China usa dispositivo para testar lealdade de funcionários ao Partido Comunista

“Isso mostra que o PCC está se tornando cada vez mais totalitário”, disse um sociólogo chinês.

Fonte: Guiame, com informações de RFAAtualizado: terça-feira, 5 de julho de 2022 às 17:52
Ditador chinês, Xi Jinping. (Foto: Flickr/Casino Connection)
Ditador chinês, Xi Jinping. (Foto: Flickr/Casino Connection)

Um instituto de inteligência artificial, em Anhui, na China, diz ter aperfeiçoado um dispositivo capaz de “testar a lealdade” de funcionários ao Partido Comunista Chinês (PCC). 

Trata-se de um polígrafo — aparelho detector de mentiras, que mede e grava variáveis fisiológicas — com capacidade de fazer varreduras faciais. Com essa tecnologia, eles esperam determinar o nível de comprometimento dos chineses

Um pequeno vídeo enviado para o Weibo — plataforma que segue o estilo do Twitter — do “Hefei Comprehensive National Science Center”, em 30 de junho, disse que o projeto era um exemplo de “inteligência artificial que fortalece a construção do partido”. 

A postagem no Weibo foi posteriormente excluída, mas um resumo em texto do vídeo, produzido em homenagem ao aniversário do PCC em 1º de julho, permaneceu disponível no Internet Archive.

“Garantir a qualidade das atividades dos membros do partido está se transformando em um problema que precisa de coordenação”, diz o texto conforme a Rádio Free Asia.

Sobre o equipamento

“Este equipamento é uma espécie de ideologia inteligente, usando tecnologia de inteligência artificial para extrair e integrar expressões faciais, leituras de EEG [eletroencefalograma] e condutividade da pele”, dizia a descrição. 

“Ele pode fornecer dados reais para organizadores de educação ideológica e política, para que possam continuar melhorando seus ‘métodos de educação’ e enriquecendo o conteúdo”, afirmava ainda. 

Na descrição diz também que o dispositivo depende de “computação emocionalmente inteligente”, entre outros métodos, para medir até que ponto os indivíduos “se sentem gratos ao PCC e fazem o que ele diz, seguindo sua liderança”. 

No vídeo, conforme relatado pelo jornal Ming Pao, de Hong Kong, um pesquisador de branco entra em uma sala e se senta em frente a uma tela para fazer um teste, antes de receber uma pontuação.

Críticas ao PCC e comparação com o Big Brother

Antes da postagem ser excluída, alguns comentários criticaram a ideia como “lavagem cerebral de alta tecnologia”, enquanto outros disseram que “Big Brother os estaria assistindo”.

Vale citar que o programa Big Brother (Grande Irmão) foi inspirado na distopia futurística de 1984, obra que o escritor George Orwell criou para falar de uma sociedade onde todos os cidadãos são filmados e vigiados o tempo todo.

O ditador conhecido como “Big Brother” podia ver tudo em suas telas de TV e ainda manipular a forma de pensar de cada pessoa. No caso do programa, o ditador é o próprio apresentador — único contato com o mundo externo — que dita as regras para as pessoas confinadas em uma casa. 

Motivo da remoção do post

Conforme o sociólogo chinês, Song Da'an, o post foi removido devido à sua sensibilidade política.

“O Hefei Comprehensive National Science Center tem usado a biotecnologia para medir a lealdade dos membros e quadros do partido. Isso mostra que o PCC está se tornando cada vez mais totalitário”, comentou. 

Ele explica que, na lógica de uma sociedade totalitária, cada vez mais ênfase é colocada em refinar o controle. 

“Os membros do partido são vistos como parafusos [que podem se soltar] e potencialmente causar danos. Se eles escaparem podem se tornar inimigos da máquina”, disse ainda.

“Medo de perder o poder político?”

“O uso dessa tecnologia em funcionários demonstra o estado lamentável das coisas dentro do Partido”, disse Song.

“Eles estão consolidando seu poder para que os funcionários fiquem firmes. Será que eles querem consolidar sua posição por medo de perder o poder político?”, questionou Zhang, um comentarista de Jiangxi. 

Lembrando que, em 2018, as autoridades da província de Zhejiang instalaram um “olho que tudo vê” em uma sala de aula do ensino médio para detectar alunos que não estavam prestando atenção ou que adormeciam na aula, conforme a mídia oficial.

“O sistema pode realizar análises estatísticas sobre os comportamentos e expressões dos alunos na sala de aula e fornecer feedback oportuno sobre comportamentos anormais”, diz um relatório.

Os dados coletados pelo sistema são analisados ​​pelo software, e o comportamento excessivamente desatento ou sonolento gera um alerta para o professor advertir o “infrator. Porém, os dados também podem ser usados ​​para avaliar o desempenho dos professores em sala de aula.

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