Água

Água

Fonte: Atualizado: sábado, 29 de março de 2014 às 03:32

A sede é mais mortal que a fome. Sem comida, se vive algumas semanas, mas sem bebida teríamos sorte se vivermos alguns dias. Só o ato de respirar é mais importante. Há milhares de anos, os primeiros homens tinham de ficar perto de rios ou algum suprimento de água fresca, já que não havia como transportá-la. Só nos últimos séculos a cerveja surgiu na Mesopotâmia e no Egito, quando o homem aprendeu a plantar a cevada e o trigo.  

Mais tarde, com os Gregos e Romanos, viria o apogeu do vinho. Platão via a bebida como uma maneira do homem testar a si mesmo, submetendo-se às paixões despertadas pela bebida: raiva, amor, orgulho, ignorância, ambição e covardia.

Depois vieram os destilados, quando os exploradores europeus estavam começando a abrir os caminhos marítimos do mundo. O Brasil se tornou produtor de aguardente de cana-de-açúcar e, a partir do melaço barato, os Estados Unidos iniciou a produção de rum que aos poucos foi cedendo lugar ao uísque, destilado de grãos de cereais fermentados.

Por ocasião da Revolução Científica, o café se tornaria a bebida do dia a dia. Era o tempo do saber e o homem trocou o poder entorpecente do álcool pelo efeito de despertar a atenção e manter a concentração nas discussões, para reforma do pensamento filosófico e lançar as bases do desenvolvimento da moderna ciência.

Com o avanço da ciência, sobretudo na Europa ocidental, e a riqueza obtida com a tecnologia resultante, começa a acontecer no mundo um processo de dominação empreendido pelas potências hegemônicas e a bebida tem um papel preponderante nisso. A Inglaterra, ao mesmo tempo que amplia seu domínio territorial, impõe o comercio do chá, que passa a ser a bebida de maior consumo no mundo.

No século XX, com a decadência das potências européias e a chegada da hegemonia norte-americana, o chá cede lugar a Coca-Cola, que se torna a marca do imperialismo americano no mundo pós-guerra.

Cerveja, vinho, destilados, café, chá, coca-cola, foram bebidas que dominaram os tempos e pelas quais se fizeram muitas guerras. No entanto, a velha e boa água, um tanto desprezada, voltaria a chamar a atenção do mundo e provocar preocupações, já que o aumento da população mundial, a devastação do meio ambiente, as mudanças climáticas por conta da poluição da atmosfera, a escassez de água no planeta, prevêem alguns, poderá ser a causa de um próximo conflito de alcance global. Por isso, apresentei no Senado Federal um projeto obrigando que os equipamentos e os produtos de limpeza e de higiene pessoal, bem como suas embalagens, sempre que destinados ao uso associado ao consumo de água, conterão mensagens de advertência sobre o risco de escassez e de incentivo ao consumo moderado de água. Um segundo projeto, obriga a construção de instalação de sistemas de coleta, armazenamento e utilização da água de chuva e de reutilização de águas servidas, nas construções públicas e privadas. O projeto ainda prevê que recursos do Sistema Financeiro da Habitação só poderão ser empregados nos projetos que contiverem previsão desses sistemas de coleta e armazenamento. Eu sei bem o valor da água. Na Fazenda Nova Canaã, que mantenho em Irecê, na Bahia, e onde chove muito pouco, implantei um projeto de irrigação, à base de gotejamento, para evitar desperdício e mau uso da água. De gota a gota, regamos doze mil pés de fruta-de-conde e ano passado colhemos mais de 500 mil frutas.

Com esse projeto trouxemos vida nova para centenas de famílias pobres do sertão. É isso aí. Nosso bem maior é a água. Sabendo usar, não vai faltar.

Marcelo Bezerra Crivella , engenheiro civil, mestre pela Universidade de Pretória (África do Sul), é senador da República pelo PRB-RJ, líder de seu partido no Senado Federal e vice-líder do bloco de apoio ao governo.

Contato: http://www.marcelocrivella.com.br/

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