O mundo gospel só tratou um assunto nas últimas horas. Teve de tudo, gente julgando, gente condenando, gente absolvendo, gente perdoando, gente detonando. Tudo por conta da notícia que veio à tona divulgando o uso de drogas pela cantora Daniela Araújo. Foram divulgados áudios nos quais fica exposto o uso de drogas por ela. Vale dizer que ela até o momento que este texto é escrito não se manifestou, portanto, ainda não dá para se afirmar que é de fato ela quem fala na gravação.
Talento inegável. Capacidade de escrever letras profundas e claras como poucos. Bela voz. Baixa estatura. Um dom natural para compor músicas que inspiram, animam, acalmam, edificam, quebrantam, ensinam, exortam, motivam, convertem. Coragem para encarar desafios, dificuldades e até inimigos. Habilidades artísticas reconhecidas e admiradas por milhares e, de repente, por conta de um passo mal calculado, tudo é colocado a se perder, por que Davi?
Você não leu errado. No lugar do nome da Dani coloquei o nome Davi. Volte e leia o parágrafo novamente, todas as características se encaixam tanto para um quanto para outro. E só. Afinal, todas as proporções precisam ser guardadas, o rei Davi é um gigante encravado para sempre na narrativa bíblica, a Dani é somente uma artista do nosso tempo, do nosso Brasil. Mas mesmo assim, o rei cobiçou, adulterou e assassinou, fez mal a ele e ao próximo. Se retirarmos o palácio, a riqueza, a glória e toda a pompa, restarão muitas semelhanças entre as fraquezas de ambos.
Por que, Dani? Pense em quantas pessoas gostariam de ouvir uma resposta a esta pergunta. Pessoas legítimas como pais, amigos mais chegados que irmãos, o Pai, o Filho, o Espírito. Talvez essa resposta nunca aconteça. Talvez a própria Dani não tenha resposta. Talvez essa resposta nem seja necessária, já pensou que Jó morreu sem saber porque foi provado? Na complexidade de momentos assim, o que menos existe são respostas fáceis.
Numa das mais belas letras que a Dani escreveu, a música Guia-me, parece que pra ela mesmo foi que escreveu: “Cada um por si, todos por nenhum; Não param pra pensar por momento algum; Fruto da vaidade, terra de ninguém; Ideias pela metade, passa tempo de alguém.” Ah, mais ela se inspirava através de drogas, protestam alguns, não sei, só ela pode dizer como se inspirava. Pense nas trapalhadas de Salomão, de Jacó, de Sansão, do filho pródigo, de Pedro, de Adão, pensou? Quantas lições, mensagens, livros e músicas já inspiraram? Entenda, os erros destes caras não os desqualificaram para o reino, para a missão, para serem alvos da inexplicável Graça.
Já pensou se todas as nossas conversas fossem gravadas e publicadas? Nossos pensamentos? Nossos desejos do coração enganoso que bate em nós? Já pensou? Davi enfrentou as consequências de suas escolhas. Eu enfrento as minhas. Você as suas. A Dani, como qualquer um de nós, as dela. Deixemos as consequências nas mãos de Deus, só Ele consegue misturar e equilibrar misericórdia, justiça, amor, longanimidade e perdão. E Ele, certamente já está cuidando de tudo. Como afirma Brennan Manning em muitos de seus livros, Deus enviou seu Filho com um amor furioso por cada desgraçado deste mundo, graças a Deus milhares de nós foram contados entre estes desgraçados e transformados pela Graça.
Mas se fomos transformados por que caímos de novo? Então nossa conversão foi falsa? Não! Como não foi falsa a palavra sobre o menino Davi quando foi ungido, afirmando que desde aquele dia o Espírito do Senhor era sobre ele. Como não foi falsa a conversão de Paulo, mesmo ele admitindo com todas as letras a guerra titânica entre o bem e o mal no seu coração. Quando Jesus ordena que se perdoe até setenta vezes sete, Ele o faz porque tem autoridade para mandar perdoar, afinal, Ele dá todo dia o exemplo, insistindo em perdoar de novo, e de novo, e de novo caras como eu, como você.
O problema das nossas quedas é que para cair num abismo basta um passo, mas para sair do abismo o esforço é colossal. Por que, Dani? Não precisa responder, sei que você sabe quem pode aliviar cargas e carregar nossos fardos pesados. Não te conheço, mas sei que tem muita gente que te conhece, te ama e está aí para te ajudar a sair dessa.
Para finalizar, sobre amar e julgar, por estes dias postei o seguinte texto: Precisamos ser “despacitos” no julgar e “apresurados” no amar. A primeira palavra significa devagarinho, a segunda significa apressado. Não caia no discurso fácil que não devemos julgar lançando mão de alguns versículos isoladamente, a Bíblia tanto mostra o perigo quanto a necessidade de filtros espirituais e coerentes no julgamento, mas este seria papo para outro texto. Sobre o amor não preciso nem falar, é o mandamento cardeal e pilar que dá sentido ao evangelho. Na balança da vida, portanto, antes de sair perguntando “por que?” a tudo e a todos, ou ainda “Para que?”, que tal silenciarmos em intercessão e confiança nAquele que tudo vê, soluciona e dirige, exatamente o Deus do Salmo 46:10, “Aquietai-vos e sabei que eu sou Deus.”
Pr. Edmilson Mendes
Edmilson Ferreira Mendes é teólogo. Atua profissionalmente há mais de 20 anos na área de Propaganda e Marketing. Voluntariamente, exerce o pastorado há mais de dez anos. Além de conferencista e preletor em vários eventos, também é escritor, autor de quatro livros: '"Adolescência Virtual", "Por que esta geração não acorda?", "Caminhos" e "Aliança".
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