Ainda que não tenha lido nada a respeito de, ou de autoria de, já ouviu a célebre frase que dá título a um dos mais memoráveis sermões de Martin Luther King Jr.: "Eu tenho um sonho.". Sua luta era alimentada pelo sonho de viver num mundo marcado pela não violência, de amor para com o próximo e pelo fim do preconceito racial. Foi a pessoa mais jovem a receber o prêmio Nobel da Paz, em 14 de outubro de 1964. O dia do seu assassinato comoveu todo o país, a tal ponto que, até hoje, é o único feriado em homenagem a uma pessoa nos Estados Unidos.
A realidade atual tem se encarregado de inibir os sonhos. Famílias inteiras têm deixado de sonhar devido a outras necessidades mais imediatas: o aluguel, a comida, o salário, o remédio, enfim, o já, o agora. Penso que mesmo as durezas da atualidade não deveriam ter a capacidade de fazer cair nossa conexão com o sonho. Lembro-me quando meus filhos eram pequenos e diziam: "Pai, eu tenho um sonho...", e começavam a falar de brinquedos, bichos, passeios. Normalmente eu respondia: "Vamos ver, não sei se vai dar, vamos esperar...", lógico, eu já sabia que ía dar, mas queria surpreendê-los. Deus é Pai, sinto que Ele também gosta de ouvir sobre os sonhos de Seus filhos, assim como tem alegria de realizar aqueles que estão alinhados com os sonhos dEle.
A incapacidade de sonhar marca o início da morte em muitas famílias. Morre a alegria, a esperança, a comunhão, o prazer de estar junto. A ausência de sonhos prolonga um esquisito clima de velório, onde mortos vivos se relacionam mecanicamente sem qualquer emoção.
A família de Jesus acreditava em sonhos. Antes que as chacinas começassem, o anjo do Senhor apareceu em sonhos a José e disse: "Levanta-te, e toma o menino e sua mãe, e foge para o Egito, e demora-te lá até que eu te diga; porque Herodes há de procurar o menino para o matar." Mateus 2.13. A concepção de Jesus, você sabe, foi espetacular, a virgem concebeu! Aquela família vivia no centro do maior milagre que se tinha notícia. De repente o sonho. No sonho a orientação: vá para o Egito! Mas Senhor, por que o Egito? Não poderia ser um lugar melhor? Por que justo a terra onde nossos ancestrais foram escravos? Graças a Deus, essas perguntas são minhas, José e Maria não questionaram, o versículo seguinte diz que obedeceram imediatamente.
O tempo passou. As coisas mudaram. Herodes, aquele que além de não sonhar ainda provocava pesadelo nos outros, morrera. Então o mesmo anjo do Senhor novamente aparece em sonho a José e diz: "Levanta-te, e toma o menino e sua mãe, e vai para a terra de Israel; porque já estão mortos os que procuravam a morte do menino." Mateus 2.20. De novo, nada de questionamentos, o versículo seguinte informa que a atitude foi de pronta obediência.
Com medo e tristeza vai-se ao Egito. Com alegria e júbilo volta-se para Israel. Mas tanto para um quanto para outro lugar se vai com confiança. E por que se vai? Porque a capacidade de sonhar não fora perdida, muito menos a capacidade de identificar o anjo do Senhor portando uma mensagem que vem do Senhor.
Esta narrativa me impressiona. Um império contra um menino, um carpinteiro e uma camponesa. No fundo, esta é a nossa história. Pense na sua família, que recursos ela tem para se defender contra os ataques dos impérios atuais? Nossos sonhos mais preciosos são atacados, afrontados, sufocados. Assustados, evitamos os temas que versam sobre os nossos sonhos. É como diz aquele velho ditado: "Em casa de enforcado não se fala em corda.". Em outras palavras, a tentativa é a de viver de aparências, fingindo serem verdade nossos sonhos de mentira. A mentira de que tudo vai bem, o casal vai bem, os filhos são obedientes, a paz reina, os abusos verbais não acontecem e uma nuvem celestial paira sobre a cabeça de cada um na casa! Quando, na verdade, em muitas famílias, o que se vive é a realidade denunciada por Cristo em forma de lares divididos, infestados por pessoas que poderiam receber o título de outra figura usada por Jesus, a de sepulcros caiados. Por fora a aparência limpa, branquinha. Por dentro vermes, bichos, morte.
Definitivamente, necessito conseguir gritar neste texto: Nossas famílias precisam voltar a S-O-N-H-A-R desesperadamente! Sonhos espirituais, inspirados unicamente por Deus. Sonhos que passem pelos exames, provas e contra-provas das escrituras, afinal, é o que o evangelista afirma após o primeiro sonho que citei: "Então se cumpriu o que foi dito pelo profeta Jeremias" Mateus 2.17. Após o segundo sonho que citei, novamente o evangelista tem o cuidado de investigar e nos informar a prova bíblica: "... e habitou numa cidade chamada Nazaré para que se cumprisse o que fora dito pelos profetas: Ele será chamado Nazareno." Mateus 2.23.
Sonhar ou morrer? O que você escolhe para sua família? A perseguição injusta, a ameaça de morte, o deserto, o Egito, a fragilidade daquela família frente ao império, a pobreza, enfim, nada impediu aquela família de sonhar. E por que? Porque José era um homem justo e Maria uma mulher bendita entre as mulheres. Estas palavras, "justo" e "bendita", nada tem a ver com mérito ou legalismo. Antes tem a ver com temor reverente, piedade, humildade, prazer em obedecer, ou seja, tem a ver com um relacionamento integral e sincero com Aquele que manda nos anjos, nos sonhos, nos caminhos.
Sonhar exige entrega, fé, sacrifício. É só aqui que a força da morte faz sentido e dá razão ao sonho. Com uma frase, Martin Luther King Jr. explica: "Se você não está pronto para morrer por alguma coisa, você não está pronto para viver." Se já existiu uma vida inspiradora de sonhos, esta foi a vida do menino Jesus. Menino que nasceu para transformar nossos pesadelos em sonhos através de sua morte na cruz. Esteja pronto para morrer por alguma coisa, quem sabe, por sua família! Morra para os impérios deste mundo, fuja da pornografia, dos esquemas duplos, dos bares e de tudo que possa matar você. Por sua família, morra. E então comece a viver os sonhos que os céus garantem para todos aqueles que escolhem sonhar os sonhos de Deus.
Paz!
Edmilson Ferreira Mendes é teólogo. Atua profissionalmente há mais de 20 anos na área de Propaganda e Marketing. Voluntariamente, exerce o pastorado há mais de dez anos. Além de conferencista e preletor em vários eventos, também é escritor, autor de quatro livros: '"Adolescência Virtual", "Por que esta geração não acorda?", "Caminhos" e "Aliança".
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