Formadores de opinião dos mais diversos setores estão censurando a presença de Deus no segundo turno. O debate religioso, argumentam, não cabe numa campanha política, devendo o estado cuidar das coisas do estado, e a igreja das coisas da igreja. As ondas de declarações dos candidatos não param: Sou a favor, sou contra, nunca disse isso, o que eu disse foi aquilo, desde criancinha defendo a família, precisamos descriminalizar o aborto, sou contra o aborto, sempre fui cristão, defenderei a liberdade de imprensa, longa vida ao bolsa família, bolsa cinema, bolsa pizza...
Os religiosos autênticos, os adoradores fiéis, os mártires anônimos, enfim, todos os que se encaixam nas bem-aventuranças do sermão da montanha do evangelho de Mateus, devem estar assustados com o oportunismo que se instalou nas campanhas. Entenda, não se trata de julgar se Serra ou Dilma acreditam no que falam. O problema é que o que falam é fruto das pesquisas encomendadas por seus comitês. O contingente de indecisos, na sua maioria, quer ouvir o que os candidatos estão falando, pelo menos segundo as pesquisas, depois... Bem, depois a conversa é outra.
E as propostas? Os programas? Os recursos? Estas são as explicações que os críticos gostariam de ver no centro das campanhas. Mas não, Deus passou a ocupar o centro do debate. E isso provoca insatisfação, piadas e náuseas, vide colunas diárias nas Folhas, Estados etc. Mas, será correto afirmar que Deus ocupou o centro do debate? Se ocupou, que Deus é esse? O do PT? O do PSDB? Se é um desses, pobre deus, pois que reduzido aos caprichos dos marqueteiros de meras legendas.
De Deus, afirmou um dos maiores teólogos que se tem notícia até hoje, não se zomba. Que se multipliquem os recursos exegéticos de cada geração. Que se busque decifrar cientificamente os mistérios trinos. Que se transpire no esforço para se acumular conhecimento. No entanto, no abismo mais profundo ou no cume do mais alto monte, nos confrontaremos com Aquele que se define como o grande Eu Sou. Sua vontade geral está claramente definida em seu livro, defendendo a vida, os oprimidos, os perseguidos, os injustiçados, os explorados, as crianças, a família. Desde Adão e Eva o homem tenta entender a simplicidade e complexidade desta relação. Desde a primeira família Deus exige estar no centro. No centro, Deus é a luz que abençoa. Esquecido e de lado, as coisas vão mal para famílias, cidades e nações que acham que podem viver sem Ele.
Chegamos no problema, no risco grave e real. Deus não é aula de geografia como querem os críticos, que só se estuda naquela hora de aula específica. Deus não é programa, plano ou pauta. Deus, como gostariam muitos, não é manipulável, para só se adorar em templos. A poesia do Salmo 24 explica: Do Senhor é a terra, o mundo e a sua plenitude. Deus não está no centro porque marqueteiros decidiram. Ele está porque sempre esteve, porque do centro até as extremidades, cada centímetro quadrado pertence a Ele. Um cristão é um cristão o tempo inteiro, na rua, na chuva, na fazenda ou numa casinha de sapé. No ar, no mar ou na terra. Na escola, na empresa ou no clube. No restaurante, na loja ou na pastelaria. No teatro, no show ou no comício. No banco, no correio ou no templo. Somos assim porque assim fomos definidos: sal da terra. De toda terra, o tempo inteiro, a vida inteira.
Esta é a questão, o estado é laico, mas a nação é cristã. É impossível departamentalizar a fé. Governos no mundo inteiro, seja qual for o regime, tiram proveito dos benefícios sociais e comportamentais que a religião produz. Simplesmente querer que um povo ignore a própria fé na hora do voto é uma utopia, pois a fé, desde que se encarnou no exemplo de Cristo, continua a se encarnar milagrosamente em cada um que é por ela atraído. Dilma e Serra, caso estejam vivendo só um jogo de cena, pela cena em si, prestam um desserviço para o evangelho. Por outro lado prestam um serviço. Pois mesmo que seja somente pela força da opinião de parte do povo da nossa nação, os temas ligados a fé precisam de posição clara, uma vez que fazem parte do nosso dia a dia, da forma como nos relacionamos com nossa cultura, de como influenciam nossas decisões e escolhas. Ou seja, a fé, desde sempre, abençoa mas também incomoda, uma vez que a todos retira da zona de conforto, questionando antigos hábitos e descortinando novos valores.
Não devemos reduzir o evangelho só a aborto ou promiscuidade. O evangelho é mais. Estas eleições vão passar. Continuo orando para vencermos este momento de medos, ameaças e tensões. Não se incomodem com a presença de Deus, ela aumentará mais e mais até a Sua volta. Porém, mais que o aumento da presença dEle, o coração de Deus anseia por um aumento de amor, sentimento nobre e tão sufocado pela multiplicação da iniqüidade que nos ofende a cada dia.
Paz!
Pr. Edmilson Mendes
Edmilson Ferreira Mendes é teólogo. Atua profissionalmente há mais de 20 anos na área de Propaganda e Marketing. Voluntariamente, exerce o pastorado há mais de dez anos. Além de conferencista e preletor em vários eventos, também é escritor, autor de quatro livros: "Adolescência Virtual", "Por que esta geração não acorda?", "Caminhos" e "Aliança".
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