Com a volta do Talibã ao poder, desde agosto, muitas universitárias tiveram que abandonar as aulas e não poderão mais se formar conforme os planos anteriores.
O reitor da Universidade de Cabul, no Afeganistão, Mohammad Ashraf Ghaira, anunciou na segunda-feira (27) que mulheres e professoras serão proibidas nos cursos da instituição.
“Eu dou a vocês minha palavra como reitor da Universidade de Cabul, enquanto não houver um ambiente realmente islâmico para todos, não será permitido às mulheres vir à universidade ou trabalhar. Islã primeiro”, escreveu Ghairat em uma rede social.
Promessas não cumpridas
Os líderes do regime haviam dito que as mulheres poderiam estudar, mas desde que não fosse na mesma sala dos homens. Agora, porém, os planos mudaram e elas sequer podem entrar na Universidade.
Segundo o jornal The New York Times, as funcionárias da Universidade de Cabul reclamaram da nova regra. Elas dizem que o Talibã não tem o monopólio da interpretação da fé islâmica.
Fora do cenário acadêmico, a situação também não é tranquila. De acordo com o G1, uma mulher foi despejada à força de sua própria casa, seus filhos foram assassinados e suas noras forçadas a se casarem com os talibãs.
Não há futuro para as mulheres no Afeganistão
“Eu nunca me senti tão desamparada, sem esperança, desapontada e miserável como agora, em toda minha vida”, disse uma jovem afegã que vive na Índia, durante uma reportagem do G1.
O Talibã é conhecido, principalmente, por suas políticas contra as mulheres, incluindo punições como apedrejamentos, amputações e execuções públicas. Com medo, há relatos de mulheres que estão escondendo seus diplomas e se trancando em casa.
Uma ativista conta que viu a mãe ser chicoteada pelo Talibã simplesmente porque descobriu o rosto em público. Com o atual cenário, ela disse que “sente que o Afeganistão vai voltar para esses dias”.
Embora o regime terrorista sinalize moderação, a verdade é que a situação parece ainda pior que antes. Uma professora que está vivendo numa tenda, em Cabul, disse que na província onde vivia, duas meninas foram agredidas por “usarem sandálias”. Os talibãs disseram que elas estavam tentando atrair a atenção dos homens.
Protesto de mulheres ocorrido em Herat, em 2 de setembro. (Foto: AFP)
Carta de uma afegã
Após deixar a faculdade, uma afegã de 21 anos, que estudava Engenharia na Universidade de Cabul, e que iria se formar em 2022, escreveu uma carta em persa [seu idioma] a outras mulheres, em forma de poema.
“Não chore, meu bem. Aqui também nossos direitos estão sendo ignorados como os seus, e aqui, também, milhares de mulheres são mantidas caladas. Porque elas não podem gritar alto. Nenhuma mão curaria seu corpo ferido”, diz o início do poema.
“Não chore. Aqui estão homens cujos pontos de vista e pensamentos representam a ignorância e a desigualdade. Choro do fundo do meu coração pela tua inocência, pelo teu rosto infantil, pelas tuas mãozinhas que são as mais desamparadas”, continua o texto.
“Na história, nós, independentemente da raça e classe, somos pessoas do mesmo gênero, cujos corações batem por causa da opressão que sofremos. Não chore, meu bem. Seu choro espalha dor em minha alma e corpo e a sensação de medo e de tormento parte das minhas mãos vazias e invade meus olhos”, citou.
Esteja você onde estiver, nosso mundo é corrupto e sujo, e nossa existência está diretamente relacionada ao nosso gênero. Não chore”, concluiu.
O grupo extremista já esteve no poder uma vez antes, entre 1996 e 2001, e nesses anos as mulheres não podiam estudar — elas não podiam nem mesmo andar em público se não estivessem acompanhadas de um parente homem.
O novo governo foi composto inteiramente por homens, e as mulheres foram proibidas de voltarem ao trabalho. O grupo afirmou que se trata de uma proibição temporária, por motivos de segurança.
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