O período do Natal carrega uma repetição anual da situação lastimável de nossas almas cambaleantes em busca de sentido e desejosas do retorno ao “lar”. Nessa busca nos enredamos, ano após ano, em consumismos alienantes, festivos paliativos, coloridos estimulantes, aromas inebriantes do chocolate com canela salpicado com nozes, e borbulhantes espumantes dando um ar de festa. A família reunida nos faz sentir pertencentes a algum lugar e por isso empreendemos tanto esforço nisso. A troca de presentes nos quer levar a crer que somos relevantes na vida de alguém e acrescenta algum sabor extra a esse enredo de repetições.
Nossas repetidas encenações nos levam a mascarar o que realmente sentimos e os belos e rebuscados discursos convencem outros de que somos muito melhores do que realmente somos. Mas, mesmo no Natal, os nossos diálogos internos nos mantêm atualizados de quem somos de fato, ou seja, na maior parte do tempo, egoístas e arrogantes, limitados na expressão do amor, do perdão, da generosidade e do acolhimento da nossa própria alma, bem como a do próximo. Buscamos calar essas vozes internas saciando-as com as superficialidades sociais em algum ambiente religioso ou familiar. Mas, a alma continua travada e testemunha das motivações que repetem palavras rebuscadas que não renovam e muito menos tocam nossas entranhas que precisam ser transformadas. Essa repetição cansa e esgota o sentido da vida, tanto do ateu como do fiel religioso. Foi para quebrar essa repetição que nasceu o Salvador.
Ele nasceu para alcançar as profundezas de nosso espírito, plantar ali o real sentido da vida e ativar a nossa sensibilidade para tocar as pessoas com nossa alma. Com seu toque renovador podemos comer, beber, abraçar, alegrar e declarar com convicção de que “Jesus é o verdadeiro Natal”. Com ele, mesmo que nossa festa tenha menos cores, sons, aromas e sabores, não terá falta do principal, que é a encarnação da graça do Reino dos Céus visitando a nossa alma e ali aconchegando sua morada permanente.
Que nesse Natal, ao invés de ignorar o convite e adiar a decisão sobre abrir o coração para essa Presença inaudita que anseia por quebrar com a repetição de um Natal sem sentido, possamos nos render e nos entregar ao seu estonteante amor sem fim. Com uma renovada paixão ao Filho de Deus, que veio a nós, podemos celebrar um Natal sem os assombros repetitivos do passado e experimentar as coisas novas que ele fará surgir. “Portanto, se alguém está em Cristo, é nova criação. As coisas antigas já passaram; eis que surgiram coisas novas” (II Coríntios 5.17).
Que esse Natal tenha a presença dessa novidade em nossas vidas!
Por Clarice Ebert, Psicóloga (CRP0814038), Terapeuta Familiar, Mestre em Teologia, Professora, Palestrante, Escritora. Sócia do Instituto Phileo de Psicologia, onde atua como profissional da psicologia em atendimentos presenciais e online (individual, de casal e de família). Coordenadora e palestrante, em parceria com seu marido, do Ministério Vida Melhor (um ministério de cursos e palestras). Membro e docente de EIRENE do Brasil.
* O conteúdo do texto acima é uma colaboração voluntária, de total responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a opinião do Portal Guiame.
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