Amo colocar o pé na areia, sentar numa cadeira de praia, sentir o vento no rosto, o cheiro do mar e contemplar a linha do horizonte em alto mar. Um amigo me disse que, aquela linha do horizonte que a nossa vista alcança, está distante cerca de 80 km da praia. Segundo ele, num dia limpo com céu azul, é este o limite que nossa vista consegue enxergar. Como na minha admiração pela beleza do mar, para onde olharmos, a vida nos impõe limites.
Entre os limites da nossa visão, o maior deles é quando olhamos para pessoas. Somos campeões em julgamentos precipitados, injustos, confusos. Os primeiros conceitos que formulamos são obtidos da aparência, aqui, via de regra nos enganamos. Outros conceitos nós emitimos em função de informações atravessadas, sem comprovação, que nos são passadas, aqui, de novo, quase sempre quebramos a cara.
Todo ser humano tem uma história de erros e acertos, de lutas e aflições, de perdas e ganhos. Todo ser humano merece a oportunidade de ter suas razões, traumas, contextos, lágrimas, motivações e atitudes, sondados e testados pelos recursos do Espírito Santo, incansável conselheiro, consolador, ajudador e transformador de todos nós. Ele, e somente Ele, tem uma visão ilimitada a respeito de cada um de nós.
Esta foi a lição que Samuel aprendeu na casa daquele Belemita. Enviado por Deus, foi com a missão de ungir um dos filhos de Jessé para ser o futuro novo rei de Israel. Ao ver Eliabe, sua reação comprovou como é limitada a nossa visão. Samuel achou que aquele filho era o escolhido. Diante do engano causado pelo limite da visão, Deus interveio com estas palavras: "Não atentes para a sua aparência, nem para a altura da sua estatura, porque o tenho rejeitado, porque o Senhor não vê como vê o homem, pois o homem vê o que está diante dos olhos, porém o Senhor olha para o coração." I Samuel 16.7.
O legal desta história é que Samuel aprendeu na mesma hora sobre o limite da sua visão. Aprendeu que somente com submissão a Deus sua visão poderia se ampliar. Na sequência, todos os filhos de Jessé que estavam presentes, foram se apresentando. No entanto, a fala de Samuel deixava clara sua dependência da visão e aprovação de Deus: "Nem a este tem escolhido o Senhor!" Ou seja, não era Samuel quem iria escolher, mas o Senhor! Deus queria um rei segundo o seu coração. Outro detalhe, ao dar a ordem para Samuel ir à casa de Jessé, Deus foi junto, não o abandonou sozinho na missão. O mesmo princípio se aplica a nós, Deus não nos abandona depois das suas perfeitas ordens, Ele vai junto!
O rei escolhido estava no campo, além dos "limites da linha do horizonte" que Samuel era capaz de enxergar naquela situação. Era, aos olhos humanos, o mais improvável dos irmãos, o mais novo, inexperiente e, aparentemente, o mais fraco. Considerando o currículo e as características aparentes, não posso culpar Samuel, eu também teria errado. Mas posso aprender com Samuel. O que Deus viu que Samuel não viu naquele pastor de ovelhas? Deus viu o lugar onde se processa a metanoia, Deus viu o coração.
Na linguagem bíblica, na maioria das vezes que a palavra coração aparece, está se referindo ao homem na sua totalidade, pensamentos e emoções. Portanto, quando Deus olha para o coração, Ele olha o quanto de transformação de mente e visão, que é o significado mais direto para a palavra grega metanoia, já aconteceu e está acontecendo na vida daquele para quem Ele olha. Desempenhos públicos, chapinhas milimétricas, risos formais, topetes esculturais a base de gel, roupas bem cortadas, carros polidos, gramática irrepreensível, é tudo muito bom, mas não contam ponto para impressionar a visão de Deus. Como Samuel, também devemos aprender a lição: "Calma Samuel, vai devagar, a aparência de Eliabe não me impressiona. Aliás, nem perco tempo olhando para ela, eu olho o interior, o caráter, a bondade. Calma, eu mostrarei a escolha certa.".
Corações transformados tomam atitudes transformadas. Pude ver isto neste fim de semana. Estava no final de um evento que participei com o seguinte tema: "Metanoia, mentes transformadas influenciando vidas." A cena aconteceu no stand do sorvete. Três adolescentes, na minha frente, pediram para o senhor que atendia três casquinhas com sorvete de chocolate. Pronta a primeira, o Senhor entregou a casquinha na mão de um dos jovens, só que ele se enganou, e colocou sorvete misto, baunilha e chocolate. O jovem disse: "Nós pedimos só de chocolate!". O senhor, desconsolado, baixou a voz e disse: "Tudo bem, se não quiser, eu jogo e preparo outra casquinha...". Por intermináveis segundos o jovem olhava para o sorvete e para o senhor, para o sorvete e para o senhor, até que deu um brado: "Eu fico com o sorvete! Agora sou Geração Metanoia!". Todo mundo riu muito. Nisso, ele olhou para trás, me viu e se assustou: "Pastor! O senhor estava aí! Noutro tempo eu chutaria o balcão, agora não..!".
Sei que é só um simples e mísero sorvete. Mas gosto de acreditar que algo de bom aconteceu no coração daquele menino, que a metanoia do Senhor está se processando naquele coração. Afinal, se um sorvete "não é nada", e "não é nada" mesmo, que dizer das discussões e mortes nos trânsitos, nos bares, nas vilas, protagonizadas por gente comum, não por bandidos, e pelos motivos mais banais, ridículos e toscos? Não seriam estas mortes resultantes da falta de metanoia? De transformação?
Minha visão tem limites, a de Deus não. Eu tenho limites, Deus não. Para usufruir da ilimitada e transformadora visão de Deus, como Samuel, preciso submeter tudo o que vejo a aprovação do olhar de Deus, pois a palavra final é sempre dEle. E aí? Aceita uma casquinha com sorvete de baunilha e chocolate?
Paz!
Pr. Edmilson Mendes
Edmilson Ferreira Mendes é teólogo. Atua profissionalmente há mais de 20 anos na área de Propaganda e Marketing. Voluntariamente, exerce o pastorado há mais de dez anos. Além de conferencista e preletor em vários eventos, também é escritor, autor de quatro livros: '"Adolescência Virtual", "Por que esta geração não acorda?", "Caminhos" e "Aliança".
Contatos com o pastor Edmilson Mendes:
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