’

O Pr. Paulo Marcelo Schallenberger, que foi escanteado pela Assembleia de Deus do Belém (SP) por apoiar Lula, defende uma extensão ministerial para “dialogar com líderes simples e anônimos”.

Schallenberger também pretende incentivar, numa iniciativa à parte do governo, a criação de uma “escola de pastores” e uma federação de “igrejas independentes”, que dê peso representativo a denominações menores:

“Essas igrejas já estão ajudando o Estado a ressocializar presos, a livrar pessoas das drogas, e podem receber melhores condições e recursos para isso. E a secretaria poderia ter interlocução direta com essa federação, sem precisar passar pelos ‘grandões’”, diz.

‘Conselhão’

Ainda para trazer os evangélicos para perto, também foi aventada a possibilidade reativar o extinto “Conselhão”, defendido pela deputada Benedita da Silva, que é evangélica.

O ex-ministro Gilberto Carvalho tem colocado a reestruturação da relação com igrejas como um dos principais temas do futuro governo. O petista foi um dos principais nomes da interlocução da campanha de Lula com religiosos e articulador da carta aos evangélicos.

No dia seguinte à vitória de Lula, Carvalho declarou ao podcast Três por Quatro, do site Brasil de Fato, que será preciso “sinalizar com clareza” e ter uma “ação abrangente” com os evangélicos, e considerou o segmento crucial para “reconstruir uma ampla base popular de governo” e chegar à população mais pobre, “que está sendo cuidada pelas igrejas”. Para Carvalho, o foco deve estar “nas pequenas igrejas, que são as que mais crescem”.

De acordo com a série Salto Evangélico, publicada em setembro pelo O GLOBO, existem pelo menos 78,5 mil igrejas evangélicas “diversas”, que não pertencem a nenhuma grande denominação, por vezes compostas por uma dezena de templos ou menos. O número é quase o dobro dos 43 mil templos da Assembleia de Deus, maior rede de igrejas do país.

Grandes lideranças

Na mesma entrevista, Carvalho criticou a postura de grandes lideranças, como o bispo Edir Macedo, fundador da Igreja Universal, a quem chamou de “useiro e vezeiro em enviar seus representantes ao Planalto” para negociar apoio nos governos Lula e Dilma. “Erramos em atendê-lo e esquecer a base”, disse o ex-ministro.

Presidente do PT, Gleisi Hoffmann criticou suposta declaração feita por Macedo dizendo que perdoa Lula. A petista afirmou que o líder da Universal “é quem precisa pedir perdão pelas barbaridades (ditas) sobre Lula”.

Conforme a reportagem, além de Schallenberger, o bispo Romualdo Panceiro, ex-integrante da Universal e que rompeu com Macedo em 2020, endossa a ideia de uma secretaria de assuntos religiosos.

“Quando houve o chute em Nossa Senhora Aparecida por um ex-bispo da Universal (em 1995), eu representava a igreja no México, onde havia uma secretaria desse tipo, e fui chamado ao governo porque queriam entender o que tinha ocorrido. Um secretário de assuntos religiosos seria um porta-voz do presidente para todas as religiões, e alguém que poderia assegurar a liberdade religiosa de acordo com o que prevê a lei”, afirma Panceiro.

Liberdade religiosa

Com modelo em gestões do PT em municípios, órgão ficaria responsável pela interface entre governo federal e igrejas e por assegurar liberdade religiosa. A ideia vem sendo gestada por lideranças do partido e pastores que apoiaram Lula.

Em entrevista ao GLOBO, o prefeito de Araraquara, Edinho Silva (PT), um dos coordenadores da campanha de Lula, disse que é “plenamente possível” fazer parcerias com igrejas, por exemplo, no atendimento à população em vulnerabilidade.

Em Maricá (RJ), a gestão do ex-prefeito e deputado eleito Washington Quaquá (PT) teve um pastor da Assembleia de Deus como secretário de assuntos religiosos.

“Quem comandar a área social do governo precisa trazer as igrejas para participar do projeto de país”, diz Quaquá.

Nos governos Lula e Dilma, os evangélicos ficaram à frente de pastas como a Pesca e do Esporte, sem relação direta com agendas caras às igrejas. Na gestão Bolsonaro, pastores ascenderam a ministérios como da Educação, com o presbiteriano Milton Ribeiro, e dos Direitos Humanos, com Damares Alves.

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