Rasgando o verbo e falando sobre os “palavrões”

O conceito de Paulo não é evidenciar o falar palavrões, mas aquilo que destrói, que corrompe e que apodrece algo ou alguém.

Fonte: Guiame, Bruno dos SantosAtualizado: terça-feira, 28 de agosto de 2018 às 19:25

Sou português e consequentemente nasci inserido em uma cultura onde o palavrão possui um peso idiomático poderoso. Me converti apenas na vida adulta ao Evangelho, e reaprendi a falar sem reproduzir palavrões com tanta constância.

Mas confesso que era assaltado por pensamentos que inseriam palavrões e sempre me sentia constrangido por isso diante de Deus. Crente pode xingar? Falar Palavrão? Então este ‘insight/estudo” reflete uma ideia sobre o assunto. E acredito que será elucidativo para muitas pessoas. Primeiro vamos a Bíblia:

"Nenhuma palavra torpe saia da boca de vocês, mas apenas a que for útil para edificar os outros, conforme a necessidade, para que conceda graça aos que a ouvem." (Ef 4:29)

As traduções mais fiéis do grego propõe que a palavra TORPE (gr.sapros) está relacionada com “aquilo que leva a destruição”. Analisando o contexto, torpe seria algo que leva à um estado ruim ou depreciativo das coisas ou pessoas. Está diretamente relacionado aquilo que é corrupto, que apodrece. Por isso o conceito de Paulo não é evidenciar o falar palavrões, mas aquilo que destrói, que corrompe e que apodrece algo ou alguém.

Não há uma ênfase na palavra em si, mas no modo e na forma (intenção) de como ela é falada. Às vezes uma conversa pode conter vários palavrões e ter a intenção de alertar ou mesmo “edificar" alguém, e uma outra conversa pode não conter nenhum palavrão, mas ser extremamente mortal, venenosa ou mesmo cheia de intenções malignas. É a isso que Paulo se refere. A conversa torpe, a palavra torpe…é esse modelo cheio de corrupção, de apodrecimento dos relacionamentos, de sarcasmo maligno e religioso.

Jesus em sua época repreendeu isso severamente. Posso até arriscar dizer que Jesus "ofendeu" ferozmente os religiosos de sua época por causa da palavra torpe. Ao lermos Mateus no capítulo 23. Vemos ofensas como:

Hipócritas: (gr. ator, dissimulado, impostor)

Insensatos e Cegos: (gr. Idiotas e mentalmente estúpidos/cegos)

Serpente: (gr. Cobra, astuto, ladrão, Diabo)

Raça de Víboras: (gr. Perverso, mal-intencionado)

Estes são alguns dos “adjetivos” pesados que Jesus usou. Mas a ênfase do discurso estava na bronca ética e na volta ao conceito correto de espiritualidade que os fariseus e escribas haviam perdido. Era literalmente uma bronca com palavras duras e insultantes, porém o objetivo era trazer o temor de Deus aos corações daqueles líderes.

Deus mesmo usou termos pesados para se referir a Israel. O livro do profeta Jeremias já sofreu sanções em outras épocas por contar insultos gravíssimos. (Leia Jeremias 2:1-35), mas todas as vezes, o objetivo era promover o arrependimento ao povo.

Nesta época estas palavras eram pesadas. Mas mesmo assim, isso não é uma oportunidade para um cristão falar palavrão. Palavrão não é algo que devemos ou não fazer, mas saber quando ou não é apropriado. E também reconhecemos que somos pessoas comuns, não monges, e estamos inseridos em um mundo de linguajar pobre, defeituoso e eventualmente nós mesmos não estamos isentos de “soltar” uma dessas palavras em algumas situações. Afinal, quem de nós nunca teve vontade de “rasgar o verbo?" - Que atire a primeira pedra!


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