O deus Maradona

O deus Maradona

Fonte: Atualizado: sábado, 29 de março de 2014 às 3:23

Estamos fora da Copa. Agora é só guardar bandeiras, camisas e aguardar 2014. A tristeza e o choro se espalharam por toda nação. Mas brasileiro não desiste nunca e encontra motivo para rir sempre. No domingo já ouvi de um irmão, ''É como diz o Salmo 30.5, o choro pode durar uma noite, mas a alegria vem pela manhã. Choramos na sexta, mas no sábado nos alegramos com a derrota da Argentina!''. Decepções e surpresas, tristezas e alegrias, são combinações sempre presentes no futebol.

A derrota dos hermanos não me chamou tanto a atenção, e sim a declaração de um torcedor argentino após a desclassificação de seu país. Perguntado se ele estava bravo com Maradona, sua resposta foi seca e direta: ''De forma alguma! Maradona é deus, como eu poderia ficar bravo com deus?''. A seguir, exibiu para o repórter seu bonequinho do Maradona, envolto num terço, e o beijou. No campo das brincadeiras, muitos argentinos dizem que Pelé é rei, mas Maradona é Deus, portanto incomparável e insuperável.

Segundo várias reportagens, existe na Argentina a igreja dos seguidores de Maradona, os maradonianos. Até que ponto é fé ou simples brincadeira, não sei. Contudo, seja como for, não deixa de ser bizarro e folclórico, colocando ainda mais combustível na rivalidade no estilo vale-qualquer-coisa para a minha torcida ser mais original e provocativa que a outra.

E o deus daquele torcedor? O que dizer? Seja fé ou brincadeira não importa, cada um escolhe a quem quer seguir, servir e adorar. Porém, mesmo que numa grande brincadeira, aceita por uns e condenada por outros, sua resposta deve ser observada.

Para um fanático torcedor, ser desclassificado de uma Copa com transmissão ao vivo para o mundo inteiro, e perdendo de quatro a zero, é humilhação demais, é certeza de chacotas por parte de todos os adversários, é um vexame esportivo em escala global. Mesmo assim, com tantos e fartos motivos, seguindo a lógica do torcedor entrevistado, não tem como ficar bravo com Maradona, pois como é deus, não existe a menor possibilidade de se ficar bravo com ele.

Deixemos de lado o campo do futebol e pensemos no campo da vida. Quantas tragédias imprevisíveis, resultados inesperados, injustiças por parte dos juízes que friamente julgam nossos atos. Quanta torcida contra, notícias mentirosas e caluniosas nas mesas redondas freqüentadas por parentes e amigos invejosos e inconseqüentes. Quantas faltas violentas, falta de apoio, de afeto, de perdão. Enfim, quantos motivos têm levado um batalhão de cristãos e esbravejar contra Deus. Afinal, como Deus permitiu tais e tais eventos injustos, traidores e sofredores na minha vida? Como? Questionam cheios de razão os bravos e indignados com Deus.

O lamento, o desabafo, a indignação, o choro, a decepção, tudo isso está presente na literatura bíblica. São sentimentos legítimos em seres humanos autênticos nos seus altos e baixos. Existe, no entanto, uma pedagogia na dor. Lamentos, com toda a carga de decepção, revolta e injúria, podem e devem ser levados a Deus que, no seu tempo e soberania, tratará. Teremos resposta para tudo? Não sei. Mas Deus pode ouvir e ver meus gritos, gemidos e lágrimas, que são provocados por eventos que não entendo, não concordo e não aceito, e só. Não dirijo gemidos, gritos e lágrimas contra Deus, mas para Deus, pois ainda que não me responda, me consola, me conforta e me acalma.

É difícil dar razão para um argentino! Óbvio, não se trata de dar razão para o fato de seguir um deus tão caricato como Maradona, mas para o fato de que não existe condições de ficarmos bravos com Deus. Afinal, depois de tanto questionar as razões para o seu sofrimento, continuamos em silêncio diante das perguntas que Jó ouviu da parte de Deus: ''Onde estavas tu quando eu fundava a terra? Fazê-mo saber, se tens inteligência. Quem lhe pôs as medidas, se tu o sabes? Ou quem estendeu sobre ela o cordel?''. Jó 38.4 e 5.

Já experimentei vários tipos de dores, desertos e sofrimentos. Tudo mudou quando olhei para a cruz e vi que meu Senhor passou por tudo isso e muito, muito mais. E sempre que sofro e choro, sinto que Ele também sofre e chora comigo. Mudemos de atitude. Nada de braveza contra o Criador, somente gratidão por um Deus assim, que nos ama, nos preserva e por fim triunfará interferindo em nossa história tão carregada de interrogações. Creia, se aproxima o tempo das exclamações, o tempo de dizer Este é o Senhor que aguardávamos! Agora estou começando a entender!...

Paz!

Edmilson Ferreira Mendes   é teólogo. Atua profissionalmente há mais de 20 anos na área de Propaganda e Marketing. Voluntariamente, exerce o pastorado há mais de dez anos. Além de conferencista e preletor em vários eventos, também é escritor, autor de quatro livros: '''Adolescência Virtual'', ''Por que esta geração não acorda?'', ''Caminhos'' e ''Aliança''.

Contatos com o pastor Edmilson Mendes:

www.mostreatitude.com.br  

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