Esta semana, estava manipulando o meu livro Limites: O caminho para o equilíbrio emocional dos seus filhos, quando me lembrei de uma expressão muito utilizada por outra autora, a Elizabeh M. Ellis, que é a de "filhos subdesenvolvidos".
Na obra Educando Filhos Responsáveis: Como evitar a culpa e a tolerância excessiva e criar filhos conscientes, Ellis aborda o mesmo tema que eu a respeito dos problemas acarretados sobre uma geração de jovens que não tiveram os limites necessários durante a educação familiar.
Como se trata de um tema extremamente pertinente e atual, quero aproveitar a lembrança para destacar dois pontos sobre a importância da imposição de limites e de uma tolerância regrada na educação de crianças e adolescentes.
Tolerar não é se curvar
O primeiro diz respeito ao fato de que todos os pais, em certa medida, precisam ser tolerantes com os filhos. Todavia, tolerância não significa se curvar a todos os desejos, ideias e comportamentos da criança. Esse é o ponto em que muitos erram.
Concordo com Ellis, quando ela também diz que esse tipo de erro costuma ser cometido por pais que são realmente zelosos, amorosos e dedicados. Eles querem, de fato, o melhor para os filhos, mas confundem isso com o excesso de permissividade.
Na prática, portanto, são pais que não sabem dizer "não"; não sabem impor limites, muito menos cobrá-los. Logo, são pais que se curvam aos desejos e caprichos dos filhos, mesmo os que são prejudiciais.
A tolerância sadia, por outro lado, reconhece a importância da flexibilidade. Os pais que praticam isso reconhecem que os filhos possuem as suas próprias personalidades, gostos e opiniões, e que devem ter esse "espaço" respeitado.
Contudo, esses pais também entendem que precisam exercer liderança sobre a vida dos filhos, motivo pelo qual nem todos os gostos, opiniões e comportamentos devem ser tolerados, mas sim corrigidos.
Imaturidade e insegurança
O segundo ponto diz respeito aos efeitos do excesso de tolerância, por parte dos pais, sobre a vida dos filhos. Neste caso, crianças e adolescentes que não aprendem a respeitar limites, porque tudo o que fazem é tolerado, também não sabem lidar com frustrações.
São jovens que costumam ter dificuldades de encarar desafios e cobranças, pois o excesso de tolerância da parte dos pais fez com que eles criassem uma expectativa ilusória da vida, como se no mundo, por exemplo, concluir um curso universitário ou ter sucesso em um emprego fosse fácil.
Por causa da cultura atual, onde o excesso de tolerância é associado ao ser "moderno", os jovens estão se tornando muito imaturos e, consequentemente, inseguros. Isso é visto nas relações interpessoais, na escola/faculdade ou no trabalho, etc.
Não é por acaso que o número de crianças e adolescentes diagnosticados com desordens emocionais tem crescido rapidamente, sendo a ansiedade e a depressão alguns desses problemas.
Outro problema ligado a isso é a crise de identidade, algo gerado pela insegurança. Quem sou eu, afinal? Do que realmente gosto? O que quero da vida? No que realmente acredito? São questionamentos comuns que podem desencadear uma série de emoções negativas.
Conclusão
A tolerância, quando exercida de maneira equilibrada e associada à atribuição de responsabilidades desde cedo, faz com que os filhos desenvolvam autoconfiança e autonomia, diminuindo as chances de que eles tenham problemas futuros.
Se você quer entender melhor este assunto, recomendo muito o livro Limites, pois é nele onde detalho orientações que certamente vão lhe ajudar a saber como educar os filhos exercendo a tolerância na medida certa.
Além do ambiente familiar, a cultura também impacta diretamente no emocional de crianças e adolescentes, e a que temos atualmente não é favorável à família. Por isso, cabe aos pais saber como reagir, a fim de que possam contrapor ao que o mundo oferece de ruim aos filhos.
Marisa Lobo é psicóloga, especialista em Direitos Humanos, presidente do movimento Pró-Mulher e autora dos livros "Por que as pessoas Mentem?", "A Ideologia de Gênero na Educação" e "Famílias em Perigo".
* O conteúdo do texto acima é de colaboração voluntária, seu teor é de total responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a opinião do Portal Guiame.
Leia o artigo anterior: A importância do discernimento dos pais na formação moral e espiritual dos filhos
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