Respeito sua fé. Mas, por favor, cale-se.

Respeito sua fé. Mas, por favor, cale-se.

Fonte: Atualizado: sábado, 29 de março de 2014 às 03:29

Jornalistas, cronistas, formadores de opinião, imprensa, a maioria deles resolveu formar uma patrulha para censurar o comportamento de alguns futebolistas na comemoração do gol, as orações no gramado, os cultos nas concentrações. Para alguns estes futebolistas estão forçando a barra, para outros trata-se de uma pregação oportunista, afinal, jogo é jogo, religião é religião. Seja qual for o motivo para a censura, a idéia embutida traz um conceito mais ou menos assim: Respeito sua fé. Mas, por favor, cale-se.

Concordo. Existem péssimos testemunhos e falatórios inconvenientes. Mas eles existem para todos, não somente para jogadores de futebol. Péssimo testemunho e falatório inconveniente existem entre advogados, médicos, pedreiros, policiais, domésticas, professores, lixeiros, padres, ateus, pastores, engenheiros, funcionários públicos, protestantes, católicos, espíritas. O contrário, ótimo testemunho e palavras equilibradas ditas na hora certa, é óbvio, também existem para todos. Entendido. Porém esqueça. O que vale é o conceito que vai se espalhando: Respeito sua fé. Mas, por favor, cale-se.

Tolerância, esta é a palavra do momento. Não sermos tolerantes é o mesmo que sermos politicamente incorretos, deslizando para o absurdo da intolerância. Intolerância é para preconceituosos, para gente atrasada. O jogo de palavras, como você vê, é acirrado. Temos que tolerar, porém nos rápidos segundos de uma espontânea comemoração não somos tolerados. Repetindo, algumas comemorações dos evangélicos acho bizarras, bregas, inconvenientes, é minha opinião. Mas daí a proibir, fazer com que sumam do planeta bola vai uma enorme distância. Já sei, já sei, não posso esquecer a voz do Big Brother que insiste em dizer: Respeito sua fé. Mas, por favor, cale-se.

Há décadas artistas e políticos, apenas para citar dois segmentos, vêm assumindo suas preferências publicamente. Casam, descasam, aprovam, desaprovam, fazem apologia para o aborto, a maconha, o sexo sem compromisso, banalizam suas músicas, divulgam suas crenças, fazem e acontecem nos palcos, nas tribunas e nos fóruns da vida. Enquanto no anonimato, sem recursos materiais ou poderes meramente humanos, homens e mulheres comprometidos com o Criador da vida, vêm dobrando os joelhos e erguendo mãos santas, conquistando, expandindo, crescendo. E mesmo assim, afrontados com o descontrole do pecado e sofrendo as ofensas deste velho mundo, esse grupo de anônimos seguiu e segue tolerando, amando e simplesmente oferecendo uma alternativa, um caminho que amorosamente propõe: Aceite Jesus! Somente se você quiser, aceit... Ops! Já ouvi: Respeito sua fé. Mas, por favor, cale-se.

É verdade. Hoje, alguns segmentos evangélicos já detém os tais poderes meramente humanos. Dentre estes, alguns se perderam na sedução do poder, esquecendo-se que poderes humanos passam, se corrompem, acabam. Assim, de tempos em tempos assistimos deprimentes disputas de poder, onde a massa é manipulada e bajulada na sua boa fé, afinal, é ela que gera a grana, o patrocínio, o consumo, a renda, a audiência. Numa enganação recheada de ataques, explicações dúbias e hipócritas, tudo acompanhado por debochados aplausos do inferno. Se vivesse hoje, Elias se assustaria, mas certamente também hoje, ouviria a voz inconfundível de Deus afirmando: "Calma! Existem milhares que não se dobraram para este mundo com todos os seus deuses. Anime-se! Levante-se! A caminhada continua!". Que bom! Tem muita gente com uma fé simples, sincera, tolerante, suportando a intolerância dos demais em relação a sua insistente fé, suportando a dor, o sofrimento, a escassez, assim como se alegrando na prosperidade e nas realizações, e, em todas as situações sempre pronunciando a frase ensinada pelo apóstolo: "Posso todas as coisas naquele que me fortalece". Lindo, diz a militante patrulha, repetindo o conceito: Ok, respeito sua fé. Mas, por favor, cale-se.

Semana passada beijei, abracei e vibrei com minha mãe, foi aniversário dela. Também me emocionei por um amigo que finalmente viu sua libertação chegar. Soquei o ar com a vitória do meu time. Me comovi ao ver a alegria de uma irmã de fé por ter tido sua esperança renovada. Em todos esses momentos, ache você estranho ou não, até na vitória do meu time, me alegrei em Deus. Mas na semana passada também visitei uma irmãzinha de 86 anos com insuficiência respiratória, enfrentei um pronto socorro de periferia repleto de gente com semblante triste, fraco, doente, gente com máscara por causa da gripe, sofrendo em filas de espera por um leito e todos, desesperadamente, lotados. Também nestes momentos, ache você estranho ou não, depositei minha fé e gratidão em Deus. Crente é assim. O time perde? Glória a Deus! Ganha? Glória a Deus. Para quem não vive a mística de uma fé sobrenatural é difícil, ou fácil, determinar que os jogadores evangélicos estão errados, estão extrapolando seus limites. Mas não se trata disso, a questão é que nossos momentos decisivos, alegres ou tristes, de derrotas ou vitórias, são voluntariamente colocados na presença de Deus. E a presença dEle, como Deus onipresente que é, domina todos os lugares, inclusive estádios. Ops! Ia me esquecendo, a sociedade tolerante com todos, me tolera com respeito, pelo menos com seu tipo de respeito, quando diz: Respeito sua fé. Mas, por favor, cale-se.

A malandragem dos boleiros, as escapadas das concentrações, as orgias pra lá de impublicáveis, sempre foram romanticamente poetizadas em livros, crônicas e reportagens. Ora virando ótimas piadas, ora virando música. Quase nunca recebem uma enfática crítica. Malandragem e péssimos exemplos, se a mídia não sabe – E ela sabe! Ô, se sabe! – também formam e convertem seguidores, também formam a sociedade na qual vivemos, pelo menos parte dela. Uma parte que quer levar vantagens, se dar bem aqui e agora, deixar a vida rolar, cada um cuidando do seu nariz e fazendo o que sua carne determinar. E os evangélicos? Por que querem comemorar exaltando a Jesus? Que péssimo comportamento destes evangélicos, diz a patrulha, é intolerável! Até porque, eu respeito sua fé. Mas, por favor, cale-se.

Quero deixar dois conselhos para esta voz que respeita a nossa fé, mas quer nos silenciar. O primeiro conselho vem da história. Desista de tentar fazer calar e limitar a determinados espaços a fé cristã, é simplesmente impossível. A pressão pode dar certo por um tempo, mas não dará certo por muito tempo. Todas as vezes que tentaram calar e limitar, a fé cristã só multiplicou. Mesmo que este "calar" e "limitar" venha embalado com o rótulo do "respeito". É óbvio que alguns evangélicos precisam aprender a respeitar e a dialogar com sua cultura e o seu tempo, mas esta cultura e este tempo também carece do mesmo em relação aos bons evangélicos, e têm milhares deles espalhando bênçãos por este Brasil. O segundo conselho vem da bíblia, foi dado por um não cristão. Os cristãos estavam crescendo e incomodando, tinha gente querendo fazê-los calar. Então, um sábio, que não praticava as mesmas crenças destes, chamado Gamaliel, definiu a situação: "Dai de mão a estes homens, e deixai-os, por que, se este conselho ou esta obra é de homens, se desfará. Mas, se é de Deus, não podereis desfazê-la; para que não aconteça serdes também achados combatendo contra Deus". Atos 5.38-39.

Paz!

Edmilson Ferreira Mendes é teólogo. Atua profissionalmente há mais de 20 anos na área de Propaganda e Marketing. Voluntariamente, exerce o pastorado há mais de dez anos. Além de conferencista e preletor em vários eventos, também é escritor, autor de quatro livros: '"Adolescência Virtual", "Por que esta geração não acorda?", "Caminhos" e "Aliança".

Contatos com o pastor Edmilson Mendes:

[email protected]

www.mostreatitude.com.br  

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