Meninas e mulheres cristãs na Indonésia têm sido forçadas a usar o hijab, o véu islâmico que cobre o cabelo, pescoço e peito. Aquelas que não obedecem ao código de vestimenta repressivo sofrem ameaças e bullying na escola e no trabalho.
Em entrevista à Human Rights Watch (HRW), uma organização que atua pelos direitos humanos, cem mulheres indonésias denunciaram que sofreram abusos por se recusarem a usar o véu.
A obrigação de cobrir a cabeça é uma regra para mulheres muçulmanas. Entretanto, as estudantes e profissionais que não seguem o islã também são obrigadas a vestir o hijab.
“Quase 150 mil escolas nas 24 províncias, de maioria muçulmana, da Indonésia, atualmente impõem regras obrigatórias de jilbab (hijab), com base em regulamentos locais e nacionais. Em algumas áreas muçulmanas conservadoras, como Aceh e Sumatra Ocidental, até meninas não muçulmanas também foram forçadas a usar o hijab", afirmou um relatório recente da HRW.
Duas das mulheres entrevistadas pela organização, afirmaram que sofreram ameaças de morte nas redes sociais.
Ameaças e intimidações
"Uma vez [no primeiro ano do ensino médio em 2012], fui abordada por uma professora de história. Ela me repreendeu, jurando que eu 'não teria sucesso sem o jilbab e iria para o inferno'. Chorei e me senti humilhada, pois aconteceu na frente da turma”, disse Sheilana Nugraha, uma cristã de 25 anos.
Segundo Nugraha, pelos quatro dias seguintes após a repreensão, outros professores muçulmanos também a intimidaram.
“O professor de religião islâmica não me fez chorar, mas foi sarcástico. O professor de matemática também. Minhas notas foram afetadas [pelo sofrimento psicológico]. O diretor não fez nada para me proteger”, relatou a cristã.
Leis de vestimenta repressivas
Com as denúncias de violação da liberdade religiosa, a Human Rights Watch está pedindo ao governo da Indonésia que invalide as mais de 60 leis de código de vestimenta, baseadas na lei sharia, em todo o país.
"O presidente Joko Widodo deve derrubar imediatamente os decretos provinciais e locais discriminatórios e que violam os direitos das mulheres e meninas", declarou a diretora da HRW na Ásia, Elaine Pearson.
"Esses decretos causam danos reais e, na prática, só serão encerrados pela ação do governo central”.
Na Indonésia, o país mais islâmico do mundo, há 20,4 milhões de protestantes e 8,42 milhões de católicos. Juntos, os cristãos representam 10,58% da população, conforme dados do Departamento de População e Registro Civil do Ministério da Administração Interna.
Perseguição na Indonésia
A perseguição aos cristãos na Indonésia tem piorado nos últimos anos. Houve três ataques aos cristãos em um intervalo de seis meses entre 2020 e 2021, matando oito cristãos. A sociedade indonésia tem assumido um caráter islâmico mais conservador, colocando ainda mais pressão nos cristãos.
Igrejas engajadas em trabalhos evangelísticos correm o risco de ser alvo de grupos extremistas islâmicos. Há certos locais, como Java Ocidental e Aceh, onde grupos extremistas são fortes e exercem uma forte influência na sociedade e na política.
Em algumas regiões, grupos de igrejas enfrentam dificuldade em conseguir permissão para construir igrejas. Mesmo se eles trabalharem para conseguir todos os requisitos legais (incluindo vencer casos judiciais), as autoridades locais muitas vezes os ignoram.
O país ocupa o 28º lugar na Lista Mundial da Perseguição 2022, que classifica os 50 países onde os cristãos são mais perseguidos no mundo.