Estou no meio de uma intensa filmagem. Nas últimas três semanas o ritmo tem sido extremamente acelerado. São dezenas de cenas externas e internas em diferentes cidades. Num desses dias a prova foi grande. Suei frio.
Estava filmando a Ponte Estaiada. Quando terminamos todos os ângulos, guardamos os equipamentos e rumamos para um prédio próximo da estação Vergueiro do metrô, em São Paulo. O relógio marcava 16h. Já havíamos testado a distância e o trânsito neste horário. Meia hora, no máximo, seria o suficiente para cobrir a distância.
Eu, o motorista, o câmera e o diretor de fotografia precisávamos chegar no prédio até as 18h, pois o período autorizado para filmarmos no local era das 18h às 20h. A fim de evitar falhas, uma outra equipe, com oito pessoas, já estava no prédio, descarregando equipamentos de luz e montando os trilhos para a câmera. Tudo certo, com folga e margem de segurança para não haver sustos. Achava eu.
Mas São Paulo, como bem sabemos, é São Paulo. Quando saímos da Ponte Estaiada o tempo começou a mudar. Apreensivo vi uma nuvem negra do tamanho da cidade formando um teto assustador acima de nós. Estávamos nos deslocando pela Marginal Pinheiros e o temporal começou. Forte, carregado e com pedras de gelo de tamanho parecido com o dobro de uma bola de gude. O rio subiu em minutos, a água estava quase chegando na porta do carro, o trânsito na Marginal Pinheiros não andava. Comecei a entender as notícias que o Datena explora.
A hora passava, o carro não andava, a preocupação aumentava. Buzinas, impaciências, chuvas. De repente, numa distância de uns oito carros a nossa frente, entraram em cena os agentes de trânsito colocando cavaletes impedindo a passagem. A preocupação se intensificou. Para piorar, um dos profissionais do nosso carro virou-se para mim e disse: E agora, pastor? A casa caiu, hein!
Na equipe todos sabem que, além de publicitário, sou pastor voluntário. Eles respeitam, mas sempre que surge uma oportunidade, provocam, acho normal, faz parte. O tom da pergunta foi desafiador. Até ali todas as filmagens tinham sido precisas e perfeitas. Agora tudo poderia dar errado. Para piorar, entre quase uma centena de cenas para filmar, a do prédio foi escolhida pela diretoria de marketing do nosso cliente para ser acompanhada por eles, ou seja, se existia um lugar onde não poderia haver falhas, furos, e principalmente, atrasos, esse lugar era lá. Entendeu a provocação da pergunta? Minha resposta foi simples: Vai dar tudo certo. Na sequência fiz silêncio e comecei a orar. Dentro de mim nada era tão simples.
O que estava ruim, piorou. Quando um agente de trânsito passou ao lado do nosso carro baixei o vidro e perguntei: Por que vocês estão colocando cavaletes? Por que está tudo parado? A resposta foi direta: A marginal está alagada logo à frente e o túnel JK está fechado também, pois a água encheu todo ele. Foi duro ouvir aquelas informações. A hora avançava. A marginal estava literalmente parada e o túnel JK era o trajeto mais rápido, segundo o motorista e o GPS; só que estava fechado. Nós não tínhamos como andar, nem para frente, nem para os lados, muito menos para trás. As provocações desafiadoras, as piadinhas fora de hora e as expressões de derrota continuaram. Em silêncio continuava orando.
Minha oração foi assim: Senhor, sei que existem milhares de histórias nos milhares de habitantes desta cidade. Histórias mais tristes, desesperadoras e urgentes que a minha. Mas ouso pedir um milagre que ninguém mais pode fazer a não ser o Senhor. Preciso que esta chuva pare, preciso que a água baixe rapidamente e que o túnel JK seja liberado. Por favor, eu te imploro, Tu podes, me socorre, em nome de Jesus, amém.
Terminei minha oração e olhei em volta. Sim, a chuva havia passado. Em cinco minutos o trânsito começou a escoar e o túnel foi liberado. Quando chegamos ao destino o relógio marcava 17h55. Chorei copiosamente, por dentro. Ninguém viu, mas meu coração dançava de tanta gratidão e alegria. Foi simplesmente demais.
Já sei, chuvas começam e terminam, enchentes baixam, a vida segue. Independente de todas as explicações lógicas, gosto de sentir o que senti, Deus respondendo a minha prece. Talvez, ou muito provavelmente, não só a minha. Vai saber quantos pediram coisas semelhantes a que pedi. O fato é que Elias, segundo Tiago 5.17e18, era homem sujeito as mesmas paixões que eu e você. Orou e não choveu. Depois orou e choveu. Descrevendo assim parece uma fé romântica. E é. Uma fé que crê. Nunca mais vou esquecer o túnel JK. Passou a ser o meu mar vermelho. As águas baixaram e passei a pneus enxutos. É bom confirmar antigas verdades. Quando a gente ora, sempre surge a luz no fim do túnel.
Paz!
Pr. Edmilson Mendes
Edmilson Ferreira Mendes é teólogo. Atua profissionalmente há mais de 20 anos na área de Propaganda e Marketing. Voluntariamente, exerce o pastorado há mais de dez anos. Além de conferencista e preletor em vários eventos, também é escritor, autor de quatro livros: "Adolescência Virtual", "Por que esta geração não acorda?", "Caminhos" e "Aliança".
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