Barriga cheia pode fazer mal. Muito mal. Perdemos a capacidade de avaliar sabores. Tornamo-nos mais exigentes, enjoados e, para vergonha dos presentes, frescos. É daí que surge a expressão sobre toda batata ter bicho quando se está de barriga cheia.
Desde o início do Plano Real, temos assistido um crescimento vertiginoso em nosso país. A estabilidade da moeda associada a facilidade no crédito aumentou exponencialmente o consumo. De roupinhas a automóveis nunca se vendeu tanto no Brasil. Lazer e entretenimento passaram a fazer parte de todo final de semana, em alguns casos ultrapassaram a limitação de apenas sábados e domingos, passaram a ser diários. Tudo muito bem, tudo muito bom.
Só que não. Na fartura de bens veio a confusão com a frieza de alma e escassez de caráter. O volume de gente querendo se dar bem cresceu, inclusive nas igrejas. Querer se dar bem é normal, todos queremos. O que não é normal são os meios: mentiras, falsificações, enganos, enrolações. Para piorar, muitos conseguem encher a barriga usando destes expedientes, mesmo que seja um encher temporário, pois como sabemos, um dia a casa cai.
Bem, mas enquanto se está de barriga cheia, ou pelo menos com a sensação, a contaminação da auto-suficiência vai atingindo a muitos. E este é um dos dramas que líderes ministeriais enfrentam hoje, as pessoas de barriga cheia só consomem o que interessa ao ego delas. Regras, doutrinas, moralismos, respeito aos valores da religião, isso tudo fica muito chato e, num cenário assim, só causa azia no intelecto.
Provérbios 27.7 vai no ponto: “Para quem está de barriga cheia, o mel mais doce não tem valor, mas para quem está morrendo de fome qualquer sobra de comida é deliciosa.” Para crescer e amadurecer, a necessidade é uma bênção. E as sobras de comida deste texto de Provérbios querem tão somente indicar o valor que devemos dar as coisas mais simples e aparentemente insignificantes. Pense nisso, se Deus desse tudo que queremos seríamos os mais miseráveis seres humanos. Enfim, peça. Mas também agradeça por todas as necessidades. Para o bem, elas nos moldam.
Paz!
por Edmilson Mendes
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