O "racismo" evangélico e o amor de Deus

O "racismo" evangélico e o amor de Deus

Fonte: Atualizado: sábado, 31 de maio de 2014 às 09:49

Demócrito de Abdera, filósofo contemporâneo de Sócrates, dizia que: "quando buscamos prejudicar nossos inimigos, esquecemos de nosso próprio interesse". Cada vez mais, atitudes racistas são recorrentes entre os evangélicos. Principalmente entre a classe política de nosso país, e lideranças de várias denominações, que deixam publicamente claras suas opiniões sobre assuntos como homossexualidade, raças e etnias denominadas satânicas, e até mesmo religiões ou crenças diferentes.

O que nos deixa profundamente tristes, é que as opiniões explicitadas pela mídia parecem tornar generalizada a opinião de todos os evangélicos, mas isso não é verdade. Nenhuma classe ou denominação pode responder interinamente. Afinal estamos unidos numa mesma fé, mas não em uma mesma ética. Isso ainda é um celeuma no meio cristão. A postura adotada por algumas denominações ou lideranças não reflete a opinião "evangélica" nacional.

É claro que estamos recorrendo no erro de “estereotipar”, classes, etnias e práticas, com nossas declarações superficiais, e estamos incorrendo em um erro gravíssimo para a conduta cristã: o preconceito. Sutilmente vamos absorvendo essa cultura de discriminação em nosso meio. Consideramos o "pobre" inferior, o "negro" inferior, o "gay" inferior, o "deficiente" inferior, e assim por diante. Não entendemos os mecanismos racistas de nossa sociedade e ao declarar a inferioridade, aceitamos inconscientemente ou não a nossa "superioridade", o inimigo ideológico máximo do Evangelho.

Jesus abominava o discurso farisaico, não porque o discurso estava errado, mas porque as pessoas que discursavam, eram tão necessitadas de Deus, quanto as que ouviam. E aqui faço minha a voz de Ariovaldo Ramos, que bem disse sobre a ética praticada nos rincões evangélicos:

A igreja ao invés de denunciar a desigualdade e injustiça social, propondo viver uma economia solidária, passou a pregar a teologia que sustentava a desigualdade, afirmando que a riqueza e o bem estar é o único alvo do crente.

Que a fé está atestada pelo nível financeiro de contribuição pela capacidade de arbitrar por decreto que Deus deve ou não fazer.

A igreja ao invés de denunciar a miséria e a dívida do Estado para com os excluídos sociais, passou a apontar a provável fé dos desgraçados como causa de estarem onde estão.

A igreja ao invés de socorrer os enfermos e prestar-lhes atenção e cuidados. Passou a apregoar uma cura instantânea desde que tenham um certo tipo de fé e façam parte de um determinado ministério.

A igreja ao invés de combater o racismo, passou a estigmatizar como maligno tudo que está relacionado com a cultura negra. Como se o demônio fosse e negro e tudo que é negro fosse demônio.

A igreja ao invés de pregar que a graça foi derramada abundantemente por meio de Cristo, passou a demandar ainda mais sacrifícios e doações constrangedoras, para que o fiel se tornasse apto para receber mais.

 A igreja ao invés de pregar a espiritualidade do Cordeiro, promoveu a esquizofrenia do Leão, que tenta transformar o "ainda não" em "já". Quando na verdade desse jeito o "já" será "nunca".

Concluo dizendo que a ética do Reino, não é só uma ética de valores contrários aos pregados pelo mundo, mas o seu fundamento é o amor. Todo discurso que exclui, não pode vir do trono da Graça, que é o lugar da "inclusão" por excelência. Não aceito e nem desejo nenhuma prática oriunda do mundo, mas os alvos da misericórdia de Deus continuam sendo as pessoas.

Não atesto os valores pregados que são contrários ao Evangelho, mas não excluo do alvo de Deus, as pessoas que os praticam. O pecador sempre será o alvo da Graça, dos quais um dia cada um de nós também foi, continua sendo ou será! Toda mudança e transformação, vem sempre depois da experiência do Amor de Deus, nunca antes. Preguemos o amor Dele, e deixemos de lado nossa pretensa ''superioridade''. Quem assim age é racista, não evangélico!

Bruno dos Santos   é Diretor do VidaSat Comunicações, Coordenador Geral da CIA (Coalizão das Igrejas Apostólicas) e pastor da Igreja Vida Nova em São Paulo. Escritor e Conferencista, é formado em Teologia com especializações em Novo Testamento e Liderança. Casado com Silvia Regina, é pai do Lucas, da Laís e da Ana Luiza.  

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