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Criador de "Lost" com Lula e Chávez critica liberdade de imprensa na Venezuela

Criador de "Lost" com Lula e Chávez critica liberdade de imprensa na Venezuela

Fonte: Atualizado: sábado, 29 de março de 2014 às 03:25

A saga na qual o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e outros 11 líderes latino-americanos lutam pela sobrevivência em uma ilha deserta, Isla Presidencial, "irmã" da série de TV Lost, conseguiu tanto sucesso que seus criadores vão lançar um terceiro episódio da história ainda neste mês.

Em entrevista ao R7, o roteirista venezuelano Juan Andrés Ravell, autor da série ao lado de Oswaldo Graziani, adiantou que um dos personagens já não participará do novo episódio: Michelle Bachelet, que deixou a Presidência do Chile em 11 de março, quando assumiu Sebastián Piñera.

Isla Presidencial atingiu mais de 1,2 milhão de acessos no YouTube em apenas dois meses e o sucesso da animação fez explodir o número de visitantes do blog de Ravell e Graziani, El Chigüire Bipolar, ("A Capivara Bipolar", em espanhol), que dobrou em número de visitantes.

O segredo do sucesso da série é, de acordo com os autores, além do humor, o clássico enredo de náufragos em uma ilha, a linguagem da animação, que faz referência a séries americanas como Lost e South Park.

Além dos personagens sul-americanos, Isla Presidencial também conta com a participação de figuras políticas de outros locais, como da Espanha, já que o rei do país, Juan Carlos, e o primeiro-ministro, José Luiz Zapatero, aparecem na série.

No primeiro episódio, Lula e os líderes embarcam no navio do presidente brasileiro e acabam em uma ilha após uma tempestade que afunda o navio. Lá, eles têm de conviver, encontrar comida e ainda aguentar os discursos intermináveis do presidente da Venezuela, Hugo Chávez.

No segundo, continua a luta pela sobrevivência, e os presidentes passam quase o tempo todo ouvindo Chávez falar.

Confira a entrevista completa com Ravell.

R7 - A animação Isla Presidencial é um sucesso na internet em vários países, incluindo o Brasil. O fato de o conteúdo ser focado no presidente Hugo Chávez compromete o entendimento dos brasileiros?

Juan Andrés Ravell - Como usamos referências bem regionais, pode ser que os brasileiros não entendam alguma coisa, mas a maior parte do conteúdo é compreensível em todos os países latino-americanos.

R7 - Como vocês retratam o presidente Lula na série?

Ravell - Ele é um cara bacana na Isla Presidencial, ele não têm conflitos com Chávez ou os outros presidentes. Ele se dá bem com todos, surfa, serve caipirinhas, aproveita o tempo na ilha. Nós usamos o fato de já terem dito que Lula gosta de beber, por isso ele aparece servindo drinks e tomando caipirinha. Mas não ironizamos o fato de ele ter quatro dedos, por exemplo.  

R7 - Onde vocês buscam referências para a história?

Ravell - O formato é inspirado na série Lost e no programa Survivor. É a história clássica de náufragos em uma ilha. Mas o tipo de humor que gostamos em termos de animação tem muitas referências americanas, como da animação South Park.

R7 - Vocês já tinham feito humor político antes?

Ravell - Nós já tivemos um projeto no Sony Entertainment Television chamado Nada a Ver, que era uma série de animação que não chegou a passar no Brasil, mas foi exibida em vários países na América Latina. Nós tivemos problemas com a rede porque fizemos muito humor político e um senador no Chile ficou bravo por uma piada com a presidente Bachelet. O canal tirou todo o conteúdo político da série, que ficou sem graça depois disso. Nós ainda fizemos o blog El Chigüire Bipolar, que é de notícias políticas falsas, e ele é muito popular aqui na Venezuela.

R7 - Vocês são jornalistas ou designers?

Ravell - Eu e Graziano somos escritores. O design da Isla é feito na Argentina por Mario Golfari. Nós escrevemos, produzimos e financiamos. Golfari e sua equipe fazem o design e a animação.

R7 - Vocês se sentem totalmente livres para fazer esse tipo de humor na Venezuela?

Ravell - Não há censura na Venezuela. Mas o que acontece é que a maior parte das rádios, dos jornais e das emissoras de televisão faz autocensura com medo de perder patrocínio do governo ou de empresas. Ou com medo de sofrer algum tipo de retaliação ou processo do governo. E nós não fazemos autocensura. E o humor é muito poderoso. Se eles fizerem algo contra nós, nós iremos responder com humor, e com isso será muito difícil que eles tenham algum argumento contra o humor.

R7 - E então como vocês financiam os seus projetos?

Ravell - É muito difícil financiar este tipo de projeto aqui na Venezuela. Os patrocinadores não querem patrocinar conteúdo político porque eles podem sofrer algum tipo de repreensão do governo, com a polícia batendo na porta para fazer fiscalizações. Isso acontece aqui. Então os patrocinadores são muito cautelosos em relação à política.

R7 - Cresce no Brasil um novo tipo de humor político, como o dos programas CQC, sucesso também na Argentina. Isso acontece na Venezuela?

Ravell - Por ora não há esse tipo de humor na TV da Venezuela, em parte por causa do medo que eu estava falando, e também porque o único programa neste estilo que existia era exibido pela RCTV, que foi fechada.

R7 - Quando o presidente Chávez esteve no Brasil, no mês passado, o R7 conversou com uma jornalista da cobertura oficial do presidente que disse que, apesar de trabalhar para o governo, a imprensa na Venezuela é totalmente livre, pode fazer qualquer pergunta ao presidente, abordar qualquer assunto. Você concorda?

Ravell - Não é verdade. Porque quando há entrevistas ou coletivas de imprensa com o presidente Chávez os veículos que não são ligados ao governo, os veículos independentes ou internacionais que poderiam fazer perguntas mais duras ao presidente não são credenciados para fazer esse tipo de cobertura e não podem acompanhar o presidente. E quando alguém faz uma pergunta desconfortável ele fica muito bravo.

Por Mariana Londres

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