Guerras atuais: O que acontece no Afeganistão pode ser considerado uma guerra?

Depois que o Talibã tomou o poder, em agosto de 2021, eles afirmaram que venceram a guerra contra os EUA. Porém, os crimes cometidos contra a humanidade são cada vez piores por lá.

Fonte: Guiame, Cris BeloniAtualizado: segunda-feira, 6 de junho de 2022 às 17:15
Atirador afegão. (Foto ilustrativa: Pxhere)
Atirador afegão. (Foto ilustrativa: Pxhere)

A guerra na Ucrânia ainda está em evidência por causar tanta morte e destruição. Porém, há outras guerras não resolvidas e abandonadas pela imprensa, onde muitos crimes contra a humanidade continuam a ser cometidos.

Desde que o poder no Afeganistão foi tomado pelos talibãs, em agosto de 2021, os afegãos têm enfrentado uma grave crise humanitária e um cenário digno de uma guerra. 

No passado, o país já representou um dos conflitos mais noticiados do mundo, após os ataques de 11 de setembro de 2001, nos Estados Unidos. O governo americano invadiu o país após descobrir que o Talibã estava por trás dos atentados e responsabilizou Osama bin Laden, o chefe do grupo extremista Al-Qaeda, capturado e morto em 2 de maio de 2011. 

A presença dos soldados americanos no Afeganistão durante os últimos 20 anos deu uma trégua aos cidadãos afegãos, que passaram a desfrutar um pouco da liberdade que eles não conheciam sob o governo extremista muçulmano

O que acontece no Afeganistão é uma guerra?

O Afeganistão viveu um longo período de intensos combates, resultando em milhares de mortes. O nível de violência caiu bastante no país, durante as duas décadas em que o governo americano esteve por lá. 

Além dos EUA, outras nações entraram na guerra em apoio aos americanos — como a França, a Alemanha e o Reino Unido — e o Talibã perdeu terreno. A coalizão conseguiu estabelecer, em Cabul, um governo apoiado pelo Ocidente.

Porém, atualmente, a realidade é outra. Com a volta do Talibã, veio uma opressão ainda maior e muitos tiveram que fugir do país para não morrer. O Afeganistão foi indicado para a lista de piores violadores da liberdade religiosa no mundo.

Porém, na visão dos talibãs, eles venceram a guerra contra os EUA. Os americanos, por outro lado, afirmaram que a missão deles no país foi um sucesso, já que conseguiram matar Bin Laden. 

No entanto, a operação batizada como “Liberdade Permanente” não parece ter garantido a manutenção das liberdades individuais, um dos temores principais com a volta do Talibã ao poder.

Se existe uma guerra, hoje, no Afeganistão, ela tem origem religiosa, já que o Talibã é considerado um grupo extremista muçulmano que deseja impor a Sharia (lei islâmica) a qualquer custo, mesmo que para isso seja necessário matar as pessoas que não concordam com suas regras extremamente rígidas.


Crianças no Afeganistão. (Foto: Guy Lawson/USAID)

Como o Talibã trata aqueles que não concordam com suas regras?

No caso das minorias religiosas, há assédio, detenção e morte por causa de fé e crenças. Milhares de pessoas já fugiram do país por esse motivo e os cristãos, judeus, hindus [entre outras crenças], que permaneceram vivem escondidos. 

Mas não é só isso, as mulheres foram impedidas de frequentar escolas e faculdades. A comunidade internacional tem se manifestado sobre isso, pedindo às autoridades que respeitem os direitos femininos. 

O regime fundamentalista já prendeu várias ativistas que defenderam os direitos das mulheres, conforme já noticiou o Guiame

Jornalistas, artistas, fotógrafos, músicos e outros profissionais que representam uma ameaça ao regime ditador também correm risco de vida. 

Pessoas caçadas, espancadas e ameaçadas de morte

Atualmente, minorias religiosas, profissionais e mulheres vivem com medo. “Estão todos fugindo. Estão todos escondidos”, revelou Nina Shea, diretora do Centro de Liberdade Religiosa do Instituto Hudson e ativista de direitos humanos há 30 anos. 

“As pessoas estão sendo caçadas, espancadas e ameaçadas de morte se não traírem membros de suas famílias que são considerados apóstatas pelo Talibã. É impossível não discutir a liberdade religiosa durante esta crise”, ela disse. 

Tudo o que o Talibã faz é sobre religião. A religião está envolvida quando enforcam pessoas por violarem sua abordagem à lei islâmica ou quando atacam mulheres e meninas que querem ir à escola. Para o Talibã, tudo isso está conectado”, continuou.

Ela explica que o problema é que as preocupações com a liberdade religiosa são muitas vezes abafadas durante debates sobre política, economia, mudança climática e outras questões em focos violentos em todo o mundo. 

Sobre a crise humanitária

Com o Talibã no governo, o país vive uma crise humanitária sem precedentes, com a economia de mal a pior e a fome assolando uma enorme parcela da população. 

Conforme o G1, a situação é considerada muito crítica e o país depende de doadores internacionais para fornecer assistência humanitária. Em algumas regiões, a situação é tão dramática que famílias chegam até a vender suas filhas para não morrer de fome.

Durante a atual “guerra”, os afegãos lutam por suas liberdades e direitos, por comida, dignidade,  paz e por suas próprias vidas. E a guerra anterior, que foi considerada oficial, virou até filme. 

Dentro do Top 10, “Posto de Combate” chegou ao catálogo brasileiro da Netflix no dia 30 de maio. A história real de soldados americanos lutando contra o Talibã é contada no longa, dando destaque à Batalha de Kamdesh.


Cena do filme Posto de Combate. (Foto: Captura de tela/YouTube Filmelier BR)

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