Igreja carente é o que não falta. Transito por várias comunidades e percebo desalentos nas palavras e olhares. Expectativas de um lado em confronto com as realidades do outro lado denunciam frustrações em sonhos que se sonhou até virarem pó.
Ouço as músicas e constato muita carência. Carência de letras relevantes, profundas e bíblicas. O eu ficou adocicado, mimado e endeusado. É um desfile de estou apaixonado, enamorado, enciumado, quero minha restituição, eu preciso sentir, arrepiar e vibrar com minha unção. Enquanto Deus, o único digno de louvor fica em segundo plano. Em alguns casos, chega a ficar fora do plano.
Estamos carentes de palavra. O festival de textos trampolim é imenso, aqueles onde a pessoa encarregada de pregar usa um texto só para mergulhar na sua piscina, e não nas águas purificadoras da palavra inspirada pelo Espírito. Até mesmo nas mensagens que seguem todos os padrões homiléticos, desfilando um grego aqui e um hebraico ali, sinto carência de vida e compromisso.
A carência atinge a história. Poucos se importam com origens, tradições, porquês. Não conhecer a própria história provoca carência de afinidades e até motivações. Já pensou negar a história e o desenvolvimento da sua própria família? Não digo isso para que concordemos com tudo, mas para que saibamos até como e porque discordar.
As carências são muitas. Falta lealdade, identidade, convicção, saber, atitude, moral, afeto, projeto, ideia. Tudo isso afeta diretamente a nossa espiritualidade. Sobre isso, Eugene Peterson identificou milimetricamente algumas carências: A espiritualidade contemporânea carece desesperadamente de foco, precisão e raízes: foco em Cristo, precisão nas Escrituras e enraizamento numa tradição saudável.
Carências são faltas que sentimos e por elas, as vezes sem saber ou identificar, sofremos. O que não é de todo ruim. Porque se nossas sensibilidades se incomodam a ponto de sentir falta de boas ações, boas palavras, boas pessoas e até de boas coisas, é sinal que nossa capacidade para buscar o melhor se mantém viva e dinâmica. Por esse aspecto, agradeçamos as carências, mas não nos acomodemos a elas, pois não são normais, apenas estão ali denunciando vazios prontos para serem inundados pela Graça. Graça essa, ironicamente, carente de nós.
Paz!
por Edmilson Mendes
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