É “fácil” pregar sobre Moisés

Mas exatamente quando esse “fácil” pode se transformar em empatia real?

Fonte: Guiame, Edmilson Ferreira MendesAtualizado: quinta-feira, 10 de novembro de 2022 às 16:38
Cena abertura do Mar Vermelho, filme Os Dez Mandamentos. (Captura de tela/YouTube)
Cena abertura do Mar Vermelho, filme Os Dez Mandamentos. (Captura de tela/YouTube)

Entenda o “fácil”. Não me refiro ao grande trabalho que dá a preparação de um sermão expositivo, por exemplo. Todas as pesquisas, consultas, comparações nas várias traduções, exames nas línguas originais, contextualização do texto, aplicação do texto. Não é sobre essas disciplinas fundamentais na busca por uma exposição relevante que me refiro.

O que chamo “fácil” é o fato de falar sobre ele nas águas do Nilo ainda bebê, sobre seus primeiros quarenta anos sendo treinado na cultura egípcia, sobre seus quarenta anos no deserto, sobre os últimos quarenta enfrentando Faraó face a face, testemunhando o cair das pragas, a Páscoa, a saída, o sonho de liberdade e... Faraó atrás, montanhas intransponíveis dos lados, mar à frente, ou seja, fim de linha, beco sem saída, game over.

Imagine quantos desafios. Quantas provações. Quantas missões arriscadíssimas. Imagine o medo, a tensão, a dor, as sensações constantes de impotência. Imagine... É sobre isso que estou falando. Por mais que a gente se esforce pra estudar o texto, entrar no texto e viver o texto em todos os seus dramas e dificuldades, continuará sendo fácil pregar sobre Moisés e os embates que enfrentou. E isso vale pra todos os personagens da Bíblia, Daniel na cova dos leões, José no fundo do poço, os três amigos na fornalha, Elias fugindo de Jezabel.

Mas exatamente quando esse “fácil” pode se transformar em empatia real? Exatamente quando a vida nos coloca no abismo, na fornalha, na cova, em frente ao mar sem ter pra onde fugir. Conheço irmãos e amigos que estão passando por momentos últimos, impensáveis, insuportáveis, desesperadores, absolutamente destruidores. Nessa hora, apenas, é que conseguimos vagamente imaginar o que passou Moisés e os demais.

O título deste texto emprestei da fala de um desses irmãos: “Sabe pastor, é muito fácil pregar sobre Moisés...”, e ele continuou: “A gente tem a história pronta e acabada, Deus falou, orientou, o mar abriu. Mas e antes, qual foi o pavor que ele sentiu? Como ficou seu coração em saber que ele poderia estar conduzindo o povo para uma carnificina em escala gigantesca? Hoje, com o que estou passando e sem nenhuma perspectiva de solução, de escape, na boa pastor, não queria estar na pele de Moises, pois como ele antes do socorro acontecer, não sei o que virá, e se virá!”

Me uno aos gritos dos desesperados. Como no passado, precisamos ver o mar abrir, as bocas dos leões serem fechadas, as chamas da fornalha não causarem a mínima queimadura, precisamos... Deus continua sendo Deus e somente Ele tem a palavra final na sua história, na minha história, na história da igreja. Creia, confie, ainda que sejamos como o povo do deserto, as vezes teimosos, inconsequentes, covardes, medrosos, impacientes, desobedientes, a misericórdia, o amor e a graça dEle são maiores, infinitamente maiores! Por isso repito, creia, confie, o poder dEle segue o mesmo, o mar a sua frente pode abrir a qualquer momento...

Edmilson Ferreira Mendes é escritor, pastor, teólogo, observador da vida.

* O conteúdo do texto acima é uma colaboração voluntária, de total responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a opinião do Portal Guiame.

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