“As crianças tiveram suas infâncias arrancadas”, aponta relatório após 1 ano de Talibã

Como resultado da crise no Afeganistão, muitas crianças estão apresentando sinais de problemas mentais.

Fonte: Guiame, com informações de Eternity NewsAtualizado: quinta-feira, 18 de agosto de 2022 às 14:12
Crianças afegãs. (Foto representativa: Flickr/Nato Training Mission Afghanistan)
Crianças afegãs. (Foto representativa: Flickr/Nato Training Mission Afghanistan)

São inúmeros os problemas que envolvem as crianças no Afeganistão, principalmente depois que o Talibã tomou o governo do país, impondo regras injustas e absurdas, conforme as críticas internacionais.

De acordo com o novo relatório da Visão Mundial Austrália, divulgado na última segunda-feira (15), as crianças afegãs “foram mergulhadas num abismo de sofrimento” por conta da fome, casamento precoce e trabalho infantil. 

O relatório “Afeganistão: uma crise infantil” chega um ano depois que o Talibã assumiu o controle, em 15 de agosto de 2021. As descobertas são baseadas em uma pesquisa com mais de 800 pais, cuidadores e seus filhos, e mostra um quadro sombrio de como as vidas foram impactadas.

“As crianças estão tendo suas infâncias arrancadas”

Mais de 53% das crianças, em quatro províncias do noroeste, estão gravemente desnutridas. Há notícias de que 95% das pessoas em todo o país não têm comida suficiente

Em Badghis, Ghor, Faryab e Herat, a renda familiar média é de aproximadamente 5 reais (1,35 dólar australiano, conforme indica a pesquisa). O relatório também descobriu que 7 em cada 10 meninos, e mais da metade de todas as meninas foram enviados para trabalhar em vez de frequentar a escola. 

“As crianças estão tendo suas infâncias arrancadas. Mesmo a própria sobrevivência é agora um desafio para muitas dessas crianças que foram arrastadas para um abismo de sofrimento”, disse Daniel Wordsworth, CEO da Visão Mundial Austrália.

Situação difícil para os pais

“Este é um país em queda livre. A vida tem sido difícil há muito tempo no Afeganistão, mas só foi agravada por conflitos políticos, eventos econômicos, climáticos e o impacto persistente da pandemia por Covid-19”, observou Daniel. 

“A situação ficou tão ruim que os pais estão tendo que tomar decisões muito difíceis enquanto seus filhos passam fome. Eles devem enviá-los para trabalhar ou arranjar casamento infantil para garantir a sobrevivência da família. Algumas famílias estão nos dizendo que não podem nem ter acesso a sementes para comer”, revelou. 

Outras histórias compartilhadas com a equipe de pesquisa incluem bebês severamente desnutridos cujos irmãos já morreram, crianças que faltam à escola para pegar água devido à seca e meninas se escondendo de medo enquanto os homens que foram prometidos em casamento tentam levá-las embora. 

Uma menina de 12 anos, Farida, disse à Visão Mundial: “O divórcio é o único sonho que tenho na minha vida”.

Problemas mentais em crianças

O relatório revelou que o sistema de saúde pública do Afeganistão também está em crise, criando riscos significativos para mulheres e crianças — 64% dos bebês nascem em casa e menos de um terço dos partos são atendidos por um profissional qualificado. 

A diminuição dos serviços de saúde e da formação de profissionais estão contribuindo para o aumento da mortalidade infantil e materna. Como resultado da crise, 66% das crianças estão apresentando sinais de problemas de saúde mental.

O desenvolvimento “duramente conquistado” nas últimas décadas, corre o risco de ser perdido para sempre com o novo governo. 

Por um futuro melhor

A Visão Mundial compartilhou que tem trabalhado no sentido de abrir portas para novas oportunidades e futuros melhores para as meninas e meninos do Afeganistão.

“No ano passado, a Visão Mundial Austrália ajudou 1,1 milhão de afegãos, fornecendo alimentos, água potável, serviços de saúde, apoio nutricional e psicossocial, bem como serviços de proteção e educação”, diz o relatório. 

“No entanto, apenas nos últimos 12 meses, o número de pessoas que enfrentam fome aguda aumentou 60%”, concluiu.

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