A fala de um procurador do Ministério Público de Minas Gerais ganhou visibilidade nos últimos dias. Com todas as letras e total insensibilidade para com a situação da esmagadora maioria dos brasileiros, ele desdenhou de seu salário de 24 mil reais, taxando-o de “miserê”. Na sua fala chega a dizer que terá de baixar seu padrão de vida, passará a gastar com cartão de crédito apenas 8 mil reais, pois 20 mil já não dá.
Miserê significa uma situação de pobreza, miséria, penúria. Diante de milhares de memes, críticas e protestos indignados, conclui-se que praticamente 100% da opinião pública discorda do procurador quanto a ele estar levando sua vida num “miserê”.
Sim, ele foi possivelmente gravado sem saber e teve o áudio de sua fala tornado público sem sua aprovação. Sim, como ele, no privado, alguns de nós fala coisas que não devia e certamente não falaria publicamente. Sua fala pode ter sido “só” um desabafo, uma brincadeira de mau gosto, um deboche, um abuso, uma ofensa, um destempero, uma infelicidade num momento de fúria e injustiça. Não sabemos exatamente o que foi e qual a motivação. Mas foi ruim, muito ruim.
Neste Brasil com tantas desigualdades, com tanta corrupção, com tantos desempregados, com tanta dor e sofrimento, qualquer pessoa que receba 24 mil reais por mês está automaticamente colocada na roda dos privilegiados, afinal, poucos atingem tais ganhos e, os que atingem, deveriam trabalhar honesta e respeitosamente sem proferir palavras ofensivas aos demais, afinal, deixando de lado a polêmica, estamos cercados de miseráveis por todos os lados, gente que de fato vai tocando a vida num miserê.
“Se esperamos em Cristo só nesta vida, somos os mais miseráveis de todos os homens.” Paulo, em 1º Coríntios 15:19. Já não se fala com tanta ênfase como se falava sobre a volta de Cristo. Entretenimentos, benesses, prazeres limitadamente carnais, realizações pessoais, conquistas passageiras, enfim, tudo isso ilude e seduz o homem que vai ficando satisfeito com Cristo apenas nesta vida.
“Como dizes: Rico sou, e estou enriquecido, e de nada tenho falta (e não sabes que és um desgraçado, e miserável, e pobre, e cego, e nu).” Jesus, escrevendo à igreja de Laodiceia em Apocalipse 3:17. Nesta carta Jesus critica veementemente a total falta de utilidade daquela igreja, não era nem fria, nem quente, era morna, digna de ser vomitada por Ele. Além de improdutiva, era arrogante, se achava. O quadro desesperador de sua miséria fica evidente na cena final, quando vemos Jesus do lado de fora, batendo na porta e pedindo pra entrar. Inconcebível! O dono da igreja não tinha lugar do lado de dentro.
Estamos vivendo o fim de uma era. A fala infeliz do procurador de Minas também revela a miséria atual nas muitas igrejas. Gente gulosa, que quer pirotecnias espirituais em todo o tempo, que quer milagres materiais toda hora. Agora o mais incrível, são pessoas que recebem favores espirituais todos os dias, alimento, família, trabalho, saúde, amigos, irmãos, vida e, mesmo assim, nunca demonstram satisfação, nunca agradecem, apenas pedem, pedem e pedem.
Cuidado! Confiar em riquezas é como abraçar misérias: “Há uma espécie de pobreza espiritual na riqueza que a torna semelhante a mais negra miséria”, Eurípedes. Nessa altura do texto, Paulo nos ajuda, como ele, também somos miseráveis pecadores que não conseguem se livrar de erros, maldades e falhas. Mas também como ele, em Cristo somos mais que vencedores, porque uma vez nEle, deixamos a miséria para finalmente conhecer as riquezas da glória que se revelará a cada um de seus filhos.
Edmilson Ferreira Mendes é teólogo. Atua profissionalmente há mais de 20 anos na área de Propaganda e Marketing. Voluntariamente, exerce o pastorado há mais de dez anos. Além de conferencista e preletor em vários eventos, também é escritor, autor de quatro livros: '"Adolescência Virtual", "Por que esta geração não acorda?", "Caminhos" e "Aliança".
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