A guerra que já dura mais de um mês, na Ucrânia, já mostra graves consequências para o mundo. A interrupção do fornecimento de gás e petróleo russo fez disparar os preços da energia.
Além disso, sem as exportações de grãos ucranianos, deu-se início a uma crise nos mercados globais, o que afeta diretamente na crise alimentar que já é uma realidade em diversos países.
Muitos poderiam se perguntar como tudo isso pode acontecer em apenas um mês. Porém, há mais de dois o mundo já saiu de sua “zona de conforto” quando foi surpreendido pela Covid-19, que gerou uma pandemia jamais vista na história da humanidade.
Surto de Covid-19 gerou crises inesperadas no mundo todo. (Foto: Wikipedia)
Realidade da crise alimentar
Durante a pandemia, houve escassez de produtos básicos no norte da África e no Oriente Médio, após o abalo na cadeia de suprimentos em todo o mundo.
Logo, a crise alimentar foi acentuada pela “falta de alimentos”, e com a guerra na Ucrânia, ficará mais intensa por causa dos “altos preços dos alimentos”.
No geral, o que ficou mais caro? Vários produtos básicos como trigo, milho e petróleo. E quais os países mais atingidos?
De acordo com o Jerusalem Post, países como Líbia, Tunísia, Iêmen, Egito, Líbano, Argélia e Territórios Palestinos começam a sentir os impactos mais fortes, pois dependem tanto da Ucrânia quanto da Rússia.
“Os dois países em conflito são os fornecedores essenciais de alimentos para países de baixa e média renda, nos quais dezenas de milhões de pessoas já estão em situação de insegurança alimentar”, explicou ao The Media Lines, Tim Prewitt, presidente e CEO do The Hunger Project.
Tim é um palestrante altamente conceituado e especializado em assuntos relacionados à agricultura, pobreza e desenvolvimento econômico. Ele já palestrou no Fórum Econômico Mundial e abordou temas que apontam para empresas e comunidades que influenciam na alimentação da humanidade.
O especialista já fez um alerta sobre a possibilidade do mundo viver uma escassez de alimentos de longa duração, além da realidade de mais desnutrição e fome aguda em diversos lugares.
Momento de refeição na Índia. (Foto: Pixabay/Balouriarajesh)
Outros fatores geradores de crise
Na semana passada, a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação também alertou sobre o perigo de fome severa, já que a guerra na Ucrânia ameaçou o fornecimento de alimentos básicos.
Além disso, apontou para a crise no setor de turismo, especialmente no Egito, que recebia turistas russos e ucranianos durante o inverno, conforme Mohammed Khabisa, um analista econômico da cidade palestina de Ramallah.
“Tudo isso ocorre num momento em que muitos governos do Oriente Médio vêm tentando conter a inflação, desde o último trimestre do ano passado. A guerra na Ucrânia aumentou o fardo da inflação e colocou custos adicionais em seus ombros”, ele observou.
Alex Coman, consultor econômico de Israel, também disse que a interrupção no fornecimento de trigo e milho para o mundo atingiu Israel. “Vimos os preços do pão subirem nas últimas semanas”, comentou.
“Em Israel temos controle de preço do pão básico, que é decidido pelo governo para garantir que os pobres possam comprar pão”, explicou. Alex lembra que a Páscoa está chegando, época em que os judeus consomem mais farinha.
“Na Páscoa comemos matzá [pão sem fermento], tanto os ricos quanto os pobres. Acredito que o governo não vai aumentar os preços”, observou.
Se a guerra continuar…
Conforme o economista e analista marroquino, Khaled Benali, quanto mais tempo durar essa guerra, mais caro será o preço para o mundo, principalmente para os países do norte da África.
Soldados ucranianos. (Foto: Nara & Dvids Public Domain Arquive)
“Haverá instabilidade na segurança alimentar global e regional”, observou ao apontar para o Marrocos, que sofreu com a escassez de chuva durante o inverno. A seca enfrentada pelo país afetará diretamente a produção agrícola.
“A magnitude do impacto negativo na economia nacional já é enorme”, disse ao lembrar que os governos do norte da África devem absorver o aumento do custo a fim de reduzir as repercussões econômicas nacionais.
‘Crise alimentar gera agitação política’
O que pode-se observar é que, no passado, aumentos acentuados nos preços dos alimentos causaram agitação política no Egito e em outros países árabes, levando milhares de pessoas às ruas, dando início à tão conhecida Primavera Árabe.
O consultor de Israel disse que os observadores temem que o conflito revolucionário tenha uma “segunda edição”.
“Tenho certeza de que o governo egípcio e outros governos árabes estão conscientes de que a Primavera Árabe não foi alheia à crise alimentar de 2008-2009”, reforçou Tim Prewitt.
Ou seja, quanto mais o conflito atual demorar, mais prolongado será o efeito negativo sobre a disponibilidade de alimentos. Prewitt revela ainda que, se países como a China, continuar estocando trigo para se proteger de choques de preços “só vai contribuir para que os preços subam ainda mais”.
Se isso acontecer, países menores terão que pagar mais caro ainda. Mas ele também sugere uma possibilidade: “Cultivar alimentos diretamente é a resposta. Quanto menos dependentes os países são das importações, mais fortes eles se tornam”, resumiu.
Há países vendendo os próprios filhos para não morrerem de fome. (Foto representativa: Pixabay/Billycm)
Profecia bíblica sobre a fome
A Bíblia diz que “haverá fomes em vários lugares”, conforme Mateus 24 e, no livro de Apocalipse 6 diz que haverá um tempo de escassez extrema de alimentos, em todo o mundo.
Simbolicamente, o apóstolo João descreveu esse acontecimento como “a passagem do cavalo preto”, por ocasião da abertura do terceiro selo.
Diante das atuais notícias, podemos dizer que esse tempo está próximo? Quando a pandemia surpreendeu o mundo, ninguém pensava na “cadeia de suprimentos” como pensa agora.
Esse tipo de preocupação só se tornou real devido à falta de matéria prima, produção e tecnologia. Quase tudo faltou durante a pandemia, quando o mundo “precisou parar”.
A falta de alimento, porém, foi o fator mais preocupante e que desencadeou uma realidade econômica totalmente diferente do que se esperava antes da pandemia. Na escassez os preços subiram e, automaticamente, aumentou a pobreza no mundo.
“Um quilo de trigo por um denário, e três quilos de cevada por um denário, e não danifique o azeite e o vinho” (Ap 6.5-6).
Especialistas bíblicos explicam que o cavalo preto simboliza a escassez e que a balança era usada para pesar o alimento. O denário era uma moeda de prata que correspondia ao salário médio de um dia de alguém assalariado.
O trigo era o alimento principal no mundo antigo, e a cevada era o alimento mais barato, por isso mais acessível aos pobres. Em tempos normais, um denário poderia comprar de 12 a 16 quilos de alimento.
O texto profético, portanto, aponta para um período de situação tão crítica que as pessoas não serão capazes de comprar nem o alimento para o próprio sustento. Na época em que esse texto foi escrito, estes eram os principais alimentos das nações naquelas regiões, essenciais à vida comum, daí o motivo de serem citados nas Escrituras.
Tudo indica que a profecia aponta para um abalo muito grande na economia mundial, mas ainda não chega a ser uma catástrofe, por isso é um evento que não pertence à Grande Tribulação e sim ao “Princípio das Dores”, conforme alguns especialistas bíblicos.
Vale lembrar, porém, que no Reino de Deus “não há rico nem pobre”, pois todos são um em Cristo Jesus. A desigualdade social que enfatiza tanto a pobreza e a fome no mundo não deve ser motivo de preocupação para os cristãos.
“Não me dês nem pobreza nem riqueza; dá-me apenas o alimento necessário. Se não, tendo demais, eu te negaria e te deixaria, e diria: ‘Quem é o Senhor?’ Se eu ficasse pobre, poderia vir a roubar, desonrando assim o nome do meu Deus.” (Provérbios 30.7-9)