Enquanto a invasão russa à Ucrânia vem causando uma grande mobilização internacional, há outros conflitos sangrentos acontecendo pelo mundo. Há mais mortes e sofrimento humano sendo causados através de guerras do que se imagina.
Infelizmente, há pouco foco e pouca mobilização para ajudar essas pessoas que passam pelos mesmos tormentos que os ucranianos, talvez até piores.
É o caso da Etiópia que vive uma guerra há mais de 1 ano, mas as imagens de calamidade por lá quase não são vistas nos noticiários.
Qual o motivo da guerra na Etiópia?
Resumidamente, a guerra na Etiópia acontece por disputa de poder. Um grupo terrorista do partido TPLF, que já governou o país africano, quer voltar a dominar.
A guerra começou em novembro de 2020, contra a Frente de Libertação do Povo do Tigré (TPLF, na sigla em inglês), região que fica ao norte do país. As milícias rebeldes querem derrubar o governo do primeiro-ministro Abiy Ahmed.
Grupos militantes etíopes atacam os civis com violência. (Foto representativa: Wikimedia Commons)
Ahmed, por sua vez, pediu aos etíopes que pegassem armas para lutar contra os militantes. Desde então, o país vive uma intensa guerra civil, sangrenta e sem previsão para terminar.
Os soldados do TPLF estão chegando cada vez mais perto da capital, Adis Abeba, que pode ser transformada num verdadeiro campo de batalha e piorar ainda mais a situação.
Muitas cidades já foram tomadas pelo grupo de forma violenta. Há denúncias de graves violações dos direitos humanos, incluindo estupros, torturas e massacres a civis.
Milhares de pessoas inocentes morreram e centenas de milhares sofrem com a fome em meio à guerra.
O conflito chocou a comunidade internacional em relação à postura do líder do país, que recebeu o prêmio Nobel da Paz, em 2019, por ter resolvido um conflito histórico com a vizinha Eritreia. Agora ele é acusado por grandes massacres.
Abiy Ahmed recebendo o Prêmio Nobel da Paz, 2019. (Foto: Wikimedia Commons)
Crise humanitária
É muito difícil ter dados exatos do desastre humanitário, já que observadores internacionais estão impedidos de entrar nas partes do país que foram mais atingidas pelo conflito, principalmente no próprio Tigré.
Em julho, funcionários da ONU estimaram que 400 mil pessoas passavam fome na região. O número pode ser ainda maior, com o agravamento da crise nos últimos meses. Já se fala em milhões de famintos no país, de acordo com o G1.
Também não se sabe o total exato de mortos na guerra. Fontes do Tigré falam em 100 mil, outro número que pode ser muito maior.
Em setembro, um porta-voz da diplomacia dos Estados Unidos disse que o governo etíope bloqueou acesso a serviços básicos como energia elétrica, bancos ou telecomunicação aos moradores do Tigré.
Essas atitudes lideradas por Ahmad contrastam com o prêmio Nobel da Paz conquistado por ele. Há inúmeras acusações de crimes de guerra, dos dois lados.
Situação do cristãos etíopes
Além da guerra e de todos os desafios e sofrimentos que ela trás, os cristãos enfrentam o extremismo islâmico. Particularmente, nas partes leste e sudeste do país, os convertidos do islamismo ao cristianismo podem ser perseguidos e oprimidos pela família e comunidades vizinhas.
“Meus parentes são muçulmanos e oram cinco vezes ao dia. Quando aceitei Jesus, parei de orar com eles. Eles me disseram que eu contaminei a cultura e que traí a eles e à fé”, disse Khalid, conforme a Portas Abertas.
“Eles me forçaram a sair de casa e se recusaram a me dar comida e abrigo. Eles até ameçaram me matar, pois acham que quando eu ficar com fome, vou voltar. Apesar de todas essas coisas, a proteção de Deus me salvou”, continuou.
Khalid é só um exemplo entre milhares. Em algumas regiões, os cristãos não têm acesso aos recursos da comunidade, são condenados ao isolamento e discriminados. Além disso, alguns podem ser mortos quando extremistas islâmicos atacam igrejas e casas.
Como o governo tem um relacionamento especial com a Igreja Ortodoxa Etíope, outras denominações — especialmente protestantes evangélicos e pentecostais — são perseguidas pelo Estado.
Os cristãos que mudam de denominação e deixam a Igreja Ortodoxa estão sujeitos à pressão da família e da comunidade e podem enfrentar maus tratos significativos. As igrejas também podem ser impedidas de realizar reuniões religiosas.
Mesmo em meio à guerra, cristãos se reúnem para orar na Etiópia. (Foto representativa: Wikimedia Commons)
Mais sobre a Etiópia
O país que fica no Chifre da África é um dos mais antigos do mundo. A Etiópia já teve seus destaques, entre eles o de ser uma das maiores potências marítimas e comerciais.
Além disso, a nação foi uma das primeiras a adotar o cristianismo como religião oficial, ainda no quarto século. Atualmente, cerca de 60% da população é cristã.
O país mais independente da África nunca foi totalmente colonizado. Porém, em 1974, a monarquia foi deposta por um regime ditatorial marxista linha dura, responsável por inúmeros abusos de direitos humanos e por uma crise que ceifou mais de 1 milhão de vidas.
A partir de 1980, a Etiópia viveu seu pior momento e as cenas de pessoas raquíticas, literalmente morrendo de fome, inclusive crianças, são lembradas até o dia de hoje.
Houve uma certa estabilidade do país, a partir de 1990, quando apresentou uma grande melhora econômica. Em 2022, porém, a realidade é desanimadora. A Etiópia vive momentos de tensão, extrema violência, fome, perseguição aos cristãos, instabilidade política e num cenário de guerra sem perspectiva de soluções diplomáticas.