Fogem os perversos, sem que ninguém os persiga, Provérbios 28.1. Com este texto bíblico começa o filme Bravura Indômita, dirigido por Joel e Ethan Coen. No melhor estilo faroeste, o filme tornou-se ótima opção para quem gosta do gênero. Com hinos da tradição cristã ao fundo, o filme procura passar o clima protestante reinante na América da época e o faz com eficiência.
O roteiro foca no desejo de vingança de Mattie Ross, uma garota de 14 anos. Seu pai fora cruelmente assassinado. Com determinação ela consegue a ajuda de um federal. Juntos saem por florestas e vales para caçar o assassino. Não vou estragar o filme, nem vou lhe adiantar se ela consegue ou não se vingar. Mas preciso lhe dizer que décadas depois, no final do filme, ela está sem um braço, resultado do ódio que a alimentou.
Mesmo não concordando com algumas coisas, gostei do filme. Trocaria o título para Vingança Indômita. Bravura, para mim, é algo bem diferente. Fracos se vingam. Fracos revidam. Fracos vivem em função de destruir o outro. Bravos dão a outra face, caminham a segunda milha e se enchem de coragem para andar na difícil rua que leva ao perdão.
A vingança habita em pessoas indomáveis. O perdão habita em pessoas que já tiveram o seu eu amansado e domado pelo Espírito. Vingança é carnal. Perdão é espiritual. Portanto a bravura verdadeira nunca é indômita, mas submissa a soberania do Pai.
Embora inspirado num romance e tratar-se, portanto, de uma obra de ficção, o filme tem o mérito de mostrar como a vingança pode dirigir o destino de uma vida, mesmo que seja de uma garota com apenas 14 anos de idade. Talvez esta ficção esteja mais próxima de nós do que gostaríamos. Olhe para os jovens que orbitam nas faixas próximas aos 14 anos, muitos estão convivendo com brigas, bebedeiras, capotamentos, acidentes, até mortes, tudo causado por escolhas, buscas e paixões indômitas.
Sim, os perversos fogem sem que ninguém os persiga. No entanto, faltou o filme oferecer a segunda parte do primeiro versículo de Provérbios 28: Mas o justo é intrépido como o leão. Intrépido significa valente. Nada de fugir das lutas da vida, antes é necessário ficar e enfrentar tudo com a valentia de um leão. Não seria a mesma coisa que a vingança? Não, não seria. Note que enquanto o perverso foge, a figura do leão está no texto para ilustrar o caráter de um justo. Ou seja, a valentia do justo se deve a sua conduta justa, que possibilita a ele não ter nenhum tipo de peso na consciência, portanto sem ter qualquer coisa a temer.
Tem muita gente perdendo braço por causa da vingança. Mas não só. Tem gente perdendo dignidade, bondade, fé, decência, amor, referência, enfim, tem gente perdendo a alma para sua própria indomável carne. Que essa gente desista deste caminho, pois as consequências ruins na vida não são obra de ficção, são reais e carregadas de lágrimas doídas. Canalize todos os desejos e sentimentos de vingança para uma bravura controlada, domada e orientada pelo céu. No processo, pode até ser que alguns venham a perder braços, mas jamais perderão o coração.
Paz!
Pr. Edmilson Mendes
Edmilson Ferreira Mendes é teólogo. Atua profissionalmente há mais de 20 anos na área de Propaganda e Marketing. Voluntariamente, exerce o pastorado há mais de dez anos. Além de conferencista e preletor em vários eventos, também é escritor, autor de quatro livros: ''Adolescência Virtual'', ''Por que esta geração não acorda?'', ''Caminhos'' e ''Aliança''.
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