Página 66, VejaSP de 9 de outubro de 2013. Foi neste espaço que me surpreendi com as seguintes informações: “Velório PET... o Hospital Santa Inês disponibilizou há um mês uma sala para o velório de cães e gatos. O espaço conta com mesa de granito para receber o corpo do animal, duas cadeiras, uma imagem de São Francisco de Assis e uma parede pintada com temática de céu e paisagem”. A média tem sido de cinco velórios por semana. E a média de permanência dos clientes no velório chega a seis horas.
Aquele surrado e antigo ditado “a vida tá difícil pra cachorro”, vem perdendo o sentido a cada dia. Para a maioria dos cachorros a vida está cada vez mais fácil e, pasmem, para a maioria dos humanos ela fica proporcionalmente mais difícil a cada dia. E como!
Não tenho nada contra cachorros. Muito pelo contrário. Gosto bastante deles. Os benefícios de se conviver com animais domésticos são muitos e vantajosos. Sensibilidades e afetos em crianças e até em adultos são naturalmente desenvolvidos e amadurecidos.
Em nossa casa temos. Eu sou da opinião que uma vez que você decidiu ter, tem que cuidar bem, afinal, é uma vida e uma criatura de Deus. Mas para tudo na vida há limites. Velório foi demais! Entendo o choro e a saudade do animal que morreu, pois acaba se criando um tanto de carinho na convivência, mas... um velório? Bem, se você aprova, eu respeito, não precisamos brigar.
O problema foi que ao ler não tive como não pensar nas milhares de pessoas que não têm onde cair mortas. Pensei nos velórios de humanos, onde poucos ficam seis horas velando o morto. Pensei nos inúmeros descasos que são praticados em relação a vida humana. Pensei nas pessoas que dariam tudo para serem tratadas pelo menos como cachorros.
Na mesma revista, uma reportagem fala sobre a febre atual em termos de brinquedo, a pelúcia de última geração, o robô-brinquedo Furby, vendido ao preço de absurdos R$ 400,00. O boneco fala português e muda de personalidade e humor dependendo da forma como é tratado, o que faz com que as crianças fiquem presas ao brinquedo a maior parte do tempo.
Complicado, muito complicado. Brinquedos e animais domésticos. São bons, são lúdicos, são importantes para o desenvolvimento, como já afirmei. Mas quando limites são ultrapassados corremos o risco de estarmos formando uma geração infantilizada e totalmente despreparada para a vida real.
Em relação a brinquedos é preciso pé na areia, mãos nas tintas, pega-pega, esconde-esconde, jogos recreativos, livros infantis, bons filmes e desenhos, contos, aventuras, passeios, bola, carrinho, boneca, bagunças com a família, histórias bíblicas, orações, louvores e, quanto a animais, para ficar bem claro, é preciso definir que bicho é bicho e gente é gente.
O projeto para desconstruir a família é gigantesco e agressivo no que visa inverter valores e fragmentar convicções. Todo dia, toda hora e de todas as formas insinuações claramente destruidoras são direcionadas a todos indistintamente. Seja num brinquedinho, numa tendência inofensiva da cultura PET ou nos conteúdos escrachados e deliberadamente perniciosos dos vários canais de comunicação, tanto eletrônicos, digitais, como impressos.
É. A vida tá fácil pra cachorro. Só para cachorros. O ser humano vai sendo engolido pelas marcas que definem esta geração: pluralidade, consumismo, racionalismo, secularismo, relativismo, hedonismo. Iludidos pelo brilho dos holofotes, muitos pensam que tudo esta melhorando e não percebem quão vazios vão ficando a cada nova pequena filosofia que a sociedade vai impondo, e passivamente vão aceitando como coisa normal. Como disse Chaplin, não somos máquinas, homens é que somos. E como tais devemos agir, vivendo criticamente única e exclusivamente para a glória de Deus.
Paz!
- por Edmilson Mendes
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