"E sujeitou todas as coisas a seus pés, e sobre todas as coisas o constituiu como cabeça da igreja," (Efésios 1 : 22)
Uma determinada organização que se reúne em nome de pastores, postou esta frase em uma rede social: “Igreja tem púlpito não palanque, adoradores, não assistentes, culto não espetáculos, ministro não animadores”. Ainda que a intenção seja a melhor possível, devido ao atual e caótico contexto “evangélico” que muitas denominações tem vivido, esta frase é medíocre e desvirtua totalmente o foco de “igreja” que Cristo veio trazer e instituir.
A igreja que Cristo veio edificar tem uma proposta totalmente diferente do contexto que muito hoje vivem. Os templos eram usados no Antigo Testamento como o local onde os sacerdotes ofereciam holocaustos pelos pecados do povo. Salomão edificou um templo para que Deus habitasse nele (2Cronicas 2). O conceito de templo como habitação de Deus era bastante conhecido pelos judeus. No templo haviam alguns locais como: átrio, Lugar Santo e Santo dos Santos, entre outras divisões que separavam as pessoas do local que de fato Deus recebia o holocausto. No lugar Santo, só o Sumo Sacerdote podia entrar e para isso tinha que cumprir todo o ritual estabelecido pelo Senhor, não era de qualquer maneira. Este local era separado dos outros cômodos por uma grande cortina ou véu.
A bíblia nos conta que "E o véu do templo se rasgou em dois, de alto a baixo." (Marcos 15 : 38) quando Jesus foi crucificado. Neste momento, Jesus acaba com a função do templo do Antigo Testamento, abrindo o caminho para um Novo Tempo, onde para termos acesso ao Pai, não é mais por holocaustos humanos, mas pela Oferta Perfeita, Cristo que se torna o Único Caminho para o Pai. - "Disse-lhe Jesus: Eu sou o caminho, e a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai, senão por mim." (João 14 : 6).
O texto citado de Efésios 1:22, onde Cristo se apresenta como o Cabeça da Igreja, nos deixa claro o tipo de relação que Ele deseja ter conosco, uma relação de “Corpo – Igreja” não de “Instituição – templo”.
Igreja é diferente de templo. Igreja é a reunião de pessoas, formando o Corpo de Cristo e templo nada mais é do que uma construção, um prédio, que após a morte e ressurreição de Cristo deixou de ter significado para nós. Infelizmente por séculos o homem tenta colocar Deus dentro de quatro paredes e institucionalizar esta relação. "O Deus que fez o mundo e tudo que nele há, sendo Senhor do céu e da terra, não habita em templos feitos por mãos de homens;" (Atos 17 : 24). Deus não quer estar dentro de paredes, mas dentro do coração... "Eis que estou à porta, e bato; se alguém ouvir a minha voz, e abrir a porta, entrarei em sua casa, e com ele cearei, e ele comigo." (Apocalipse 3 : 20).
Infelizmente os cristãos, evangélicos também tem tentando colocar Deus dentro das mesmas quatro paredes dos templos antigos, mas se esquecem que o véu, que nos separava de Deus se rasgou e que em Cristo temos acesso ao Pai.
A igreja primitiva, os cristãos não tinham templo, não precisavam de templo. Onde se reuniam era igreja. Nem precisavam de tantas pessoas assim com vemos: "Porque, onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, aí estou eu no meio deles." (Mateus 18 : 20). Muitos líderes valorizam mais a estrutura, o templo, do que as pessoas, gastam mais dinheiro com o prédio do que na manutenção e obra social. Ostentam prédios luxuosos e acabam adorando suas construções. Não é raro ouvirmos dizer que o palanque ou púlpito é um o local sagrado. Sagrado por que? Deus não está ali, estará em quem subir ali. Desta forma o local não é santo mas as pessoas sim, o local não atrai a Deus, mas as pessoas sim. O local não “adora” ou favorece a adoração mas as pessoas sim. Foi isso que Jesus tentou explicar a mulher samaritana. "Mas a hora vem, e agora é, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade; porque o Pai procura a tais que assim o adorem." (João 4 : 23).
Igrejas que trabalham com grupos pequenos, já vem a mais de duas décadas trabalhando com o conceito de igreja, como reunião de irmãos para adorar a Deus, não importa o local e justamente esta realidade que a igreja primitiva vivia, tinham comunhão e o número de cristãos aumentavam consideravelmente.
Ralph Neighbor defende a visão das igreja como uma águia, com duas asas, uma de pequenos grupos, nas casas e outra de grandes grupos, no templo. Esta visão reforça ainda mais a visão da Igreja como um todo, não importa se nas casas ou no templo, a igreja, ou seja as pessoas, se reúnem para edificação mutua. Importante lembrar que esta forma de atuar não remonta o templo do Antigo Testamento, pois a comunhão está no corpo e não no local e ainda o santidade não está na construção mas nos corações.
Devemos quebrar a religiosidade e o misticismo herdado do catolicismo e cultuarmos o que verdadeiramente é digno de culto. É bom ter um local para reunião e congregação dos irmãos? Claro, mas ele nunca é mais importante do que as pessoas. Não somos onde estamos, mas somos como vivemos. Outra situação é o fato de cada um denominar a sua igreja e dizer: “sou da igreja tal e você de qual igreja é?” Só existe uma igreja, a de Cristo e todas congregações abrigam esta única Igreja. Frequentamos um local que denominamos por questão de logística e até para identificação jurídica, mas “Igreja” não é a instituição, nunca, as pessoas é que são Igreja, sempre.
Qual é o melhor lugar para orar, adorar e se encontrar com Deus? Muitos dirão que é “na igreja” se referindo ao templo, mas ainda assim Jesus diz que este melhor lugar é na sua casa. "Mas tu, quando orares, entra no teu aposento e, fechando a tua porta, ora a teu Pai que está em secreto; e teu Pai, que vê em secreto, te recompensará publicamente." (Mateus 6 : 6) .
A frase citada no começo: "Igreja tem púlpito não palanque, adoradores, não assistentes, culto não espetáculos, ministro não animadores”. Com certeza tem suas verdades implícitas, mas ostenta “o templo” como um local sagrado e isto não é verdade. Teríamos que falar do foco e do objetivo da “reunião dos santos” neste caso. Se esta reunião é para propagação do evangelho, edificação do corpo e comunhão não importa se vai ser em um púlpito ou em um palanque, se vai ter guitarra e bateria ou um coral, se o pregador é eloquente ou se até vai usar da “arte” para propagar o evangelho ou se vai apensas discursar. Tudo é válido desde que feito com decência e ordem, sem profanação e deturpação do evangelho, Paulo mesmo teve diferentes atuações, considerando o público que desejava alcançar. "Fiz-me como fraco para os fracos, para ganhar os fracos. Fiz-me tudo para todos, para por todos os meios chegar a salvar alguns." (I Coríntios 9 : 22).
Muito mais importante do que o local de reunião, é o evangelho que está sendo pregado, um evangelho barato, sem cruz, sem renúncia, sem entrega, sem Jesus como Senhor. Muitos crentes vão para as reuniões para receber e nunca tem nada a oferecer. A ideia de oferecer o “culto racional” tem se esvaído e o consumismo tem entrado em nosso meio. Queremos bênçãos, restaurações, prosperidade mas não querem pagar preço algum, não querem viver piamente, não querem sofrer perseguições, sem nenhuma aflição, justamente o contrário do que sabemos que o mundo tem a nos oferecer. "E também todos os que piamente querem viver em Cristo Jesus padecerão perseguições." (II Timóteo 3 : 12) "Tenho-vos dito isto, para que em mim tenhais paz; no mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo, eu venci o mundo." (João 16 : 33). Devemos sim, como Igreja do Senhor nos levantar e dizermos “Basta!” a estas coisas. Não somos, nem queremos ser taxados como mercenários, fanfarrões e desordeiros. Nosso testemunho tem que ser de piedade e amor.
Mas temos que ter cuidado para discernir o que é joio e o que é trigo, atentar para os frutos e não para as obras e definitivamente não é nossa percepção musical ou senso crítico que vai nos apontar o que é verdadeiro, mas a comunhão, que só o Espírito Santo pode promover, em qualquer lugar, entre qualquer eleito do Senhor.
Precisamos sim, de mais igreja, de mais comunhão, de mais reuniões de santos, de mais unidade, de mais amor e cumplicidade, de mais testemunho e caráter, de mais prática do evangelho genuíno e menos discurso, abrir mão de toda a glória e sucesso pessoal ou ministerial, menos templos para ostentação de riqueza, poder e domínio. Precisamos mais de Cristo e menos de nós em nossas reuniões. "É necessário que ele cresça e que eu diminua." (João 3 : 30).
por Pr. Eduardo Bergsten
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